A revolução ESG

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Ambiental, Social e Governança: o termo do momento já está no DNA das cooperativas. No entanto, é preciso reforçar tais valores na prática

Sistema B, capitalismo consciente, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), ESG, muitos são os termos em alta nos últimos anos para definir uma necessidade coletiva: habitar o planeta de forma mais consciente. Com a pandemia do coronavírus, a questão se tornou urgente, já que vimos nossas escolhas individuais impactarem o todo. Hoje, os diversos setores da sociedade são cobrados por posturas sociais e ambientalmente responsáveis concomitantemente com o crescimento e a expansão dos negócios. A sigla ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), que traduzida significa Ambiental, Social e Governança surge, então, para direcionar empresas, instituições públicas, organizações do terceiro setor e cooperativas em estratégias que unam lucro e impacto social.

Diferentemente da definição clássica de uma empresa tradicional, que consiste em uma atividade economicamente organizada para gerar lucro para seus acionistas, as organizações pautadas em ESG são promotoras de bem-estar social, olhando com atenção para a sustentabilidade de sua governança e processos internos, do meio ambiente, assim como da sua relação com a comunidade. Assim, falar em ESG para as cooperativas é relembrar os seus princípios fundadores, já que está presente no DNA dos sistemas de cooperação considerar o desenvolvimento social, conforme destaca Paulo Cruz Filho, fundador da We.Flow – Together for a Better World, uma empresa B focada na evolução de consciência e impacto positivo de pessoas e organizações. Entre os princípios do cooperativismo, o sétimo, em especial, “Interesse pela comunidade”, dialoga fortemente com a sigla ao orientar que as cooperativas trabalhem para o desenvolvimento sustentável das suas comunidades por meio de políticas criadas pelos cooperados.

Segundo o fundador da We.Flow – Together for
a Better World, é fundamental que os sistemas
cooperativos comecem a reforçar sua essência

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No entanto, de acordo com Cruz Filho, é fundamental que os sistemas cooperativos comecem a olhar para a pauta com mais atenção a fim de reforçar sua essência. “A atividade econômica da cooperativa é voltada aos interesses econômicos e sociais de uma coletividade, e não somente para aumentar os lucros dos acionistas. Então, para adotar práticas ESG, ela precisa reafirmar os valores que ela já possui em sua essência e melhorar essa entrega. Por isso, eu considero primordial e urgente que as cooperativas olhem para o ESG, porque, apesar de já ser da sua própria natureza, muitas ficaram para trás e, naturalmente, adotaram práticas tradicionais de mercado, para que seus negócios pudessem crescer. Assim, mesmo respeitando os seus princípios, acabaram deixando um pouco de lado essa sua característica natural, e que hoje se tornou um extremo diferencial estratégico que é desejado por praticamente todas as empresas que estão antenadas à nova realidade econômica. As cooperativas já possuem essa essência, portanto podem largar muito à frente das empresas que não possuem essa natureza e liderar esse novo movimento global”, observa.

No entanto, é preciso implementar a ESG para além do papel. As preocupações ecológicas, sociais e de governança precisam estar na cultura das empresas de forma que elas tenham um real impacto. Hoje, os investidores estão cada vez mais atentos nessas posturas ao definir onde aplicar o seu capital. Ações que não se sustentam na prática como o greenwashing (maquiagem verde ou lavagem verde, em tradução literal) não são vistas com bons olhos: “É crucial entender como o ESG funciona e aplicar. Caso contrário, o resultado é o que chamamos de #ESGwashing ou telhados de vidro, que são palavras, ações vazias e posicionamentos questionáveis que geram descredibilidade dos stakeholders, consumidores, clientes e sociedade”, explica o diretor de inovação da PANGEIA, ecossistema de negócios sustentáveis, Daniel Carocha.

Para o diretor de inovação da PANGEIA, ações
relacionadas com a ESG reforçam ou impactam
muito mais a credibilidade com relação aos
stakeholders, consumidores, clientes e sociedade

Divulgação/Arquivo Pessoal

Além disso, ao escolher uma cultura ESG, as cooperativas diminuem a chance de riscos futuros, como erros nas suas dinâmicas organizacionais e problemas na relação com o público em geral. Entre os desafios do cooperativismo ao adotar tais práticas estão as letras “S’ e ‘G’ da sigla, já que é uma empresa de membros, exigindo uma governança diferenciada. “O ‘G’ tem que ser impecável. Aí a gente passa para o ‘S’, onde ele entrega valor para todos os envolvidos. E para o ‘E’ como um pouco menos de ênfase, a depender a natureza da cooperativa”, discorre o fundador da We.Flow.

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Segundo Carocha, as práticas ESG em cooperativas devem ser adaptadas às realidades e dimensões das cooperativas, em comparação com a iniciativa privada. “Em nosso ecossistema Revolução ESG, com organizações de diversos setores distintos, observamos que o mais importante é ter as diretrizes ESG bem desenhadas e desmembradas em objetivos e metas, conectando com as ODSs e trabalhar em rede”. Portanto, seja para a saúde das empresas ou do planeta, parece impossível não pensar em diretrizes de cuidado, como afirmou o exsecretário geral da ONU, Kofi Annan, pioneiro na agenda sobre desenvolvimento sustentável e ESG: “Se vamos continuar vivendo juntos nesta Terra, todos devemos ser responsáveis por isso”.

Glossário ESG

Confira o que cada letra da sigla indica como ponto de reflexão e melhoria para empresas levarem sustentabilidade aos negócios

E (Environment = Ambiental) Essa letra está relacionada às ações e à preocupação com os assuntos voltados ao meio ambiente. Sendo assim, incluem temáticas, como: aquecimento global e emissão de carbono, poluição do ar e da água, biodiversidade, desmatamento, eficiência energética, gestão de resíduos e escassez de água.

S (Social) Essa letra está relacionada às ações e à preocupação com os assuntos voltados às questões sociais. Sendo assim, incluem temáticas como: satisfação dos clientes, proteção de dados e privacidade, diversidade da equipe, engajamento dos funcionários, relacionamento com a comunidade, respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas.

G (Governance = Governança) Essa letra está relacionada às ações e à preocupação com os assuntos voltados à esfera administrativa. Sendo assim, incluem temáticas, como: composição dos conselhos, estrutura do comitê de auditoria, conduta corporativa, remuneração dos executivos, relações com entidades do governo e políticos e existência de canais de denúncias.

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