No I Congresso Brasileiro de Raciocínio Clínico, reforçou-se a ideia de que aperfeiçoar o processo de diagnóstico é essencial para promover a segurança do paciente
O diagnóstico correto é o primeiro passo para que qualquer paciente receba o tratamento adequado e tenha boa evolução. No entanto, cerca de 10% a 15% dos diagnósticos rotineiramente realizados no exercício da medicina estão errados. E o que é pior: em torno da metade das vítimas de erros diagnósticos acaba tendo complicações sérias devidas ao erro, inclusive a morte. Isso coloca o erro diagnóstico entre as cinco principais causas de morte nos Estados Unidos, segundo dados do relatório “Improving Diagnosis in Health Care”. Compreendendo a gravidade do assunto, o I Congresso Brasileiro de Raciocínio Clínico focou justamente no debate dos processos de raciocínio diagnóstico, nas causas de erros diagnósticos e nas estratégias para sua prevenção, principalmente, porque esse assunto não faz parte da formação da maioria dos médicos.
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Segundo o presidente do Congresso, o nefrologista Pedro Gordan, que tem mais de 40 anos de experiência como clínico e docente, o tema do raciocínio clínico precisa ser cada vez mais debatido, pois pensar de maneira mais segura e eficiente é uma forma de fortalecer a relação médico-paciente e reduzir eventos adversos na assistência à saúde. “Até onde se sabe, esse assunto nunca havia sido discutido abertamente no Brasil. Pensar eficientemente é essencial, mas acaba sendo uma habilidade negligenciada nos cursos de medicina, uma vez que poucas universidades abordam o raciocínio clínico na sua grade curricular de forma estruturada. E esse é um ponto fundamental, que deveria estar presente no decorrer dos seis anos de formação”, pontua.
Com 1,5 mil inscritos e mais de 400 ouvintes por sessão durante a transmissão ao vivo e on-line, o Congresso contou com um público composto por mais de 50% de estudantes de medicina e cerca de 40% de profissionais médicos, dos quais metade eram professores. Em três dias de atividades, eles assistiram às palestras, aos painéis e às discussões de casos clínicos apresentados por convidados de todo o Brasil e também do exterior, inclusive lideranças mundiais do movimento de segurança diagnóstica, tais como o americano Mark Graber, fundador da Society to Improve Diagnosis in Medicine, e o canadense Pat Croskerry, um dos maiores experts em tomada de decisões médicas. “Abrimos um caminho importante para que essa discussão tome forma e seja pautada pelas autoridades educacionais nas universidades do país”, avalia Gordan.
Raciocínio clínico em pauta
O evento foi promovido pelo site Raciocínio Clínico, uma iniciativa fundada em 2017 por Gordan juntamente com o endocrinologista Leandro Diehl e o nefrologista Fabrizio Prado, todos professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL). “A nossa intenção, ao iniciar esse site, foi chamar a atenção e conscientizar médicos e estudantes sobre a necessidade de estudar, aprender e ensinar os processos de raciocínio clínico diagnóstico, com o intuito de prevenir erros diagnósticos e promover a segurança do paciente. Esperamos, sinceramente, que esse trabalho contribua para a formação de médicos melhores, mais preparados para fazer diagnósticos de forma eficiente e segura, que é o que todos os nossos pacientes merecem”, destaca Diehl.
Desde sua fundação, o site já movimentou um milhão de acessos, gerando participação dos editores em eventos e abrindo caminhos para inúmeras parcerias, inclusive internacionais. Na visão de Prado, o portal vem cumprindo o objetivo de levar conhecimento aos profissionais. “O site vem tendo um alcance cada vez maior e tem despertado o interesse de estudantes e docentes, motivando a busca por novas formas de ensino e aprendizagem”. Quem quiser conhecer um pouco melhor esse trabalho, pode acessar o site Raciocínio Clínico em: https://raciocinioclinico.com.br/