No caminho diário da medicina, é comum cruzar com os desafios que parecem escapar das prescrições e dos diagnósticos convencionais. A melhor direção para a compreensão pode ser mais do que apenas análises clínicas e laboratoriais, mas também as complexidades da mente e das emoções.
A relação entre emocional e sistema imunológico é cada vez mais reconhecida como fundamental para o bem estar completo do indivíduo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) tem enfatizado a importância de abordagens integrativas que considerem tanto os aspectos emocionais quanto os físicos.
Ao todo, são 170 Estados Membros da OMS que reconhecem o uso da medicina tradicional e complementar, desde 2018. A Organização Pan-Americana de Saúde explica que é considerado um amplo conjunto de práticas apoiado em teorias e experiências de diferentes culturas utilizadas para a promoção da saúde, prevenção e recuperação, considerando o ser em toda a sua dimensão.
Conexão entre emoções e imunidade
O emocional desempenha um papel crucial na regulação do sistema imunológico. A psicóloga clínica Michele De’conto destaca que o estresse crônico, a ansiedade e a depressão podem desencadear respostas inflamatórias no corpo, enfraquecendo a imunidade e aumentando o risco de doenças. “O estresse e o medo são reações do organismo, dentro da normalidade humana. O estresse é um alerta e o medo é uma proteção. Quando estão fora do controle, alteram o comportamento dos hormônios e com isso afetam o sistema imunológico”, explica.
A depressão e a ansiedade
têm sido relacionadas a
uma maior incidência
de doenças autoimunes
e infecciosas
O que é alarmante no Brasil, pois a OMS indica que 5,8% da população sofre de depressão, o equivalente a 11,7 milhões; e, segundo um teste aplicado pela Guia da Alma, startup de soluções de saúde mental, mais de 60% dos brasileiros têm nível alto de ansiedade.
A psicóloga percebe o crescimento de pacientes com casos de ansiedade. “Os sintomas são queda de cabelo, unhas quebradiças, alergias de pele, insônia, perda ou excesso de apetite e gastrite”, aponta. Michele expõe ainda que são os problemas físicos imediatos que levam ao médico, por isso, esse profissional precisa ter um olhar holístico de cuidado. Ao aconselhar o autoconhecimento, por meio da terapia, há a mudança de significado sobre o que o paciente está vivenciando.
Visão ampliada da saúde
A médica de família com cuidado funcional integrativo Ana Paula Torga é o exemplo de profissional que adotou uma visão mais ampla de saúde a partir de um incômodo quanto ao que poderia oferecer a mais aos seus pacientes. A medicina integrativa é um exemplo de adoção multidisciplinar de resgate de saúde. Consideram-se os aspectos físicos, fatores familiares, sociais, emocionais e espirituais. O objetivo é buscar não apenas tratar os sintomas, porém identificar e discutir as causas implícitas das doenças.
Para a médica, cuidar do básico é primordial para a qualidade de vida e do sistema imunológico. “Ter um sono de qualidade e na quantidade adequada, rotina de 150 minutos de atividade física por semana, alimentação saudável, hidratar-se, atentar-se à saúde intestinal e não abandonar o espiritual, independentemente da religião, e manter as relações sociais”, pontua.
Por exemplo, a qualidade do sono influencia diretamente na produção de hormônios e neurotransmissores, afetando o funcionamento do sistema imunológico e a saúde mental. Da mesma forma, a atividade física regular melhora a função intestinal, reduz o estresse e fortalece o sistema imunológico. Os hábitos saudáveis resultam em mais disposição, diminuem os níveis de estresse e da ansiedade. Já os traumas emocionais não resolvidos podem impactar negativamente a saúde física, manifestando-se em sintomas, como dores crônicas, problemas gastrointestinais e distúrbios do sono.
Os estressores crônicos levam ao estado de exaustão do organismo, colocando-o em risco de desequilíbrio. Ou seja, caso a pessoa colecione hábitos que não são muito saudáveis e enfrente momentos de dificuldades, poderá ser um gatilho para a redução da defesa, tornando-a suscetível ao adoecimento.
Abordagem holística para o bem-estar
É unânime para a psicóloga Michele De’conto e a médica integrativa Ana Paula Torga que reconhecer a saúde emocional como parte integrante do cuidado é essencial para proporcionar um tratamento eficaz e abrangente. Dessa forma, é possível reconhecer a singularidade do indivíduo e trabalhar em parceria para promover uma saúde duradoura. Esse método coloca o paciente no centro do processo de cuidado, capacitando-os a assumir um papel ativo em sua própria jornada de saúde.
TERAPIAS INTEGRATIVAS RECONHECIDAS PELA OMS
Para abordar esse elo entre saúde emocional e sistema imunológico, a OMS atesta diversas terapias integrativas. Conheça algumas delas:
• Meditaçãoe Mindfulness: práticas que ajudam a reduzir o estresse e promover a consciência plena, contribuindo para a regulação do sistema imunológico.
• Psicoterapia: oferece um espaço seguro e acolhedor para explorar desafios, promover autoconhecimento e desenvolver habilidades para enfrentar a vida com mais equilíbrio emocional.
• Exercícios físicos: além de seus benefícios óbvios para o físico, o exercício regular também é uma ferramenta para aumentar a circulação de células do sistema imunológico, como os linfócitos.
• Terapia criativa: engloba diversas práticas artísticas, como arteterapia, dançaterapia e musicoterapia, que auxiliam na expressão e no processamento de emoções, promovendo o bem-estar emocional.
