Os dois anos da pandemia de Covid-19 têm representado um grande aprendizado para os profissionais da área e direcionam o futuro do setor
A proliferação da variante Ômicron do Coronavírus, no fim de 2021 e no primeiro trimestre de 2022, trouxe indagações sobre o término da pandemia. Há muita cautela dos profissionais de saúde quanto a essa definição, afinal, diante do volume de informações é necessário, muitas vezes, um prazo maior de análise antes de qualquer definição. Segundo o cardiologista, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e do Centro de Epidemiologia e Pesquisa Clínica da Universidade (Epicenter), José Rocha Faria Neto, sem novas variantes esse ‘fim’ seria uma possibilidade.
“Os números de casos por aqui acabam refletindo o movimento de semanas anteriores em outros países. A Ômicron trouxe um pico muito rápido da doença, com grande contaminação por conta da alta transmissibilidade, porém com impacto reduzido de óbitos e internamentos. Se não houver o surgimento de novas variantes podemos entender como um término desse cenário”, explica.
O avanço da cobertura vacinal no Brasil e a imunização daqueles infectados pela Ômicron estão entre as razões elencadas pelo cardiologista como responsáveis por trazer esperança, lembrando que ainda há a questão global envolvida. “Embora estejamos com uma cobertura vacinal adiantada, essa não é uma realidade em países da África Subsaariana e outras regiões. Consequentemente, o vírus continua circulando e, enquanto isso ocorrer, existe a chance de novas variantes. Definitivamente, não temos uma resposta ainda”, pondera.
Para continuar a batalha, água e sabão, distanciamento e máscara continuam dando respaldo para a contenção do vírus. Já nos bastidores da linha de frente, após meses de esgotamento dos profissionais da saúde, algumas medidas adotadas ainda requerem atenção e até aperfeiçoamento. Na avaliação do gerente de Estratégias e Regulação em Saúde da Federação Unimed Paraná, Marlus Volney de Morais, as estratégias e mecanismos de comunicação requerem atenção, afinal, a rápida disseminação de informações pode fornecer suporte aos pacientes e familiares, favorecendo boas práticas.
“Para aqueles que não têm acesso eletrônico, a opção de usar as equipes de saúde de família (no sistema público) para acompanhar as necessidades das pessoas in loco com a participação maciça dos agentes comunitários e voluntários é um caminho. Já no sistema privado, a gestão da saúde deve ter pessoas na organização focadas na captação e disseminação de informações, visando à adoção rápida das melhores práticas para cada momento. A mobilização e a desmobilização de recursos serão constantes até que essa pandemia esteja estabilizada e possamos atender a Covid-19 como doença endêmica”, avalia Morais.
Lições e assistência médica
Dentro da lógica emergencial para conter a Covid-19, a infectologista do Hospital Marcelino Champagnat, Camila Ahrens, observa que esse episódio trouxe contribuições relevantes ao setor e que foram perpetuadas. “Ao longo desse período, foi reforçado o papel da ciência no enfrentamento do novo coronavírus. Buscou-se refletir sobre novas formas de relacionamento e discutimos sobre os inúmeros dilemas éticos que se apresentam, principalmente dentro de casos de exceção”, analisa Camila.
Além do ponto de contenção da contaminação e do tratamento de pacientes infectados, há uma preocupação e alerta para o que se chama de síndrome pós-Covid-19 e dos pacientes com comorbidades. De acordo com Morais, passou a ser uma prioridade dentro do modelo assistencial e na saúde suplementar a sistematização do acompanhamento desses pacientes, somado ao monitoramento epidemiológico. Afinal, junto à questão latente do coronavírus, outras doenças crônicas mantiveram seu desenvolvimento. “Atendemos não só a profilaxia com vacinas para doenças que cursam em paralelo à pandemia, como também o tratamento de condições crônicas que é foco permanente de ações do Sistema Unimed”, explica.
Saiba mais: Fim da pandemia? O que devemos esperar do próximo ano
Segundo o diretor de Saúde e Intercâmbio da Federação Unimed Paraná, Faustino Garcia Alferez, embora estejamos completando dois anos e angariado aprendizados, continuamos a saber pouco. Assim, a assistência médica precisa manter uma atualização constante. “Passaremos a ter um contingente permanente em home office, pois aprendemos ser possível também manter a produtividade na modalidade. No plano assistencial, a ênfase será no gerenciamento dos beneficiários portadores de doença crônicas, para o adequado controle da sinistralidade. Nossa prioridade é o bem-estar do beneficiário e a satisfação do médico-cooperado”, pondera Alferez sobre os planos da Unimed nesse ano.
Balanço da Pandemia
Confira os pontos positivos e negativos para a saúde, segundo o gerente de Estratégias e Regulação em Saúde da Federação Unimed Paraná, Marlus Volney de Morais:
Lado positivo da pandemia:
• Valorização dos estudos científicos para entender as determinações de políticas públicas e privadas e o desenvolvimento de meios eficazes de prevenção de agravos e da morte, como as vacinas e os tratamentos e técnicas para atender os casos graves
• A reflexão sobre a importância de existir um sistema de saúde com estrutura e capacidade emergencial passível de mobilização frente às oscilações de demanda
• Reconhecimento da necessidade de uma boa formação e atuação dos profissionais de saúde em geral
• Avaliações e orientações por meio do teleatendimento
• Reconhecimento da importância dos prontuários clínicos e registros eletrônicos de saúde de todas as pessoas que entram em contato com o serviço de saúde seja público ou privado.
Lado negativo da pandemia:
• Uso político-eleitoral das ações de saúde
• Produção e disseminação de informações sem fundamento científico ou com conteúdo distorcido (fake news)
• Oportunismo financeiro de vários ramos da indústria, do comércio e das administrações públicas, causando mais dificuldades às vidas pessoal e comunitária
• Sobreposição da satisfação pessoal acima da necessidade coletiva de controle da pandemia • Afastamento dos tratamentos crônicos por conta do isolamento
Saiba mais: 5 dicas para melhorar a qualidade de vida e ter mais saúde pós pandemia