É necessário mudar o mindset, a cultura e a estratégia da forma como entregamos e experenciamos saúde
A inovação dentro da saúde suplementar foi amplamente discutida nas plenárias do 28º Suespar (Simpósio das Unimeds do Estado do Paraná), ocorrido no mês de agosto de forma presencial em Foz do Iguaçu. Sob o tema “InovaHC: inovação em saúde na prática e tendências mercadológicas”, Giovanni Cerri, presidente do Núcleo de Inovação Tecnológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), apresentou o case InovaHC, que é um catalisador de inovação em saúde responsável por conectar recursos e empreendedores para gerar soluções que tornem a jornada do atendimento mais intuitiva, eficiente e iterável. Ao citar tópicos, como a Saúde Digital, Inteligência Artificial, o BigData e a Impressão 3D, Cerri chamou a atenção para o papel da tecnologia na saúde do amanhã. “Ela é primordial para aumentar o acesso, incrementar a equidade, melhorar a qualidade e assegurar a sustentabilidade do setor”.
Mas, afinal, o que vale mais: o tamanho de uma empresa, ou a agilidade com a qual ela toma as decisões e se movimenta no mercado? Se olharmos para trás, é possível identificar várias empresas grandes que, em seus respectivos setores, acabaram ficando pelo caminho por não entender ou não saber traduzir as demandas mercadológicas. “Quão ágil e tempestivo o Sistema Unimed está preparado para responder às demandas atuais?”, provocou, em seguida, Luís Fernando Joaquim, sócio-líder de Life Sciences & Health Care da Deloitte Brasil, ao comentar a rapidez com a qual as transformações têm acontecido.
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A evolução que o mundo passou em um período de 150 anos com as revoluções industriais e a chegada de novas tecnologias, a partir de agora, levam apenas 15 anos para acontecer. Ou seja, o mundo muda em uma magnitude muito maior do que a que era vista pelas gerações passadas. “É tempo de se reimaginar. Dentro dessa questão digital, é imperativo ver, pensar e agir diferente, pois estamos diante de um novo contexto”, disse.
Tal situação, conforme Joaquim, afeta o mercado como um todo. A maneira como consumimos já se transformou completamente em diferentes setores: basta pensar em soluções como a Uber. Se, antes, era tolerável esperar 40 minutos em um ponto de táxi físico, hoje o cliente já fica irritado com um espera de sete minutos, dentro do conforto de casa. “Essa tendência mudará o sistema de saúde, que é um setor complexo com desafios específicos. E, maior que a complexidade da cadeia está o fato de que não existem mais fronteiras. Grandes techs já entraram no nosso setor e, aquelas que ainda não o fizeram, estão planejando. Por isso, é imprescindível repensar o modelo de negócio, de estruturas e fronteiras que não existem mais”.
O problema, como pontua Joaquim, é que estamos muito atrás de setores que já têm aspectos da digitalização e transformação digital muito mais enraizados. “Temos um espaço enorme para construir essa transformação, que vai além da tecnologia. É necessário também transformar o mindset, a cultura e a estratégia das pessoas envolvidas”, detalhou. Afinal, as empresas, hoje, já precisam lidar com um consumidor muito mais engajado e mais bem informado, que exige novas soluções.
Diante dessa urgência, a saúde suplementar também passa por uma intensa consolidação de fusões e aquisições. Não há mais como dar um passo para trás: o tema já faz parte da pauta diária e obriga o Sistema a agir, novamente, com rapidez e estratégia, indo além de slogans e teorias. “A centralidade do cliente precisa sair do papel e chegar a uma ação efetiva. Esses consumidores querem usar a tecnologia para medir e manter a saúde, ter acesso a canais integrados, com foco maior em prevenção e bem-estar. Precisamos de um modelo menos hospitalocêntrico e mais preocupado com o que nosso cliente quer e precisa”. Para Joaquim, o consumidor busca mais transparência e acesso a produtos personalizados, e vê na tecnologia uma aliada para alcançar mais rapidez e comodidade. “É preciso ir além dos muros do hospital, aproveitando as tecnologias digitais para envolver e reter esse cliente”, completou.
O digital é o novo agora e molda os sistemas de saúde do futuro. Como exemplo, temos questões como robótica, internet das coisas médicas (IoMT), a interoperabilidade, plataformas abertas e muito mais. “Como estratégia para conduzir esses pacientes pela porta digital, temos a criação de uma experiência atrativa, o estabelecimento de uma base digital e a redefinição do relacionamento com o paciente, que deve ser muito mais personalizado”.
Em relação às fusões e aquisições crescentes no setor, Joaquim citou algumas das principais movimentações vistas principalmente no Paraná, e reforçou a necessidade de o Sistema Unimed repensar o modelo de negócio, passando de um plano de doença para um plano de saúde. “O Sistema, como sistema, é forte. Porém, sabemos dos desafios de se operar de maneira Singular. Por isso, nesse momento, urge a necessidade de se reorganizar para o futuro, e de inovar não só na ponta, com o cliente, mas em toda a sua cadeia”.
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