Gestão hospitalar é muito mais complicada do que você pensa

Gestão hospitalar é muito mais complicada do que você pensa

No HGU, a administração é feita pela própria diretoria executiva da Unimed Ponta Grossa, que conta com o apoio de três diretores designados e um gerente hospitalar. Da esquerda para a direita: Dr. João Felipe Lara Bueno (diretor clínico HGU), Dr. Rafael Pinto Rocha (diretor administrativo HGU), Dr. Eduardo Bacila de Sousa (diretor Financeiro Unimed PG), Dr. Antonio Alcides Klug Jr. (diretor Administrativo Unimed PG), Dr. Francisco Carlos de Moraes (diretor de Mercado e Desenvolvimento Unimed PG) e Dr. Rafael Francisco dos Santos (diretor-presidente Unimed PG).

Administrar recursos, gerir pessoas e entender de vários assuntos faz parte da rotina da administração dos estabelecimentos de saúde

Imagine uma empresa que fica aberta 24 horas por dia, 365 dias por ano e dentro dela funcionam outros estabelecimentos, como hotel, restaurante, faculdade e laboratório. Essa empresa multifunções chama-se hospital, onde cada peça tem que funcionar de forma simultânea e eficiente. Como administrar tudo isso?
Flaviano Feu Ventorim, presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) e diretor-executivo do Hospital Nossa Senhora das Graças, tem longa experiência na gestão de grandes hospitais e avisa que achar o equilíbrio não é fácil.
“A harmonização de toda essa atividade é um processo difícil e muito sensível. Além dos fatores internos, existe um complexo emaranhado de leis, que envolvem várias atividades, conselhos de classe, diversos sindicatos, fontes pagadoras, fornecedores que são independentes e não são alinhados. Portanto, administrar um hospital é administrar conflitos em boa parte do tempo”, comenta.

Desafios
No dia a dia dos administradores hospitalares, existe uma longa lista de desafios, como equilíbrio econômico-financeiro, gestão de pessoal e captação de investimentos para acompanhar a evolução do mercado de saúde. José Álvaro da Silva Carneiro, diretor corporativo do Complexo Pequeno Príncipe, é gestor de grandes companhias há décadas e reconhece que o trabalho não é simples. “Posso afirmar que sou uma pessoa experiente tanto na área de serviços quanto na área da venda de produtos, mas nunca me aproximei de uma coisa tão difícil e complexa de ser administrada”, conta.
Se grandes administradores avaliam a tarefa dessa forma, como ficam os profissionais da saúde? O médico Rafael Rocha, diretor-administrativo do Hospital Geral da Unimed Ponta Grossa (HGU), que conta com UTI adulta e neopediátrica, emergência 24 horas, farmácia e realiza exames eletivos, acredita que a faculdade de medicina falha ao não oferecer nenhum tipo de disciplina relacionada à gestão hospitalar.
“Nós não temos nenhum tipo de instrução, não só com relação à gestão de um hospital, mas com relação à noção do mercado de saúde, aquilo que a gente vai encontrar quando se forma ou sai da residência. A gente aprende tudo sobre o paciente, sobre o imenso poder que nós temos no atendimento a um paciente, mas não conhecemos todo o resto”, ressalta.

Importância
Para Ventorim, a forma como um hospital é gerido se transforma em um grande diferencial. Para ele, um hospital bem administrado traz aos profissionais segurança para exercer sua atividade, o que vai agregando mais valor para o paciente.
No Hospital Pequeno Príncipe, o diferencial se apoia na cultura da organização. Segundo Carneiro, ela é baseada em quatro pilares: excelência em saúde; organização social e captação de recursos; uma terceira que são todas as questões envolvendo dignidade, compaixão, empatia e ética; e, a última, a sustentabilidade econômico-financeira.
“Esse combinado, que indica o processo de gestão do Pequeno Príncipe, certamente é um diferencial no mercado e traz visibilidade nacional para a forma que a gente atua, nosso jeito de ser”, enfatiza.
Em Ponta Grossa, a gestão aposta na autonomia para alcançar bons resultados e obter vantagem competitiva. O gerente hospitalar do HGU, Jorge Soistak, avalia que é importante as organizações proporcionarem autonomia para as áreas operacionais, em virtude da complexidade. E isso se torna mais relevante em um hospital.
“Cada área tem que ter autonomia, dentro de suas alçadas de gestão, para resolver com eficácia as respectivas demandas em níveis operacional e tático. Isso se torna mais relevante internamente na cooperativa, pois além da busca constante do equilíbrio econômico financeiro, temos em nosso DNA a missão e a visão de uma empresa cooperativa que preza pelo atendimento da qualidade dos pacientes e clientes”, aponta.

Futuro
Soistak ainda acrescenta outro ponto importante dentro da gestão hospitalar: a tecnologia, ferramenta essencial na otimização de recursos e da gestão. “Reduzir custos muitas vezes representa menor qualidade ao paciente. Desse modo, a melhor alternativa para otimização de processos é investir cada vez mais em soluções tecnológicas, que auxiliem na geração de informações para gerenciamento de toda a estrutura organizacional do hospital e, com isso, seja possível atender ao jeito de cuidar Unimed”, explica.
De acordo com Carneiro, nos últimos anos, os profissionais de saúde tiveram que se dedicar muito às funções administrativas, e os sistemas integrados de gestão, o monitoramento remoto de pacientes e os prontuários eletrônicos, por exemplo. Eliminando esses afazeres, os profissionais poderiam se dedicar mais aos pacientes.
“É muito importante o estágio em que a gente está porque a tecnologia da informação é um elemento importante para chegar na medicina personalizada, de precisão, na qual a TI tem um papel importante, tanto quanto a evolução do diagnóstico”, conclui.

Dificuldade
Como se não bastasse, os gestores ainda precisam lidar com custos maiores que as receitas. No Hospital Pequeno Príncipe, 60% dos atendimentos são remunerados com valor abaixo das despesas gastas com o tratamento. “O desafio, no nosso caso, é continuar atendendo um conjunto de pacientes que não paga o que custa. Sempre estamos correndo atrás de recursos, para manter o equilíbro, nem deixar de lado a promoção de mais qualidade e a busca de contemporaneidade na assistência e no diagnóstico ”, destaca Carneiro.
Gastar o recurso de maneira inteligente também é meta no sistema suplementar. Para o gerente do HGU, o paciente está sempre em primeiro lugar, mas isso não significa necessariamente um gasto enorme. “Ter qualidade assistencial não significa que se vai gastar quantias exorbitantes de dinheiro para resolver determinado problema. Significa que se vai gastar da maneira mais eficiente possível e aí é que está a grande diferença”, avalia.
Nesse cenário, o presidente da Femipa reforça que a administração hospitalar é fundamental para a sobrevivência das instituições e um planejamento estratégico bem elaborado, aliado à tomada de decisões acertadas, é a base para a perenidade.

José Álvaro Carneiro, diretor executivo do Hospital Pequeno Príncipe, maior complexo hospitalar pediátrico do Brasil
Fachada do Hospital Geral Unimed (HGU), hospital de alta complexidade que conta com mais de 100 leitos e realiza mais de 800 cirurgias por mês. A administração do hospital não é responsável apenas pelo tratamento de saúde dos pacientes, ainda é preciso cuidar de muitos outros assuntos, como gerenciar obras na infraestrutura.

Flaviano Feu Ventorim, diretor executivo do Hospital Nossa Senhora das Graças e presidente da Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná
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