4ª onda da pandemia
ameaça a estabilidade mental
Estágio evidencia necessidade de cuidados e busca por auxílio psicológico como estratégia para manter equilíbrio e superar os desafios deste momento
Longos meses de uma mudança drástica na rotina. O tempo passou de forma mais acelerada para uns, outros consideram que os mais de oito meses de pandemia estão sendo um processo lento sem fim. As opiniões divergem e os impactos desse cenário também, afinal cada indivíduo desenvolveu uma forma própria de superar o processo de distanciamento social e de como lidar com a doença iminente.
Observando toda movimentação de forma empírica, a Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ) apontou que os sintomas mais evidentes em relação à saúde mental dos pacientes são o aumento da ocorrência de casos de distúrbios depressivos, ansiosos (pânico, estresse pós-traumático), psicóticos, paranoicos e até mesmo de suicídios, nesse período.
O setor de psiquiatria como um todo, por meio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ), alertava sobre a 4ª onda desde o mês de março. “Essa fase começou junto aos primeiros casos diagnosticados de Covid-19 e é denominada assim por ser a onda das doenças mentais”, explica o presidente da APPSIQ, Júlio Dutra.
O que acaba agravando ou fazendo com que surjam novos casos de transtorno mental é a parte das incertezas geradas por essa nova situação, a insegurança econômica, as informações duvidosas e falsas e as restrições sociais. Além disso, as implicações na saúde mental podem durar mais tempo e ter maior prevalência do que a própria pandemia, segundo preveem os especialistas da área.
Outro ponto que preocupa são as sequelas emocionais frutos deste período de isolamento. “Se pararmos para pensar são muitas consequências atuais e futuras que podem ocorrer. Um exemplo são as crianças que estão dentro de casa. Muitas delas em contato com os abusadores que, na maioria das vezes, são os familiares, e esse abuso infantil vai marcar toda a vida dessa criança”, destaca Dutra.
Há, ainda, a situação complexa que envolve os idosos que estão dentro de casa e igualmente sofrem da companhia de assediadores, oportunistas ou pessoas que os agridem e exploram. Segundo o presidente da APPSIQ outro aspecto nesse caso seria a interrupção da rotina que sempre é sinônimo de fôlego para sobrevivência para as pessoas dessa faixa etária, e a quebra da regularidade expõe a um risco diário.
Além disso, as mulheres também englobam o núcleo de pessoas vulneráveis que estão expostas à constante companhia daqueles que praticam a violência doméstica. “É uma situação nada fácil de identificar e, neste momento, torna-se muito difícil de denunciar”, observa o presidente.
“Loucura é não procurar ajuda”
Esse é um dos lemas da campanha “Só Saia de casa pela sua saúde”, desenvolvida pela APPSIQ, em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR) voltada ao cuidado com a saúde mental. O principal objetivo é alertar e conscientizar médicos e a população sobre a importância da continuidade dos tratamentos e acompanhamentos de pacientes mesmo durante a pandemia.
Passando por diversas fases, a comunicação pretende chamar a atenção para os importantes impactos psicossociais relacionados com a Covid-19, e incentivar a busca por profissionais. Outras ações envolveram recentemente os debates do Setembro Amarelo, mês dedicado à campanha de prevenção ao suicídio, em que diversas entidades apoiaram a causa e promoveram debates on-line para fomentar o diálogo acerca do tema.