Cuidados para um bem viver

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Cuidados para um bem viver

Com envelhecimento da população e aumento de incidência de doenças crônicas, tratamentos paliativos ganham destaque

A MORTE AINDA É CONSIDERADA ASSUNTO DIFÍCIL de abordar, para muitas pessoas, inclusive para a maioria dos médicos. O que não entendemos é que ignorar ou tratar o assunto como tabu traz ainda mais sofrimento, especialmente durante o processo de terminalidade natural ou em caso de enfrentamento de doenças crônicas. É diante desse cenário que ganham destaque os Cuidados Paliativos (CP), que envolvem a busca pela qualidade de vida de todos os envolvidos, pacientes e familiares, mesmo que isso aconteça em uma situação de gravidade e no final da vida.
Na opinião de Homero Luis de Aquino Palma, médico de Família, mestre em Bioética, pós-graduado na área de Cuidados Paliativos e Atendimento Domiciliar e professor da graduação e pós-graduação da PUCPR/Curitiba, o cenário de Cuidados Paliativos (CP) no Brasil e no Paraná ainda tem muito a crescer. Segundo ele, esta é uma área de atuação que terá muita demanda nos próximos anos, principalmente devido ao envelhecimento populacional associado ao aumento das doenças crônico degenerativas. Um estudo recente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) afirma que em 4 anos Curitiba terá mais moradores acima dos 60 anos que pessoas até 14 anos, invertendo a pirâmide etá-ria do município. Esse é um dado que confirma a perspectiva de envelhecimento da população. “É muito importante o investimento nos Cuidados Paliativos (CP), uma vez que a população brasileira envelhece e, consequentemente, apresentará doenças que ameacem a continuidade da vida, necessitando, assim, de uma atitude voltada para sua qualidade de vida”, analisou. 

BENEFÍCIOS PARA TODOS

O investimento em Cuidados Paliativos traz benefícios para todos os envolvidos. Na análise de Palma, para os pacientes e familiares observa-se desde a diminuição dos períodos de internação, uso exagerado de medicações e também de solicitação de exames desnecessários, com potencial de malefícios aos pacientes em muitos casos, até o bem estar global (físico, social, psíquico e espiritual). Estudos mostram que os pacientes com doenças graves, fora de possibilidade de cura, vivem mais e com maior qualidade de vida quando submetidos aos Cuidados Paliativos.
“Com relação aos profissionais, observa-se que aqueles que possuem formação, trabalham em equipes multidisciplinares/interdisciplinares e que possuem estrutura (medicamentos e insumos) mostram-se muito satisfeitos com o trabalho em virtude de sentirem que podem ajudar o paciente de diversas formas, contribuindo em muito para
o seu bem-estar”, relatou. 

CENÁRIOS E ESTRUTURAS

Mundialmente, ainda segundo informações repassadas por Palma, em 2015, de acordo com pesquisa feita pelo Economist Intelligence Unit para avaliar os serviços de Cuidados Paliativos de 80 países, o Brasil ficou em 42º lugar, atrás do Chile (27º), Costa Rica (29º), Argentina (32º) e Panamá (31º). “Isso demonstra que ainda temos muito a desenvolver nessa área, apesar de acreditar que já obtivemos mudanças positivas após esse estudo. Pelo fato de a população viver mais, essa será uma necessidade crescente, a qual precisará de investimentos em infraestrutura, profissionais capacitados e gestão adequada”, avaliou.
No Brasil, entre as instituições que se destacam na área, segundo o médico, estão o Hospital do Amor (Bar-retos), o Instituto Nacional do Câncer (Rio de Janeiro) e Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE – São Pau-lo), dentre outros serviços que estão buscando aprimorar esse tipo de atendimento.
Recentemente, em novembro de 2018, o Sistema Único de Saúde (SUS) publicou a Resolução nº 41 de 31 de outubro de 2018, que visa garantir que essa prática seja ofertada para pacientes do sistema público que atendam os critérios diagnósticos que necessitem de CP. O Hospital Erasto Gaetner, que atende o SUS, é uma das instituições em Curitiba que já se preocupam com esses cuidados. “O hospital conta com equipe multidisciplinar muito bem treinada para atender pacientes oncológicos que necessitem desse tipo de cuidado”, avaliou Palma. Além desse hospital, Curitiba conta também com outros serviços que possuem equipes de Cuidados Paliativos no SUS, entre eles destaca-se o do Hospital Cajuru, Hospital de Clínicas do Paraná e Hospital do Idoso Zilda Arns.
Tanto o serviço público quanto o privado estão interessados nessa modalidade de cuidado, inclusive com investimentos para a organização das Redes de Atenção à Saúde, segundo informou o entrevistado. Entre as estruturas priva-das em Curitiba destaca-se o “hóspice” Valencis, local que possui excelente estrutura física e profissionais qualificados para o atendimento aos pacientes que precisem de Cuida-dos Paliativos. “Observo que ainda precisamos de muitos investimentos para ofertar um atendimento de excelência em todos os setores da saúde. Constato, principalmente, nos últimos anos, um movimento grande tanto dos profissionais de saúde quanto dos gestores, para ampliar o atendimento com esse foco de cuidado”, destacou. 

FORMAÇÃO 

Até pouco tempo, poucas universidades brasileiras possuíam os Cuidados Paliativos (CP) como disciplina. “Hoje já conseguimos encontrar algumas que trabalham desde cedo com os alunos a compreensão dos CP. A PUCPR em Curitiba, por exemplo, possui a disciplina na graduação e também na pós-graduação, com um curso de especialização em Medicina Paliativos e Cuidados Paliativos Multidisciplinar”, contou especialista e professor. Além desses cursos, a universidade oferta um mestrado em Bioética, área de atuação que auxilia muito os profissionais da saúde a tomarem as melhores decisões éticas juntos aos pacientes e familiares.

PRINCÍPIOS DOS  CUIDADOS PALIATIVOS

O paciente que necessita de Cuidados Paliativos (CP) possui uma doença grave, progressiva
e que ameace a sua vida. Os cuidados são baseados em protocolos, conforme descritos pela Organização Mundial da Saúde (OMS): 

1. Promover o alívio da dor e de
outros sintomas desagradáveis
2. Afirmar a vida e considerar a morte
um processo normal da vida
3. Não acelerar nem adiar a morte
4. Integrar os aspectos psicológicos e espirituais no cuidado ao paciente
5. Oferecer um sistema de suporte que possibilite ao paciente viver tão ativamente quanto possível até o momento da sua morte
6. Oferecer sistema de suporte para auxiliar os familiares durante a doença do paciente e o luto
7. Oferecer abordagem multiprofissional para focar as necessidades dos pacientes e seus familiares, incluindo acompanhamento no luto
8. Melhorar a qualidade de vida e influenciar positivamente o curso da doença
9. Iniciar o mais precocemente possível o Cuidado Paliativo, juntamente a outras medidas de prolongamento da vida, como quimioterapia e radioterapia, e incluir todas as investigações necessárias para melhor compreender e controlar situações clínicas estressantes

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