Conheça os princípios dos cuidados paliativos e aprenda, por exemplo, que não se usa mais o termo “paciente terminal”
Quanta experiência você tem com o sofrimento humano? Que tipo de médico e enfermeiro você gostaria que cuidasse de você no final da vida? Esses foram alguns questionamentos levantados pela médica Marcella Martins Alves Loureiro durante uma palestra sobre cuidados paliativos e modelos de assistência realizada no mês de agosto para os colaboradores do Sistema Unimed paranaense.
Marcela tem especialização em atendimento domiciliar, geriatria, cuidados paliativos e medicina da família. Logo no início da apresentação, ela reforçou a necessidade de estar bem para cuidar do outro e agir como você gostaria que agissem com você.
“Não tem como fazer cuidado paliativo se a gente não estiver disponível. Precisa dar a mão, olhar, estar perto, dar carinho”, disse a palestrante, que também abordou a importância de saber ouvir. “Precisamos entender os medos do paciente. Os sonhos. As angústias. Só de o paciente verbalizar, às vezes ele já sente um alívio”, afirmou.
Marcela defendeu que a formação médica precisa avançar bastante no sentindo de cuidar do paciente em sua integralidade e respeitar o tempo natural da vida.
“Por despreparo, passamos a praticar uma medicina que subestima o conforto do enfermo em processo de fim de vida, impondo-lhe uma longa e sofrida agonia. Adiamos a morte às custas de insensato e prolongado sofrimento para o paciente e sua família”, frisou a médica.
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Ainda sobre cuidados paliativos, Marcela apresentou os princípios gerais e trouxe cinco detalhes importantes:
1. Cuidados paliativos não se baseiam em protocolos, mas sim em princípios, pois as dores de cada paciente são diferentes e requerem avaliação e plano terapêutico individualizado.
2. Não se fala mais em “terminalidade”, mas sim em “doença que ameaça a vida”. “O fim só acontece quando a gente morre. Enquanto estamos vivos, existe muito a ser feito”, explicou a médica.
3. Não se fala mais em “impossibilidade de cura”, mas sim em “possibilidade ou não de tratamento modificador da doença”. Essa ideia afasta a máxima de que “nada mais pode ser feito”.
4. Nos cuidados paliativos, a abordagem inclui a espiritualidade entre as muitas dimensões do ser humano. “Espiritualidade não é religião, é conexão com algo divino”, comentou a médica.
5. A família é lembrada e assistida nos cuidados paliativos.
Modelos de assistência
Sobre os três modelos de assistência – domiciliar, ambulatorial e hospitalar -, a médica comentou que todos têm suas vantagens e desvantagens. “Entretanto, a atenção domiciliar se difere por permitir o acolhimento do usuário em seu próprio lar, próximo à família e sem a obrigatoriedade de se adequar à rotina hospitalar”, ressaltou.
Ao final da apresentação, Marcela disse que trabalhar com cuidados paliativos é ter o prazer de pensar na finitude todos os dias e aprender a valorizar o que a gente tem hoje.
Conheça os 7 princípios dos cuidados paliativos
1. Fornecer alívio para dor e outros sintomas estressantes como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas
2. Reafirmar vida e morte como processos naturais
3. Integrar aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente
4. Não apressar ou adiar a morte
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5. Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente em seu próprio ambiente
6. Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte
7. Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas, psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto