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Cuidar e gerenciar a própria saúde tem se tornado cada vez mais acessível, além de essencial para se ter uma vida plena
Foi durante um exame de rotina, em 2008, que Marizon Vieira da Rocha descobriu um nódulo na mama direita. Na biópsia, foi constatado que a lesão era maligna, e, como tratamento, foi necessária uma cirurgia, além de 38 sessões de radioterapia. O autocuidado da professora de Educação Física, de 64 anos, fez com que a doença fosse diagnosticada ainda no começo, evitando que ela também tivesse que enfrentar sessões de quimioterapia.
Mas além dos exames médicos anuais, Marizon também investe em uma alimentação saudável e atividades físicas para manter a saúde. Ela conta que não fuma cigarros, não ingere bebida alcóolica e faz mais de um ano que não consome refrigerantes. Três vezes por semana faz exercícios de fortalecimento muscular, nos outros dois dias é a vez dos exercícios de resistência aeróbica, e o final de semana é dedicado às corridas.
“Atividade física sempre fez parte da minha vida. Só parei quando fiz radioterapia, mas voltei logo em seguida, porque perdi muito da flexibilidade do braço direito. Bebo muita água durante o dia e durante a noite também. Sempre quando vou dormir levo uma garrafa de água, pois tenho sede durante a noite, e em casa procuro me alimentar da melhor maneira possível”, relata.
Porém, essa não é a realidade da maioria dos brasileiros. Uma pesquisa on-line nacional do IBOPE, encomendada pela Bayer e realizada em 2020, revela que 84% dos entrevistados buscam uma rotina de autocuidado, mas apenas um terço coloca os hábitos saudáveis em prática.
Preocupação
Para o gerente de Estratégias e Regulação da Saúde da Unimed Paraná, Marlus Volney de Morais, brasileiro se preocupa com saúde sim, mas dedica mais preocupação para as ações curativas do que para as ações preventivas.
“Não é exclusividade dos brasileiros, mas aqui há pouco incentivo e pouco entendimento de que saúde é uma poupança. Cada atividade saudável contribui para que evento danoso em saúde ou não ocorra ou, caso ocorra, seja mais bem respondido pelas reservas orgânicas. Grande parte das pessoas só reage ao evento ocorrido com ele, alguém próximo ou alguém famoso”, diz o médico.
Ele alerta que, pela lógica da saúde, pessoas que têm fatores que aumentam o risco de adoecer deveriam ser compelidas a evitar o risco tanto quanto possível. Assim, sedentarismo, estresse, tabagismo e sobrepeso deveriam fazer parte das ações programáveis em saúde para prevenção, tanto quanto vacinas.
Consciência
A jornalista Lara Pessoa tem apenas 25 anos e, mesmo tão jovem, não se descuida. Pelo menos três médicos fazem parte do gerenciamento da saúde dela, sendo eles: clínico geral, nutricionista e ginecologista. Os exames anuais também sempre estão em dia, e a alimentação balanceada.
“Tenho feito acompanhamento nutricional, suplemento minha alimentação com vitaminas, eu e meu namorado compramos uma bicicleta de spinning para fazermos em casa e tenho praticado todos os dias de manhã, pelo menos 30 minutos. Ando na fase de me preocupar ainda mais com a minha saúde e com os nutrientes dos alimentos, então gosto de ler livros sobre o tema para estar em constante evolução e conhecimento das coisas”, conta.
O namorado da Lara, Denilson Zbonik, de 30 anos, começou a fazer caminhadas, entrou na dieta saudável e consome Ômega 3, mas não segue as recomendações dos especialistas tão à risca quanto ela.
“Ele já tem um perfil diferente do meu, não vai com tanta frequência em médicos assim. Espera o problema ou dor ficarem insustentáveis e aí que procura ajuda”, revela.
O jovem engenheiro mecânico faz parte das estatísticas. Uma pesquisa feita pela revista SAÚDE, do Grupo Abril, e o Instituto Lado a Lado pela Vida em 2019, apontou que quase 40% dos homens até 39 anos e 20% daqueles com mais de 40 só vão ao médico quando se sentem mal.
Escolha
Autocuidado, autocuidado e autocuidado. Segundo o médico Marlus Volney de Morais, essa é a palavra quando se trata de gerenciamento de saúde. O médico elenca como medidas importantes participar de um modelo assistencial com coordenação de cuidados, centralizar informações em um único prontuário e contar com uma equipe de saúde vinculada.
Outro ponto que ele destaca é a aplicação da racionalidade no consumo de serviços, com perguntas simples feitas aos profissionais de saúde, como: realmente preciso fazer tudo isso? Se eu deixar de fazer, o que acontece? Há alternativas menos intervencionistas?
Segundo Morais, as pessoas devem optar pelo profissional de saúde que tenha uma visão mais integral sobre as dificuldades e necessidades do paciente, consiga enquadrar necessidades dele dentro de um plano de cuidado e que orienta a buscar o recurso necessário (seja ele outro profissional de saúde especializado ou simplesmente recurso terapêutico adequado), sendo previsível que a pessoa ganhe tempo, sofra menos e tenha mais saúde.
Retorno
Lara conta que está motivada com os hábitos que vem adquirindo, afinal ela acredita que de nada adianta tantos planos e uma estabilidade financeira no futuro se não tiver saúde para vivê-los com toda a intensidade. “Fazemos tantos planos de realização pessoal, de almejar ‘o que vamos fazer daqui 5 ou 10 anos?’, mas, parando para refletir mesmo, dificilmente cuidamos da nossa saúde com o cuidado necessário que ela precisa”, reflete.