Não apenas uma referência à tranquilidade do campo, a base para uma vida longeva e feliz faz parte de um movimento interno resiliente no processo de evolução de cada ser humano
Ah, quando o espírito permanece jovem pouco importa a data de nascimento registrada em cartório! Com a expectativa de vida da população brasileira próxima aos 75 anos de idade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), intensificam-se os questionamentos por parte da população e da ciência sobre como encarar o envelhecimento com o brilho nos olhos.
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Mais do que prever ou orientar, aprender com quem já até mesmo ultrapassou as estatísticas não é só um ensinamento, e, sim, uma experiência real que entrega excelentes reflexões. Aos 82 anos, o senhor Petronilho Pernomian, diz já estar claustrofóbico por causa da pandemia do Coronavírus, porém ainda encontra formas de se manter ativo. Morador do município paranaense de Umuarama, sua rotina inclui dormir próximo às 19h, acordar às 2h45, tomar café e partir para uma pedalada de, no mínimo, 1 hora.
A disciplina só não é mantida nos dias em que as intempéries climáticas, como a chuva, não permitem. “Acabo aproveitando esse horário da madrugada para evitar o trânsito, o movimento dos sinaleiros, além das pessoas. O exercício faço por uma hora contínua, conforme aprendi, pois acredito que o ser humano não pode ficar parado. Normalmente ainda fazia na Unimed, mas infelizmente as atividades pararam neste momento”, conta ele.
Frequentador assíduo da turma de terças e quintas-feiras do programa Viva Mais, da Unimed Noroeste do Paraná, Petronilho sente falta dos encontros semanais que participava pelas manhãs, nos quais se exercitava e aproveitava para encontrar os amigos. “Mesmo que faça um pouco em casa, não é a mesma coisa do que com o instrutor. Deus me livre! Se voltar o programa, eu continuo e não tem essa de problema de idade! A gente não pode ficar muito parado. Se não fosse pela pandemia, eu não ficava”, reforça sua convicção sobre o quanto a inércia pode afetar nossas vidas.
O exercício sempre fez parte de sua rotina. Anteriormente, as atividades incluíam as caminhadas. Depois de uma tendinite, há alguns anos, o médico ortopedista orientou que mudasse para evitar o agravamento do quadro. Foi então que optou pelo ciclismo. Em sua vida profissional, Petronilho foi leiteiro, administrador e gerente de fazendas e caminhoneiro, entre outros.
Agora aposentado, cria passarinhos e, às sextas-feiras , participa da faxina na casa. “Nessa idade, eu não me acho inútil ou qualquer coisa, não. Não me acho incapaz de fazer nada nessa vida. Pelo contrário. Eu faço de tudo. Por isso, eu pratico os exercícios. Com eles, eu mantenho o meu corpo ágil, movimentando-o todos os dias.”, fala orgulhoso e otimista.
Nas terras férteis do Paraná que sustenta araucárias centenárias, não faltam histórias longevas e inspiradoras. Rumando para o norte do estado, mais precisamente na cidade de Londrina, a paulista de coração paranaense, Maria de Lourdes Ávila Faria, esbanja saúde, vitalidade e elegância, no auge de seus 91 anos. “O segredo é ter tranquilidade, muita fé e muita garra na hora da luta, acreditando que as coisas vão dar certo. Durmo muito bem! Eu sou uma pessoa muito tranquila e muito feliz”, conta com um sorriso no rosto.
Para Maria de Lourdes nós viemos a este mundo para ser feliz e não para sofrer, então temos que seguir esse caminho. “A felicidade não precisa de muita coisa. A felicidade é você se entender bem com a sua família, amar o próximo, e não dar ouvido para a fofoca, que atrapalha muito a vida das pessoas. Eu procuro resolver meus problemas sempre da melhor maneira possível. Com meu marido, para não brigar, eu escrevia uma cartinha, e aí não estava perto para discutir enquanto ele lia. Depois, conversávamos sobre o ocorrido, assim não brigávamos porque resolvíamos nossos problemas. A briga faz as pessoas infelizes”, ensina com simplicidade, com base em sua experiência.
Toda essa felicidade também fica evidente quando conta mais sobre sua família. Mãe de quatro filhos, todos homens, tem 6 netos e 7 bisnetos. Segundo Lourdes, com uma família muito bonita como essa, que a admiram e a respeitam, não há como não ser feliz. “Na minha época, as pessoas chegavam no máximo aos 70, mas Deus está me dando cada dia mais um presente que é a vida. E como eu gosto muito de viver, agradeço todos os dias por esta vida boa”, reflete.
Maria de Lourdes foi professora primária durante 34 anos e, após se aposentar, ingressou em atividades como pintura. Por 10 anos, também, fez estudos bíblicos e praticou hidroginástica durante cinco anos. Atualmente, faz exercícios físicos com personal training duas vezes por semana em sua residência. Sempre cultivou ótimas amizades e, depois da partida desses amigos, fez outros. “Da minha turma, já foram todos embora. Encontrávamos-nos nas tardes de domingo e feriados para jogar baralho e conversar, e só ficou eu. Então, fiz novas amizades. Aqui na minha frente mora minha amiga do coração, a Márcia, que me acompanha em todas as horas. Quando ela aparece, já saio perguntando: qual é a novidade de hoje?”.
Aos depoimentos de Petronilho e Maria de Lourdes, exemplos de quem chegou à terceira idade bem, junta-se outro que chega do Norte Pioneiro Paranaense, da cidade de Jacarezinho. Por lá, a Loide de Camargo Arendt, de 71 anos (em 27 de novembro já vão ser 72) também conta que sente falta de circular mais livremente agora durante a pandemia, mas diz que não considera a idade um problema. “Não tenho vergonha de contar a idade, nem medo de envelhecer. O tempo de jovem já passou, e agora estou aqui com o cabelo branquinho mesmo”, diz alegremente.
Criou 5 filhos e já tem 8 netos e 2 bisnetos, durante a quarentena, não saiu nem para fora do portão, e agora só vai a algum lugar se for necessário e tomando todos os cuidados. “Estava mantendo minhas caminhadas, inclusive aproveitando o espaço do quintal, porém estou com uma dor no calcanhar e, por isso, estou parada. Vou me consultar para ver o que é. A gente fica até doente parado, isso dá um mal-estar”, relata Loide que não vê a hora de poder circular novamente e realizar as caminhadas sem dor e com tranquilidade nas ruas.
A moral dessas histórias é que o segredo está no movimento. Movimento da vida e dos ciclos. Está também na capacidade de socialização, o quanto somos capazes de fazer novas amizade e cultivá-las. Essas são as características mais evidentes em cada depoimento, todos nos ensinam que ‘ficar parado’ não se refere apenas à atividade física, e sim a uma vida repleta de realizações, relacionamentos e conhecimento, que, com o passar dos anos, são apreciados com gratidão e tranquilidade. Que os olhares dessas pessoas possam ser um guia para a sociedade longeva e o futuro que vamos construir.