No ambiente digital, médicos e médicas potencializam a divulgação de suas atividades, porém a estratégia requer atenção e cautela
Na era digital, o relacionamento com o paciente ganhou novas dimensões para os profissionais da área médica. Não apenas no atendimento via telemedicina, o crescimento das redes sociais tem aberto oportunidades por meio do Marketing Digital, que usa o ambiente on-line para criar, comunicar e entregar valor aos usuários. Entre as ações mais comuns desse conjunto de estratégias está a partilha de conteúdos nos mais variados canais com o objetivo de orientar as pessoas sobre procedimentos, doenças e até mesmo realizar a prevenção, bem como, estimular a saúde.
O doutor em Administração, formado em Direito e em Publicidade e Propaganda, especialista em Psicanálise e professor da pós-graduação e MBA da Universidade Positivo, Sérgio Czajkowski Jr., explica que a humanidade está vivendo a chamada Sociedade da Informação. E, nesse contexto, boa parte do patrimônio das organizações de sucesso está vinculada a elementos intangíveis, incluindo as respectivas marcas.
Assim, de acordo com o professor, os profissionais que atuam no setor de serviços estão simultaneamente procurando construir estratégias mercadológicas dentro dessa mesma lógica, entendendo que, ao seguirem esse caminho, têm a chance de fortalecerem a reputação, competências, autoridade e credibilidade perante o público.
Segundo a ferramenta de monitoramento de pesquisas Google Trends, a busca por termos relacionados à saúde estão em ascensão nos últimos anos. Em 2022, por exemplo, a expressão “saúde mental” cresceu cerca de 50%, o que aponta um comportamento cada dia mais comum de pacientes que chegam ao consultório com informações preliminares. Portanto, em certo ponto, estar a par dessa revolução tecnológica para qualquer profissional é acompanhar a transformação pela qual a sociedade está passando.
“Um pouco mais da metade dos habitantes do Planeta Terra, ou seja, 4,3 bilhões de pessoas, estão diariamente on-line. Nessa linha, construir estratégias assertivas no ambiente digital deixou de ser um diferencial e tornou-se praticamente uma questão de sobrevivência”, compartilha Czajkowski. No momento em que o profissional decide investir em ferramentas digitais, como as redes sociais, usando de uma comunicação assertiva, pode gerar um forte impacto em sintonia à capilaridade das redes.
Embora pareça inevitável construir essa narrativa digital, Czajkowski Jr., reforça a importância de olhar cada cenário de forma individual, pois dependendo da área, existem limitações éticas, além de tabus. O professor reforça ainda que os canais são mecanismos de fortalecimento, visto que o diploma e a busca por atualização técnica devem permanecer uma prioridade. “Hoje, além das redes sociais, os profissionais da área da saúde podem fortalecer o seu posicionamento digital por meio de vídeos ou outras ações coligadas, tal como acontece com os podcasts. Em ambos os casos, temos a vantagem de uma maior interação com os públicos de interesse, pois os pacientes, por exemplo, podem tirar as suas dúvidas”, destaca.
Afinal, qual é a melhor estratégia?
Diante da infinidade de informações, muitas vezes errôneas, reside o desafio dos profissionais médicos e médicas nas redes. Como forma de contrapor as falsas promessas relacionadas à obesidade, o médico cirurgião, especialista em cirurgia bariátrica e metabólica, e endoscopia digestiva, Caetano Marchesini, tem utilizado seus canais digitais para esclarecer e tratar com seriedade as questões relacionadas a esse tema.
Na prática, Marchesini relata que tem encontrado engajamento dos pacientes e o interesse no aprofundamento das abordagens. “Mais importante do que estar presente nas mídias é ter um conteúdo que engaje e uma equipe que administre os fatores que envolvem essa interação com quem está nas redes.
É muito fácil desperdiçar tempo e dinheiro sem ter nenhum resultado”, explica o médico cirurgião.
Além do chamado conteúdo orgânico, partilhado espontaneamente pelos usuários, existe a possibilidade de anúncio pago. Embora a prática esteja liberada, o Conselho Federal de Medicina (CFM), estabeleceu algumas regras por meio do “Manual de publicidade médica Resolução CFM nº 1.974/11”, disponível no site da instituição. O objetivo da publicação é preservar os profissionais e pacientes, entendendo os riscos de divulgações equivocadas, estabelecendo. assim, critérios para aplicação.
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Passo a passo para a construção de uma reputação no ambiente digital
O doutor e professor da Universidade Positivo, Sérgio Czajkowski Jr., orienta sobre algumas práticas e cuidados que os profissionais da área médica devem ter nas redes sociais.
A construção de uma estratégia digital ou híbrida não vai depender apenas dos conhecimentos específicos da área em que o profissional atua. Como primeiro passo, a orientação é buscar por um(a) especialista na área de Marketing Digital, que possa esclarecer alguns pontos importantes e trazer clareza sobre aspectos fundamentais da comunicação e negócios como forças e fraquezas, que ajudam a elencar os diferenciais competitivos, e uma análise do público-alvo, ou seja, entender com quem está se comunicando.
“Mesmo aquele médico que é um clínico geral e que, pelo menos no plano teórico, deveria estar conectado a diferentes públicos, necessita de forma muito clara determinar quais são os seus diferenciais e o quanto eles garantem uma prestação baseada na excelência. Um diferencial pode ser a sua tradição em conhecer as características de um determinado grupo etário, ou a de se mostrar solícito a demandas em diferentes horários do dia (via atendimentos on-line e presenciais)”, explica Sérgio Czajkowski Jr.
Além disso, a ética e os cuidados com a tecnologia extrapolam o campo do simples uso da ferramenta. No quadro a seguir, o professor listou quais as atenções e oportunidades que podem ser aproveitadas pelos profissionais.
Tecnologia não é, nunca foi e nunca será a solução para qualquer situação, ou seja, um perfil na rede social não define a carreira de um profissional.
- Reputação é a principal moeda no ambiente digital e diz respeito à percepção do sentimento do público em relação à marca ou ao profissional. É importante agir com cautela, principalmente, no ambiente digital, e saber que leva tempo para construir uma boa imagem, porém segundos para acabar com ela.
- Tornar-se referência implica, simultaneamente, ter autoridade, o que impacta no respectivo campo de atuação, e pode ser obviamente potencializado por meio do uso eficiente das ferramentas digitais.
- “Vida profissional” e a “vida pessoal” – não existe um limite claro no ambiente digital, portanto, é preciso cuidado com as postagens.
- Como forma de fortalecer o relacionamento com outros profissionais e determinados públicos, existem canais de nicho que facilitam o contato. Além disso, é importante reparar e adaptar a linguagem para cada rede social, bem como, as abordagens devem ser pensadas estrategicamente.
- Lucro não é o objetivo final de um profissional da área da saúde, e isso precisa ficar claro na comunicação.
- Contar histórias ao público e partilhar experiência podem gerar engajamento, diferenciando o conteúdo e evitando concentrar a narrativa apenas nas características técnicas.
- Todo profissional, hoje em dia, é um(a) empreendedor(a), não sendo necessário um domínio completo de todos os assuntos, porém é recomendável o entendimento do funcionamento, conceitos e demais metodologias vinculadas ao ambiente digital.
- Pacientes e demais colegas de profissão são aliados! Ao produzir um conteúdo relevante e posicionar-se digitalmente, o médico ou a médica passa a influenciar, e pode ser referenciado(a), o que ajudar na construção da reputação e no crescimento nas redes.
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