Afinal, quem está pronto?
Profissionais da área médica precisam de uma formação “completa” que ultrapasse os ensinamentos da academia
AS 9 MIL HORAS/AULA já deixaram de ser suficientes para a formação na carreira médica. Assim como em diversas áreas, cada vez mais são exigidas dos profissionais competências que extrapolam as questões técnicas. Isso não somente pela incorporação tecnológica e sua expressiva presença na rotina, mas também pela velocidade e complexidade com que a própria ciência vem evoluindo, o que exige a constante atualização desses profissionais.
Nas universidades, a corrida contra o tempo é para manter uma grade atualizada e ofertar professores capacitados para repassar esse conhecimento, com o desafio de gerenciar os recursos financeiros. “Com isso, a maioria entrega apenas o mínimo necessário que é exigido pelo currículo do Conselho Federal de Medicina (CRM) e pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Isso é suficiente para gerar proficiência em Medicina, mas está longe de capacitar, de fato, o jovem profissional para enfrentar as dificuldades crescentes do cotidiano, seja nas questões científicas, ou naquelas que integram a vida de qualquer profissional”, ressalta o professor, médico fisiologista e responsável pelo portal EduMedica, o braço on-line da Universidade Corporativa da Associação Médica do Paraná (AMP), Eugênio Mussak.
Em muitos países, algumas especialidades médicas, inclusive, exigem exames formais de recertificação para garantir que os profissionais mantenham-se atualizados frente às mudanças na realidade da organização dos serviços de saúde”. Como no Brasil esse tipo de requerimento não existe, os profissionais de saúde que estão nos melhores hospitais e nas melhores práticas procuram atualização por conta própria, por meio da participação em congressos, eventos científicos e da organização de grupos de trabalho e discussão. Entretanto, um grande número não participa desses processos e acaba tendo seus conhecimentos obsoletos, pondo em risco sua prática médica e a saúde dos pacientes”, destaca o economista e autor do blog Monitor de Saúde, André Medici.
Somado ao frenesi desse cenário, ainda embarca o quesito emocional, afinal, para administrar as demandas e a vida pessoal, os profissionais precisam estar com a saúde em dia. “Não apenas na profissão médica, mas em todas as demais, busca-se um profissional que tenha o que se convencionou chamar de ‘completude’. Como o nome indica, é aquele que teve uma formação mais completa, o que significa ter desenvolvido competências de diversos tipos”, explica Mussak.
Homem versus Máquina
É fato que a automação de processos seja pela utilização de máquinas, ou a incorporação de ferramentas tecnológicas, é uma realidade. Na avaliação de Medici, não há necessidade de temer uma substituição dos médicos. O que acontecerá é mais um trabalho conjunto. “Não acredito em competição entre máquinas e profissionais de saúde, mas, sim, em cooperação. A remoção das tarefas rotineiras e repetitivas vai ajudar a tornar os profissionais de saúde mais felizes, acelerando sua produtividade e a natureza de seu trabalho”, comenta.
Sendo assim, o uso de robôs não vai eliminar a força de trabalho, mas otimizar o atendimento das demandas, criando maior sinergia entre médicos e gestores de saúde. “A força de trabalho representa a maior parte dos custos em saúde e, do meu ponto de vista, continuará a representar. Nos hospitais, por exemplo, é quase 60% dos custos”, essa evolução é encarada pelo economista como uma mudança positiva que vai gerar uma combinação estratégica entre profissionais e máquinas, aumentando a qualidade, os resultados e a eficiência no setor.
Na parte administrativa das operadoras, por exemplo, o uso de inteligência artificial e de tecnologias como machine learning podem trazer a mesma eficiência. Considerando as grandes quantidades de dados gerados, será possível extrair informações relevantes de extensos documentos e compartilhar entre os profissionais.
Como autônomos, alguns médicos e médicas ainda se deparam com o desafio de empreenderem como profissionais liberais, o que, segundo Mussak, acaba, muitas vezes, ficando em segundo plano. “Como o médico sente a necessidade de se dedicar aos temas médicos, acaba deixando de lado outros temas, que a faculdade, pelo mesmo motivo, não oferece. Estou falando dos conhecimentos que facilitam a nossa vida e que permitem que consigamos exercer bem uma profissão e construir uma carreira, como: planejamento, gestão, finanças, liderança, relacionamento, competências emocionais, entre outros”, observa.
Na visão de Medici, incorporar as tecnologias nesse processo é uma alternativa de aperfeiçoamento. A Inteligência Artificial, por exemplo, pode ser uma oportunidade para realizar tarefas trabalhosas e não críticas, assim o médico vai ter mais tempo disponível para responder aos pedidos de seus pacientes. O fato é que pouco ainda se sabe sobre como esta nova rotina vai se configurar, mas o uso de softwares de AI poderá classificar os pedidos segundo a urgência, para determinar o fluxo de atividades do médico. O que indica que as ferramentas estão disponíveis e que caberá aos profissionais administrá-las da melhor forma.