Cooperativismo médico e propósito

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Os anseios individuais podem ser atendidos pela coletividade, quando se entende e se respeita o que é coletivo

Por que você é cooperado Unimed? Com o mesmo espírito com que a cooperativa Unimed nasceu há mais de 50 anos, os médicos se cooperam com o objetivo de buscar uma via segura de acesso ao mercado de trabalho, em um ambiente que não apenas gere trabalho e renda, mas que também defenda a dignidade profissional.

O equilíbrio entre os interesses individuais e coletivos parece nortear algumas discussões do homem contemporâneo. Isso porque, vez ou outra, vemo-nos diante desse confronto. A cooperativa parece ser uma das respostas a essa ideia de coletivo que respeita o individual, mas também precisa que o individual respeite o coletivo.

Em suas andanças pelo Paraná, o médico Alexandre Gustavo Bley, diretor Administrativo e Financeiro da Unimed Paraná, leva sua experiência de cerca de 25 anos de profissão, além da experiência em áreas administrativas ligadas a ela, tendo passado pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná de 2003 a 2013, no qual já foi presidente, e ocupado cargos executivos nas Unimeds Curitiba (presidência de 2014 a 2018) e Paraná (diretor, desde 2018).

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Alexandre Bley: um em cada quatro médicos do Brasil é cooperado. Ao cooperar-se, o médico torna-se sócio de seus pares
Reprodução/Unimed Paraná

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Na palestra “Cooperativismo médico – O que Aristóteles tem a nos ensinar sobre o exercício do cooperativismo?”, Bley aborda questões que, embora interessem ao médico de perto, muitos não têm acesso pela própria correria imposta pela profissão. O que sua cooperativa pode fazer por você e o que você pode fazer por sua cooperativa? São perguntas que se interligam de forma que ampliam o universo do médico e impactam na sua vida pessoal e profissional.

Bley lembra que um em cada quatro médicos no Brasil é cooperado. Isso não é pouca coisa. Ao cooperar-se, o médico assume o papel de sócio entre seus pares e torna-se corresponsável por sua Singular (sua cooperativa local). Porém, muitos não entendem o que isso significa, com consequências práticas, para o bem e para o mal em seu dia a dia. Para mostrar as implicações disso, Bley passeia por conceitos importantes, como o próprio empreendedorismo, coletividade, cooperativismo, bem comum e propósito.

É uma verdadeira aula de mercado de saúde, cooperativismo e cidadania. O que por si só já encanta. Porém, vai além uma vez que apresenta aos médicos-cooperados um retrato deles próprios e o desenho de futuro que podem ou não escrever, se assim o quiserem.

Na sua apresentação, Bley não deixa de falar da Tragédia do Comuns e da Teoria dos Jogos. O primeiro é um termo criado pelo economista William Foster Lloyd (1794-1852), e celebrado por Garrett Hardin (1915-2003). O termo refere-se ao ganho individual, que podemos ter em determinado momento, e à perda coletiva (e, portanto, individual também), logo em seguida, quando agimos de forma interesseira. Já a Teoria dos Jogos é um ramo da matemática que estuda situações estratégicas que visam a melhorar resultados. Um dos exemplos mais conhecidos é o famoso dilema do prisioneiro. Nele, o indivíduo reflete sobre qual é a sua melhor vantagem: trair ou cooperar?

Desde a antiguidade grega, a discussão do bem comum e a forma de lidarmos com ele é uma questão bem presente. Aristóteles já destacava o fato de que os homens “dão mais importância à propriedade privada do que aquilo que possuem em coletivo”, esquecendo-se de que, no cuidado com o bem coletivo, também se encontra o cuidado com o individual. Não existe um sem o outro. Isso, entretanto, só acontece quando entendemos nossos verdadeiros ganhos.

Em sua apresentação, Bley expõe um universo interdependente de decisões que todos nós temos que tomar no dia a dia e que se mostra ainda mais complexo quando no coletivo. E numa sociedade cooperativa, essa complexidade toma dimensões importantes. No entanto, são possíveis caminhos. Uma das ganhadoras do prêmio Nobel de Economia de 2009, Elinor Ostrom (1933-2012), por “sua análise da governança econômica, especialmente os comuns”, apontou alguns. Compromisso, governança e comunicação estão entre os itens a serem mais bem trabalhados.

Antes da pandemia, Bley já havia completado um ciclo de palestras, pelas Unimeds do Paraná e até fora do estado, que fez bastante sucesso. Nessa etapa anterior, ele focava a temática mercado de saúde. Nesse novo ciclo de palestras, iniciado neste semestre, a primeira Unimed a ser visitada foi Campo Mourão. Os participantes elogiaram bastante a apresentação.

Os médicos Rodolfo César Visoni Poliseli,
Alexandre Bley e Antônio Carlos Cardoso:
reflexão sobre direitos e deveres na cooperativa

Reprodução/Unimed Campo Mourão

Para o presidente da Unimed Campo Mourão, Rodolfo César Visoni Poliseli, “a palestra trouxe mais conhecimento a respeito dos princípios do cooperativismo. Também nos fez refletir sobre os nossos direitos e deveres dentro da cooperativa. Tudo isso de uma forma direta, com exemplos reais das consequências dos nossos atos em nossa prática diária. Em suma, a palestra trouxe para todos os cooperados, dos mais antigos aos mais novos, a importância de se engajar e participar mais ativamente da cooperativa. Sentimo-nos honrados em ser a primeira Singular a receber esse conteúdo formativo. Recomendamos com muita satisfação às outras Singulares, e esperamos que façam bom proveito da palestra em suas rotinas diárias”, avalia.

A cooperada, médica patologista, Manaira Rosin, também concorda. Para ela, a palestra foi bastante significativa. Manaira lembra que, embora a definição do cooperativismo seja simples (pessoas trabalhando com o mesmo objetivo para o bem comum de todos), é difícil colocar em prática. Nesse sentido, a palestra foi muito boa ao chamar a atenção para pontos importantes, questões que precisam ser mais bem entendidas. Mostrou, ainda, o quanto é fundamental o cooperado participar de reuniões e decisões, que, afinal, vão afetar a sua vida profissional, direta ou indiretamente.

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