O amadurecimento da gestão em saúde

Veja o artigo do diretor de Saúde da Unimed Paraná, Faustino Garcia Alferez, sobre as mudanças que a gestão em saúde passou ao longo dos anos.

gestão em saúde
(Foto: Ilustração/Freepik)

Gestão em saúde implica planejamento, organização, controle e direção com foco no gerenciamento de recursos diversos, como humanos e financeiros, com o objetivo de oferecer o melhor no cuidado aos beneficiários/pacientes de uma instituição em saúde (seja operadora, hospital, consultório ou outras afins), garantindo eficiência e eficácia.

No entanto, a disciplina é nova. Só para ter ideia, não faz muito tempo e sem nenhum saudosismo, que a gestão das carteiras dos planos de saúde tinha o viés essencialmente financeiro, sem preocupação maior com a sinistralidade, mormente entre os anos 1985 a 1990, com a hiperinflação se aproximando dos 85% ao mês, quando o dinheiro era aplicado no overnight [1] e, no dia seguinte, havia mais recursos financeiros do que no dia anterior. Com isso, se fosse necessária alguma receita extra, bastava atrasar qualquer pagamento não indexado e a “mágica” estaria realizada.

Dr. faustino Artigo
Dr. Faustino Garcia Alferez, diretor de Saúde da Unimed Paraná

A prática de seleção de candidatos a serem beneficiários também era usada na “gestão”, visto que a legislação da época permitia admitir aqueles que “pareciam” serem mais saudáveis. Com a promulgação da Lei 9.656/98, que entrou em vigor em 1999, regulamentando o setor e inibindo práticas de seleção aleatória de beneficiários. Nessa mesma época, com a prática do overnight não mais sendo fonte de financiamento, as operadoras se obrigaram a profissionalizar a gestão de suas carteiras, buscando equilíbrio entre as receitas e despesas e os impactos da sinistralidade.

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A ANS obriga as operadoras a terem reservas sólidas, para sustentar a operação, disponibilizando parte desses valores em fundos que somente poderão ser mobilizados com prévia autorização do órgão regulador.

A gestão moderna das operadoras passa a ser realizada, em todos os setores da empresa. O que se inicia com ações mercadológicas, prática de um portfólio de planos a serem oferecidos aos diversos públicos, de acordo com o perfil da carteira, área de cobertura e disponibilidade de rede. Tudo isso na tentativa de atrair clientes, buscando se destacar da concorrência, ao mesmo tempo que procura formas de evitar o uso indiscriminado, com advento de coparticipação e do crescimento dos planos empresariais.

As ações de saúde completam as questões de gestão das carteiras, com estímulo à medicina preventiva, identificação de população de risco, cuidados dos pacientes crônicos e acompanhamento dos internamentos com práticas de auditoria. A intensa negociação com prestadores assistenciais e a “verticalização”, por meio de recursos assistenciais próprios, para poder controlar toda a cadeia assistencial, são práticas utilizadas, mais intensamente por algumas operadoras e menos por outras. Esse, inclusive, tem sido um dos caminhos traçados pela Unimed, para garantir a qualidade de seus serviços e fornecer à comunidade um sistema estruturado de atendimento, capaz de atender às necessidades do estado. Existem hoje mais de 70 unidades de recursos próprios no Paraná, que variam entre hospitais, pronto-atendimentos, unidades de atendimento domiciliar, laboratórios, centros de diagnósticos de imagens, serviços de oncologia, serviços de saúde ocupacional, atendimento pré-hospitalar e outros.

Além disso, a complexidade na qual chegaram hoje as operadoras exigem a presença de um departamento jurídico bem estruturado, considerando as questões delicadas de interpretação do judiciário, o ressarcimento ao SUS (valor que as operadoras devem pagar ao SUS caso um de seus beneficiários sejam atendidos pelo serviço público), estruturação de contratos e as questões de possíveis fraudes. Nesses anos todos, a Unimed, com foco no bem-estar do seu beneficiário, remuneração digna ao médico-cooperado e para garantir a sua perenidade, tem buscado sempre as melhores práticas possíveis de gestão.

O que inclui prestar atenção à humanização do cuidado, perseguindo sempre a excelência da assistência e da gestão em benefício de seus clientes.

Como elencado, os desafios não são poucos e a busca para ampliar a excelência do atendimento Unimed é constante. Algumas iniciativas nesse sentido têm sido as focadas, por exemplo, em saúde baseada em valor, do inglês Value-Based Healthcare ou VBHC. O objetivo é salientar o que é importante ao paciente, reduzindo desperdícios e promovendo maior efetividade nos cuidados em saúde. Isso envolve uma mudança no modelo de remuneração, que incentiva o posicionamento do paciente no centro do cuidado. Sem dúvida, consequência do amadurecimento da gestão que aconteceu em todos os setores ligados à saúde e vivenciado pela própria Unimed.

[1] Literalmente, do inglês, durante a noite. Eram as aplicações de curto prazo, compra e venda de títulos públicos pelo prazo de uma noite. Antes do real, eram as mais utilizadas e tornaram-se símbolo de uma época super inflacionária.

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