Desde o mês de março, quando a pandemia da Covid-19 estourou no Brasil, profissionais de várias áreas estão vivendo suas carreiras praticamente on-line, em home office
A emergência sanitária que estamos vivendo por causa do novo coronavírus está transformando a nossa vida como conhecemos. Nos últimos meses, deixamos de nos reunir socialmente e profissionalmente. Diante do isolamento social, o home office foi adotado por inúmeras empresas, desde familiares a multinacionais, forçando muita gente a se adaptar.
Segundo pesquisa realizada pelo ISE Business School, 51% das empresas não ofereciam a opção de trabalho remoto antes das medidas de isolamento. O número é ainda maior se compararmos empresas nacionais e familiares com multinacionais: 65% das brasileiras não trabalhavam remotamente, versus 35% das multinacionais. E, de repente, do dia para a noite, os profissionais tiveram que estruturar suas casas, tanto para home como para office.
Para a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos – seccional Paraná (ABRH-PR), Andréa Gauté, a grande maioria das empresas tinha resistência ao teletrabalho pela incerteza de controle da produtividade, ou por uma crença limitante de que os profissionais não conseguiriam produzir remotamente da mesma forma que na empresa. “Quando a pandemia chegou, tiveram que se adaptar de maneira abrupta. A grande maioria das empresas não conseguiu se preparar previamente para o teletrabalho, foram fazendo isso ao longo da Pandemia da Covid-19.
Inclusive há algumas organizações que fizeram um trabalho excelente, enviaram cadeiras, ofereceram trabalho de ergonomia online, deram ajuda de custo para ampliar a rede, inclusive ofereceram apoio psicológico aos seus funcionários.”, comenta Andréa.
Ajustes
Para a coordenadora de Comunicação e Marketing da Província Marista Brasil Centro-Sul, Elinéia Denis, passado o choque inicial da mudança, o momento pedia o desenvolvimento de novas habilidades e ferramentas para dar mais suporte ao colaborador, para facilitar a nova rotina e a organização do trabalho. “Nesse cenário, perdemos a percepção visual, então agora temos que sentir e ler por mensagens e uma câmera as reações, o humor, as tristezas, dificuldades que não são faladas. São pessoas e não faz sentido separá-las das suas emoções, ainda mais agora”, ressalta Elinéia.
Ela conta que, no início, foram necessárias mais reuniões para organizar os projetos, para priorizar as atividades e equilibrar a vida pessoal, mas que depois foi se tornando orgânico e acredita que, agora, tanto o rendimento dela como a da equipe está melhor do que no escritório. “Criamos laços com gestão e equipe, então as pessoas aprenderam a sinalizar mais seus desejos, dificuldades, cansaços e alegrias, já que sabem que o outro não vai perceber tão facilmente”, explica.
Para Elinéia, estar mais sozinho, sem trocas, risadas e partilhas frequentes é uma desvantagem. Porém, há ganhos também, como a possibilidade de parar um pouco e dar carinho para os dois cachorros que fazem companhia para ela durante o trabalho.
Cuidado
Na Lupeon, empresa de gestão financeira do frete, o movimento foi inverso. Mesmo sem problemas com tecnologia e com o trabalho a distância, muitos funcionários pediram para voltar a trabalhar presencialmente. “Nosso quadro de funcionários tem uma faixa etária baixa, são jovens que ainda moram com os pais, muitas vezes dividem espaço com os irmãos. Então eles pediram para voltar aos poucos ao escritório, onde o ambiente é mais calmo”, explica José Fernando Abreu, sócio-proprietário da organização.
O retorno está sendo gradual, com apenas 20% da capacidade do espaço e regras internas, como limpeza diária, controle de temperatura dos funcionários e do número de pessoas utilizando a copa ao mesmo tempo, assim como a proibição do uso de ar condicionado. Além disso, a empresa priorizou a volta de quem tem veículo próprio para evitar a exposição do colaborador no transporte público.
Mesmo com o retorno, Abreu ainda passa a maior parte do tempo em casa para não expor a família ao risco de contágio com o novo coronavírus. Pai de um menino de 3 anos, ele se divide entre trabalhar e dar atenção ao filho. “Os trabalhos que querem mais concentração são realizados no período da noite, quando meu filho já está dormindo. Durante o dia, o tempo é dedicado para ligações enquanto fico com ele na área de lazer do prédio. A produtividade caiu um pouco, mas fico mais tempo com ele”, explica.
Para o empresário, o maior aprendizado desse período é saber como organizar o tempo, as prioridades e se manter produtivo. “Antes eu acabava gastando muito tempo no escritório com situações que não eram prioritárias e acabava fazendo os projetos em casa, usando meu tempo com a família. A partir de agora vou buscar o equilíbrio”, comenta.
Lições aprendidas
A pandemia acabou mudando nossa percepção do trabalho. Para mais de 80% dos respondentes da pesquisa do ISE Business School, as principais dificuldades foram superadas e, embora de forma diferente para mulheres e homens, a experiência está contribuindo para o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de competências e superação de problemas.
De acordo com a presidente da ABRH/PR, Andréa Gauté, com a crise provocada pela doença, muitas pessoas começaram a se questionar sobre as formas de vida e de consumo. Andréa Gauté acredita que muita gente começou a entender que pode ser feliz tendo uma vida mais simples, com mais qualidade e alinhada a seu propósito e aos seus valores pessoais.
Ela pontua que as pessoas deveriam aproveitar esse momento para resgatarem seu processo de autoconhecimento, bem como refletirem sobre suas vulnerabilidades, aprendizados e fortalecimentos que tiveram durante essa pandemia. “Eu posso dizer que eu tive muitos aprendizados, desenvolvi novos hábitos e competências, tais como: fazer atividade física on-line, resgatei a meditação, reservei tempo para leitura, assisti e participei de várias lives. Nos finais de semana, aprendi a cozinhar “cardápios” diferentes junto à minha filha e dividimos atribuições em casa. Tive que melhorar a administração do tempo, agenda e prioridades, de forma a conseguir cumprir os diferentes papéis de mãe, esposa, filha e profissional. Mas precisei, a duras penas, trabalhar pesado em termos
de agenda e falar alguns nãos. Senão a gente acaba entrando na
exaustão”, conta.