E-saúde 2021 debate as transformações digitais do setor por meio da aplicação da lei de segurança de dados e de soluções inovadoras
As discussões que têm a saúde como tema central nunca foram tão presentes como no último ano, em razão da pandemia de Covid-19. Com a crise sanitária, houve a transformação da rotina de toda a sociedade e, consequentemente, o aumento da preocupação com a saúde de forma geral, desde a rotina do paciente dentro de um hospital até a tecnologia por trás de tratamentos e inovações voltadas ao setor.
Há sete anos, a Unimed Paraná, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), promove um rico debate sobre as tecnologias aplicadas à saúde e as tendências que transformam, continuamente, a área. O Encontro de Tecnologia Aplicada à Gestão em Saúde, o E-saúde, chegou à sétima edição nos dias 10 e 11 de junho, por meio de quatro painéis e duas salas temáticas promovidas virtualmente, e abertas a todos os interessados. Ao todo foram cerca de 10 palestras.
O presidente da Unimed Paraná, Paulo Faria, lembrou a importância da construção de um ambiente destinado às discussões acerca da saúde, como o criado por meio da parceria empresa-academia. “O objetivo inicial do era criar um espaço no qual nossos parceiros pudessem discutir temas de interesse comum. Desde, então, o E-saúde tem proporcionado a médicos, acadêmicos e profissionais de saúde um espaço específico para discutir a aplicação de novas tecnologias na área”, celebrou.
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Além disso, conforme Faria, é necessário destacar que inovar vai além de criar novas tecnologias. “Inovar, apesar de tão em voga nos dias atuais, não é fácil e não significa necessariamente novas tecnologias. Significa, antes de tudo, um novo olhar sobre velhos e novos problemas de forma a buscarmos soluções sustentáveis”, completou.
Neste ano, o encontro teve como objetivo fomentar a discussão sobre perspectivas de segurança e privacidade de dados na área da saúde; análise de dados na saúde; projetos e aplicações de tecnologias voltadas à área da saúde e perspectivas futuras; e sustentabilidade do negócio saúde e como a tecnologia pode apoiar nesses desafios.
Perspectivas de Segurança e Privacidade de Dados na área da Saúde
O primeiro painel do evento, moderado por Fernando Carbonieri, da Academia Médica do Paraná, abordou a temática “Perspectivas de Segurança e Privacidade de Dados na área da Saúde”. Comandada por Umberto Tachinardi, da Regenstrief Institute/Indiana University School of Medicine, a palestra “Experiência Americana – Interoperabilidade” apresentou a Health Insurance Portability and Accountability Act (HIPAA), um conjunto de conformidades que garante a responsabilidade do tratamento de dados do setor da saúde, afiançando a segurança digital dos pacientes.
Conforme explicou Tachinardi, “toda vez que um paciente entra em um sistema de saúde, precisa receber uma notificação de quais medidas de privacidade e proteção estão sendo oferecidas a ele”. A ação garante a transparência no tratamento de dados pessoais e sensíveis, e precisa ser assinada pelo paciente, atestando que ele foi informado dos mecanismos utilizados para assegurar a privacidade.
Esses dados, que contém qualquer informação de saúde identificável, como históricos, resultados de testes e contas médicas, são chamados de PHI (Protected Health Information). Por isso, detalha Tachinardi, é importante ter o consentimento do paciente para o tratamento dos dados, e o consentimento para o uso dessa informação, que é utilizada após a “anonimização” dos dados coletados.
“Quando são desidentificados, não são mais considerados dados humanos, pois não é possível relacioná-los a uma pessoa. A partir desse momento, a HIPAA determina várias regras de como podemos dividilos ou não, de como podemos fazer a junção desses dados, entre outras”, pontuou. A partir do momento que essas informações de saúde são transformadas em anônimas, com a eliminação dos 18 identificadores elencados, como nomes, datas e números de telefone, é possível realizar pesquisas, criar indicadores de saúde, mapear doenças, etc.
Perspectiva brasileira: LGPD
Em seguida, Luis Gustavo Kiatake, da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde, apresentou a perspectiva brasileira em relação à segurança e à privacidade de dados, que conta com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), em vigor desde 2018. Durante os últimos três anos, a sociedade teve a possibilidade de aprender sobre a lei e colocá-la em prática nas mais variadas esferas, assegurando, assim, a privacidade dos usuários que precisam compartilhar seus dados pessoais e sensíveis. “A partir de agosto, as sanções previstas pela LGPD começam a ser aplicadas, e quem não estiver em conformidade sofrerá as penalidades estipuladas”, comentou Kiatake.
No setor da saúde, o profissional explica que há a obrigatoriedade de informar às autoridades sobre qualquer vazamento de informação e, que nesses casos, clínicas, médicos, hospitais e laboratórios podem ser enquadrados como infratores. “Por isso, deve haver o comprometimento de todos os envolvidos para assegurar esses dados. O que não pode acontecer é, em caso de vazamento, a autoridade chegar ao responsável e perceber que não há nenhuma medida de segurança sendo estabelecida, ou que não está sendo feito nada para evitar esses vazamentos”, detalhou.
Por este motivo, Kiatake reforça a importância de investir em capacitações, treinamentos e disseminação da informação para todos os envolvidos no processo. “Dessa maneira, além de aumentar a segurança no setor da saúde, podemos mostrar às autoridades que estamos fazendo tudo o que está ao nosso alcance para garantir a privacidade dos nossos pacientes”. Por fim, o profissional também destaca a necessidade de colher o consentimento formal dos usuários e informá-los sobre a finalidade para qual os dados serão usados.
Transformação do mindset na área da saúde
Para encerrar o primeiro painel do evento, Luis Francisco Guevara, da Alhambra IT, abordou a experiência europeia acerca do tema, considerada como uma “autora” das boas práticas no universo digital no mundo ocidental. “É interessante fazer um paralelo de que a Europa passava, em 2018, por um momento parecido com o que o Brasil passa atualmente, principalmente em relação às dúvidas sobre essas leis de proteção de dados e às eventuais sanções jurídicas que poderiam ser aplicadas”, comentou. De acordo com Guevara, essas dúvidas assustaram muitas empresas, mas impulsionaram uma mudança de mindset. “Essas leis fizeram com que muitas empresas entendessem que só atenderiam às exigências legais se passassem por uma transformação digital e, obviamente, uma reestruturação da forma de gestão e interação com o ecossistema de negócio. E isso inclui o paciente”, completou.
O profissional explicou que, a partir dessa necessidade de mudança de mindset gerada pela aplicação da lei, também houve um reflexo na própria população. “Foi necessário trabalhar junto à sociedade para mostrar os benefícios reais da abertura tecnológica dentro da medicina, como, por exemplo, a iniciativa de realizar a unificação de históricos clínicos e o compartilhamento dentro da União Europeia”. Conforme pontua Guevara, essa abertura promoveu o surgimento de diferentes projetos voltados a pautas como a pesquisa científica, beneficiando o setor e a população.
Em relação aos próximos passos a serem dados pelo Brasil no que diz respeito à LGPD, o profissional ressaltou a necessidade de utilizar intermediários de confiança na interação entre os atores do ecossistema, “garantindo a rastreabilidade, para que não haja prontuários desencontrados que precisam ser localizados”.
Análise de dados na saúde
O segundo painel do dia debateu o tema “Análise de dados (Analytics) na saúde”, sendo moderado pela professora doutora do programa de Tecnologia em Saúde da PUCPR, Claudia Moro.
Ricardo Bellazzi, da Universidade de Pavia – Itália, abriu o painel com a palestra “Exposome”, que abordou a visão acadêmica acerca da pesquisa de ponta que está em andamento na Europa, que traz a caracterização clínica da Covid-19. “Logo após o início da pandemia, muitos centros clínicos tiveram a necessidade de compartilhar e debater suas experiências no tratamento dessa doença. Diversos centros participaram desse estudo, que na primeira fase atuou principalmente na coleta de dados”, contextualizou. Atualmente em fase dois, a pesquisa agora atua na contagem e avaliação dos dados coletados. “Estamos reanalisando todos esses dados, coletados em diferentes centros, com o objetivo de aprofundar o nosso conhecimento em relação à doença e desenvolver alguns projetos”.
De acordo com Bellazzi, diversos grupos de trabalho têm atuado na avaliação da severidade da Covid-19 por meio dos algoritmos coletados, com o intuito de entender e estudar as diferenças entre as ondas da pandemia. “Essa análise é importante também do ponto de vista do manejo dos pacientes. Focamos em pacientes específicos, como as crianças, e diferentes questões de raças e etnias”, destaca. Conforme o profissional, a pesquisa também avalia quais são as doenças relacionadas com a Covid-19 que aparecem com mais frequência durante o período de internamento, como questões neurológicas ou lesões renais agudas, bem como eventos de trombose. “A ideia é refinar esse algoritmo de severidade, que também pode ser utilizado em uma retrospectiva de dados para entender a gravidade dos pacientes”, finaliza.
Dados do mundo real
Em seguida, André Fabre Ballalai, da IQVIA, abordou a organização e a melhor utilização dos dados no setor da saúde durante a palestra “BI em Saúde – Dados do Mundo Real”, com destaque para a necessidade de integrar dados para atingir melhores resultados. “A principal dica para quem está começando é investir energia e tempo para limpar e, de fato, organizar os dados, para que seja possível criar processos replicáveis. Caso contrário, você gasta energia fazendo uma baita análise, mas sem automatizar nada, aí, se no mês seguinte for necessário atualizar essa análise, haverá um grande retrabalho”, introduziu.
De acordo com Ballalai, é de suma importância entender que a privacidade do paciente não é um tema discutível, mas sim uma máxima dentro da análise de dados. “Sempre pense de forma exagerada quando o assunto for ser conservador em relação à privacidade. No momento de anonimizar o dado, por exemplo, não pode haver o risco de, em uma análise epidemiológica, você identificar de quem são aqueles dados por causa de uma organização falha”.
Para o profissional, o responsável pela organização e utilização dos dados deve saber usar diferentes estatísticas ao seu favor para, dessa forma, fazer análises ricas e variáveis. “Na área da saúde, por exemplo, existem muitos nomes clínicos que o analista de dados pode não conhecer. Por isso, é importante também ter uma rede de apoio e utilizála a seu favor, para que essa extração e organização dos dados clínicos seja feita com o maior sucesso possível”, pontua.
Por meio da integração citada anteriormente e uma organização adequada, é possível rastrear tendências, afinar tratamentos e entender melhor a jornada clínica dos pacientes por meio da análise correta do banco de dados.
Tecnologia promove a melhoria dos processos
E é justamente com o objetivo de melhorar a experiência do paciente dentro do ambiente de saúde, bem como direcionar políticas públicas e projetos no setor, que o Data Science tem se tornado cada vez mais importante dentro da área. “Conectar todos esses indivíduos é complexo, mas passa a ser um grande âmbito de organização de dados. Por meio dessa ação, é possível, por exemplo, monitorar em tempo real uma UTI semi-intensiva e melhorar a experiência do paciente por meio da adequação dos processos”, comentou Andrea Suman, do Hospital Israelita Albert Einstein.
De acordo com a profissional, três pilares baseiam o Data Science dentro do hospital: os dados, o Analytics e a cultura, que são as pessoas que compõem todo o processo. “Dentro do pilar de dados existem boas práticas que consideramos essenciais, como a importância de o analítico encontrar, de fato, o dado que precisa ser trabalhado. Então, precisamos ter um padrão para conseguir cruzar essas informações, pois, quando há organização, o processo de análise de dados, é acelerado e aperfeiçoado”, comenta, ao pontuar também a importância da qualidade dos dados coletados. “Você começa a organizar seus dados não só pelos domínios, mas também como por pessoas que têm conhecimento e pela qualidade dessas informações. Essas atitudes potencializam o melhor uso dos dados para a análise”.
Assim que todas as informações são coletadas e organizadas, o processo passa para a fase de análise que, conforme Andrea, é comandada por profissionais que têm o domínio do ambiente, da ferramenta e o conhecimento necessário para fazer a pesquisa de maneira detalhada. “Em alguns projetos avançados, envolvemos também cientistas de dados e uma equipe multidisciplinar, que conta com o apoio de profissionais de saúde para alcançar o melhor resultado”, diz. Por meio dessa avaliação, os profissionais podem identificar tendências de saúde e direcionar o melhor tratamento para o grupo de pacientes. “Temos, por exemplo, uma análise feita em cima da escala do pronto atendimento. Pudemos avaliar a demanda por hora, por dias da semana e por especialidades e, a partir disso, direcionar o corpo clínico na definição das escalas”, exemplificou a profissional. Com o auxílio dessas e outras análises, há o aperfeiçoamento dos processos e, consequentemente, maior satisfação dos clientes e colaboradores envolvidos na rotina hospitalar. “E tudo isso depende das pessoas, pois precisamos de profissionais que se interessem pela área de Analytics na saúde, e que falem tanto a língua dos dados, como a própria língua da saúde”, completou.
Promoção de novas soluções tecnológicas na saúde
O segundo dia de palestras do E-saúde teve início com o terceiro painel do evento, moderado pelo especialista do Núcleo de Inteligência em Saúde (NIIS), da Unimed Paraná, Marcelo Dallagassa, com o tema “Projetos e Aplicações de Tecnologias voltadas à área da Saúde e perspectivas futuras”.
O crescimento de startups no setor da saúde e a importância da chamada inovação aberta permearam a palestra “O futuro da área da saúde: tendência, tecnologias e inovação”, comandada por Bruno Pina, do Distrito. De acordo com o profissional, o crescimento do setor de saúde e o amadurecimento da área proporcionaram o aumento no número de startups voltadas a temas como vida saudável, bem-estar, saúde da mulher, entre outras. “Dados coletados pelo Distrito apontaram que, em maio, tínhamos 714 startups no Brasil ligadas ao setor da saúde, o que mostra que esse mercado realmente está em grande ascensão. Nas subcategorias, percebemos também uma forte tendência em inovações ligadas a áreas de bem-estar e vida fitness, bem como o crescimento de soluções direcionadas à saúde mental”, detalha.
A pandemia, conforme pontuou Pina, trouxe um novo olhar sobre a saúde para a população, que passou a buscar soluções para melhorar o bem-estar de forma geral. “Essa nova onda de empresas no setor de saúde levou a uma nova perspectiva sobre a importância da transformação e amadurecimento na área, que recebeu grandes investimentos nos últimos anos. As empresas começaram a olhar para essas startups como uma forma de acelerar os seus negócios, seja por meio de fusões ou parcerias”. Para o profissional, quanto mais startups surgem no mercado, mais é favorecida a chamada inovação aberta – realizada no Distrito.
Essa ação, de acordo com Pina, é uma alavanca gigantesca para a transformação digital que as empresas têm buscado. “Com a contribuição de um ecossistema externo, ou seja, das startups, junto à maturidade conquistada dentro de uma empresa, é possível gerar novas ideias e acelerar novas transformações, garantindo que seu negócio esteja continuamente atualizado”, diz. Dessa maneira, por meio de parcerias e investimento nesses novos modelos de negócio que têm a tecnologia no DNA, as empresas podem conquistar mais maturidade no relacionamento com os clientes e demais organizações, bem como trazer novas soluções para a área de saúde, conforme finaliza Pina. “Acreditamos que as empresas vão transformar melhor o cenário atual por meio dessa construção em conjunto com as startups”.
Crescimento de aplicativos de saúde mental
E se as startups têm crescido de forma exponencial na área da saúde, o mesmo acontece com as soluções tecnológicas voltadas à saúde mental. Apps de meditação, ferramentas que auxiliam no controle da ansiedade, guias de respiração, consultas on-line com psicólogos… Os recursos são variados, mas todos têm o mesmo objetivo: promover o bem-estar mental de maneira mais acessível e prática. “As questões de saúde mental são uma epidemia no Brasil, e, com o surgimento da pandemia de Covid-19, há estudos que apontam que a taxa de pessoas que sofrem com ansiedade pode dobrar”, comenta Michael Kapps, CEO e fundador da Vitalks, responsável pela segunda palestra do painel.
De acordo com Kapps, muitas pessoas não têm condições de arcar com os custos de um tratamento psicológico e acabam sem amparo profissional, sofrendo por anos com doenças mentais como a depressão, ou sintomas causados pela ansiedade e o estresse do dia a dia, principalmente após a pandemia. A Vitalk surge, conforme explica o CEO, com a intenção de entregar, por meio do cruzamento de dados, um acompanhamento diário gratuito para esses pacientes, que podem avaliar os níveis de estresse, ansiedade, a qualidade do sono, entre outros hábitos. “Dentro da plataforma temos inclusas várias ferramentas digitais, como guia de meditação e questionários, que nos auxiliam no acompanhamento do progresso desse paciente”, diz. Ao acessar o app, esse usuário é convidado a incluir, dentro de uma rotina preestabelecida, informações sobre como se sentiu ao longo do dia, recebendo orientações aperfeiçoadas por meio do algoritmo da ferramenta, que busca dentro do seu banco de dados a recomendação mais assertiva possível dentro o quadro de saúde apontado. O paciente recebe, ainda, sugestões de práticas como meditação ou respiração guiada, e pode acompanhar o progresso medido pela ferramenta, que é baseada nas respostas dadas ao longo das semanas.
Além disso, pontua Kapps, também é ofertada na plataforma a consulta on-line com psicólogos sob um preço muito mais acessível. “O interessante é que, apesar do fato de o paciente passar pouco tempo falando com o psicólogo, ele permanece muito tempo no aplicativo, seguindo as recomendações, fazendo a meditação, falando sobre como está se sentindo”. Para o CEO, isso mostra o sucesso do aplicativo, que conta com um índice de retenção de 70% entre os pacientes que começam esse tratamento digital. “A cada paciente que entra na plataforma, mais assertivas ficam as orientações e respostas. Além disso, quanto mais pessoas acessam o app, mais barato fica o valor das consultas com os profissionais cadastrados”.
Por fim, Kapps reforça que a intenção da ferramenta não é substituir os tratamentos tradicionais e a busca por um profissional, mas sim entregar uma solução mais acessível àqueles que não têm condição de arcar com os custos atuais.
Tecnologia identifica possibilidade de infecção generalizada de forma precoce
A exemplo da solução tecnológica ofertada pela Vitalk, outra ferramenta digital voltada à melhoria dos processos e à segurança do paciente foi abordada no painel por meio da palestra ministrada pelo analista de sistemas Jacson Fressatto, fundador e diretor da startup Laura Networks. Em 2010, o profissional viveu na pele a rotina de uma UTI neonatal quando Laura, a filha mais velha, precisou ser internada com apenas 18 dias de vida. “Mesmo com boa vontade, com toda a energia dos profissionais envolvidos no processo, ela faleceu. E o fato de ela ter morrido em função de um problema chamado sepse (uma infecção generalizada), que eu não fazia a menor ideia do que era, me fez estudar sobre o assunto e entender o motivo dos processos e procedimentos não terem sido suficientes naquela ocasião”, contextualiza Fressatto, que percebeu a importância de as equipes médicas terem auxílio de profissionais que olhem diretamente para os dados e informações que permeiam a rotina de saúde.
Com base na experiência pessoal, há quatro anos o analista criou o Robô Laura, que avalia essas informações médicas e consegue, com antecedência, prever quais pacientes podem ser acometidos por uma infecção generalizada, evitando, assim, milhares de mortes. “Nós já ajudamos a salvar mais de 50 mil vidas por meio desse trabalho de análise de dados e prontuários clínicos. O software faz o monitoramento em tempo real dos dados vitais dos pacientes internados, e consegue identificar com antecedência a sepse, agilizando todo o processo de tratamento da doença”, explica. Hoje, Fressatto também comanda o Instituto Laura Fressatto, que promove a saúde e a tecnologia dentro do setor. “Queremos fazer com que a interoperabilidade entre o sistema público e filantrópico se conecte, fazendo com que todos tenham o acesso às mesmas informações médicas”, finaliza.
Sustentabilidade do negócio Saúde
Sob a moderação de Vivian Escorsin, do SebraePR, o E-saúde trouxe como tema do último painel a “Sustentabilidade do negócio Saúde e onde a tecnologia pode apoiar nesses desafios”, iniciando com a palestra “Gestão Baseada em Valor”, do médico Rafael Marques Ielpo, da Seguros Unimed, que trouxe a experiência e os pontos-chaves percebidos na implantação da gestão baseada em valor. “Esse conceito, apesar de ser antigo, começou a ser aplicado na saúde recentemente com o objetivo de trazer à tona uma discussão sobre os custos de saúde e de todo o processo envolvido na rotina hospitalar, no que diz respeito à qualidade assistencial”.
Conforme o médico, um dos principais desafios dessa gestão baseada em valor dentro da área da saúde está, primeiro, em conseguir padronizar todos os processos, pois o setor é complexo. Além disso, como comentado durante diversas palestras do E-saúde, é necessário ter um sistema de dados conectados, que permita o compartilhamento das informações coletadas para, a partir desse ponto, rastrear e avaliar os resultados e custos envolvidos no tratamento de saúde. “Precisamos integrar o caminho e definir que as melhores guias de tratamento sejam adotadas e seguidas pelos profissionais de saúde, para que, consequentemente, tenhamos melhores resultados”, pontuou.
Ielpo explica que, dentro da remodelação dos processos, esses alicerces precisam estar bem fundamentados para que uma mudança sustentável seja promovida. “É neste ponto que o conceito da gestão baseada em valor entra. Ele serve como um norteador que orienta quais serão as estratégias adotadas para organizar o sistema de saúde. A partir disso, precisamos ter um forte compromisso de uma equipe vinculada aos pacientes, com o estímulo da promoção e prevenção da saúde, bem como o acompanhamento clínico desses pacientes e um alinhamento na nossa política interna”, disse, ao reforçar a importância de uma rede assistencial organizada e resolutiva.
Para o médico, essas mudanças são essenciais para garantir a sustentabilidade do sistema, ainda mais em um momento em que as transformações estão cada vez mais rápidas.
Projetos de inovação na área da saúde promovem a sustentabilidade
E falando em tecnologia e sustentabilidade do negócio, é fato que a inovação se tornou ponto primordial dentro das empresas e do setor de saúde. Em Porto Alegre, na Santa Casa de Misericórdia, um Centro de Inovação criado em 2019 tem se tornado referência quando o assunto é a tecnologia aplicada à saúde, fomentando novos projetos que entregam valor ao negócio. “Desde que começamos o Centro, passamos a fomentar essa cultura de inovação, trabalhando em uma rede de inovação com outras Santas Casas do país. Em 2020, antes do início da pandemia, chegamos a trabalhar com 45 projetos simultâneos dentro desse Centro, ganhando destaque no setor de inovação de Porto Alegre”, explicou Wagner Dorneles da Silva, responsável por ministrar a segunda palestra do painel.
Com a chegada da pandemia, porém, diversos projetos precisaram ficar em stand by e, com isso, houve a percepção de que era necessário mudar o mindset e focar mais no valor agregado de cada projeto inovador, e não na quantidade. “Tivemos a oportunidade de olhar para trás e identificar o que poderíamos fazer para ter uma melhoria contínua, e percebemos que fazia sentido apostar em menos projetos, porém que tivessem mais valor, assim como agir mais forte na mensuração de resultados, que é uma dificuldade quando falamos em inovação”.
Em 2021, conforme explica Silva, houve essa reformulação dentro do Centro que, antes de tudo, visa a ajudar o sistema de saúde público com o aperfeiçoamento do grupo hospitalar como um todo. Por esse motivo, todos os projetos trabalhados no local têm ligação com um dos chamados direcionadores elencados pela Santa Casa. “Esses direcionadores são como primórdios para começar um projeto. Tenho que identificar se vai trazer segurança para o paciente, mais empoderamento médico ou assistencial, qualidade assistencial, captura e valor no sentido de ter mais rentabilidade e eficiência operacional, assim como promover a sustentabilidade do negócio”, elenca. De acordo com o profissional, o projeto só nasce se estiver atrelado a pelo menos um desses tópicos.
A exemplo do que Rafael Ielpo pontuou na palestra anterior, Silva reforça que é necessário, em todos os projetos, identificar qual o valor agregado aquela proposta traz para o negócio. “Esse projeto precisa fazer sentido dentro da nossa rede, precisa trazer valor de fato”, complementa. Assim que o projeto nasce, o profissional explica que há a avaliação da sua viabilidade e, sendo aceito, passa pela execução e o encerramento do ciclo. “O projeto chega a nós de diferentes maneiras. Seja via uma startup¸ uma demanda da diretoria, ou por meio das áreas, como o setor de Negócios, sempre sob essa ótica de entregar valor”, encerra.
A inovação também é um alicerce no Hospital Pequeno Príncipe, que apresentou dois cases de inovação aberta, realizada com duas startups, durante apresentação que encerrou o último painel, comandada por Guilherme Rosso, do Complexo Pequeno Príncipe.
Salas temáticas
O E-saúde promoveu, ainda, duas salas temáticas abertas aos participantes, com debates técnicos sobre “Tecnologias Aplicadas à Gestão Baseada em Valor” e “Grupo Analytics”. O evento, promovido pela Unimed Paraná em parceria com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), contou com o apoio da UTFPR, Femipa, Distrito Spark CWB, Sebrae, Sociedade Brasileira de Informação em Saúde (SBIS), Academia Médica e Instituto Laura.
Ele ainda pode ser acessado no endereço www.unimed.coop.br/site/web/parana-esaude