Quando chegarmos ao ano de 2035, teremos mais de um milhão de médicos em atividade no Brasil – quase o dobro do número atual. Além de numerosa, a população de médicos será mais feminina, mais jovem (85% com menos de 45 anos) e, provavelmente, mais desigualmente distribuída no país. Essa é a projeção apresentada pelo estudo “Demografia Médica no Brasil 2023”, elaborado pela Universidade de São Paulo (USP) e pela Associação Médica Brasileira (AMB).
De acordo com Thais Duarte, consultora da TJD Comunicação e Desenvolvimento, com mais de 20 anos de atuação na área da saúde, é importante olhar para essas estimativas agora, para que cada Singular e o Sistema Unimed como um todo possam se preparar para a mudança de cenário que já está em curso. E essa adaptação passa por um elemento central: a compreensão das diferentes necessidades e expectativas dos médicos, a partir da geração da qual fazem parte.
A consultora explica que as pessoas da Geração X (que hoje possuem entre 41 e 56 anos) e os millennials da Geração Y (entre 28 e 40 anos) estão mais acostumados com o discurso da meritocracia e tendem a ter comportamentos mais individualistas e imediatistas, diferente do pensamento em médios e longos prazos mais comuns entre os integrantes da Geração Silenciosa (acima dos 75 anos) e dos Baby Boomers (entre 57 e 75 anos). Além disso, ela afirma que é preciso ficar de olho nos comportamentos da Geração Z, dos nascidos entre 1995 e 2010, e da Geração Alfa, dos nascidos a partir de 2010 e que estarão em formação profissional na próxima década.
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As diferenças no sentimento de urgência de retorno financeiro têm sido uma das principais dificuldades da coexistência geracional dentro do modelo cooperativista. “Esse é um dos desafios que a gente tem hoje quando vai tratar contenção de custos e de sinistralidade, por exemplo, pois temos um modelo de remuneração no qual quanto mais o médico produz, mais ele ganha”, observa Thais Duarte. Por isso, na visão dela, a educação cooperativista é tão importante, para que todos tenham consciência da necessidade de equilíbrio e das consequências. Isso engloba desde a clareza de sintonia de valores no processo de ingresso de novos sócios, até a prática de compartilhar e debater os resultados financeiros junto aos cooperados, com o detalhamento de faturamento e despesas, para que possam consolidar a mentalidade de sócio.
Nacionalmente, a Confederação mantém um Programa de Gestão e Relacionamento com os cooperados, com estratégias para ouvir suas demandas, fortalecer o sentimento de pertencimento e conhecer melhor seus contextos e percepções de valor.
Em contrapartida, a consultora ressalta a importância dos cooperados também fazerem, constantemente, esse exercício de reflexão e escuta de si mesmos, para analisar o momento de carreira e de vida. E se perguntarem se suas escolhas e planos seguem alinhados com os princípios do cooperativismo e responsabilidades de sócio. Dessa forma, a cooperativa não precisa ser vista como um vínculo firmado uma única vez, com validade eterna. E sim como um compromisso que deve ser reafirmado de tempos em tempos, uma escolha feita conscientemente, enquanto fizer sentido e trouxer ganhos para ambos os lados da sociedade.
O exemplo de Cascavel
De Cascavel vem um bom exemplo de como os cooperados podem unir forças para reduzir a sinistralidade (relação entre custo e receita) da operadora. Uma sinistralidade muito alta impacta, negativamente, a saúde financeira da cooperativa e, em última instância, também, os honorários dos próprios médicos. O desempenho operacional e econômico foi o tema da 40ª Assembleia Geral Extraordinária (AGE), realizada em setembro de 2023, na cidade, com a presença de mais de 400 cooperados e aspirantes a cooperados. Na ocasião, foi apresentado o aumento das despesas dos últimos cinco anos e a situação crítica encarada atualmente, tendo em vista que essa Singular chegou a atingir um índice de sinistralidade de 95,7%, no segundo trimestre de 2023, quando o ideal fica em torno dos 82 a 85%.
Luiz Sergio Fettback, diretor-presidente da Unimed Cascavel, explica que os efeitos trazidos pela pandemia da Covid-19 têm sido mais duradouros que o esperado e os resultados da cooperativa não voltaram aos patamares anteriores. “O que nós procuramos fazer? Primeiro, identificar os pontos mais vulneráveis que nós tínhamos dentro da Unimed Cascavel. Identificados, nós começamos a agir nesses pontos, especialmente nos serviços de imagem e de oncologia. Nós conversamos com os prestadores para a adaptação dos fluxos, chamamos alguns serviços que destoavam nos gastos gerados pelas solicitações de exames e começamos a perceber um bom resultado”, conta.
Embora ainda estejam no caminho para alcançar um resultado excelente, Fettback acredita que a Assembleia foi essencial, como uma balizadora para saber se as iniciativas propostas pela gestão estavam sendo compreendidas pelos cooperados. “Tanto que muitos deles nos deram uma devolutiva dizendo que foi uma assembleia necessária, diferente e boa. Não foi uma AGE deliberativa, apenas informativa, mas que teve uma presença em peso dos nossos cooperados e uma compreensão quase em sua totalidade”, destaca o diretor-presidente.
Para Fettback, um dos principais aprendizados que precisa ser levado em consideração é que os cooperados querem ouvir e ser ouvidos. A experiência de “olho no olho” da Assembleia foi importante nesse sentido. E também para reforçar o papel dos médicos na mudança de cenário, por meio de ações que contribuem para a sustentabilidade da cooperativa. “Nós informamos com clareza para todos a nossa situação. São notícias sem maquiagem ou floreios, para que possam ter a consciência real de como estamos. A partir disso, cada um adota um caminho para que nós, juntos, consigamos superar essas adversidades”, ressalta.
Ele conta que, mediante essa chamada coletiva para união de esforços, as solicitações passaram a ser mais racionais e justas para a Singular como um todo, composta atualmente por mais de 600 cooperados e mais de 98 mil beneficiários. “A gente viu que existe, sim, um comprometimento massivo dos cooperados com a Unimed Cascavel”, afirma.
A expectativa é que o ano de 2024 seja ainda melhor do que 2023 e 2022, sobretudo no que se refere à sinistralidade. “Mesmo com tantos desafios, temos conseguido manter nosso equilíbrio financeiro. Entretanto, queremos voltar a crescer com folga”, deseja Fettback.
Acesse o estudo “Demografia Médica no Brasil 2023”, coordenado pelo professor Mário Scheffer, do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).