Ocupando o segundo lugar em número de escolas médicas e com um aumento recorde no número de profissionais formados no país, o Brasil pode, em breve, viver uma precarização da saúde. Parece contraditório, mas é o que afirma o Conselho Federal de Medicina (CRM). Atualmente, o Brasil conta com 575.930 médicos em atividade, posicionando-se entre os países com o maior contingente de profissionais da saúde em todo o mundo, marcando um ritmo de crescimento rápido.
Esse volume se traduz em uma densidade de 2,81 médicos por cada mil habitantes, superando as taxas observadas em nações, como Estados Unidos, Japão e China, representando a maior proporção já alcançada até o momento. No entanto, esse avanço expressivo traz consigo uma série de preocupações relacionadas à qualidade da formação médica e à eficácia do atendimento à população, evidenciando a complexidade do cenário atual na área da saúde no país.
Os dados são do relatório Demografia Médica 2024, publicado em abril deste ano pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O estudo, que tem como base informações coletadas até janeiro de 2024, oferece um panorama detalhado sobre a educação e a prática médica no Brasil. Os insights fornecidos são fundamentais para a elaboração de estratégias de políticas públicas voltadas para a saúde, o aprimoramento profissional e a educação médica. Por isso, ver um crescimento tão grande do número de profissionais formados e da abertura de novas escolas médicas, aponta para a necessidade de maior fiscalização e rigor com a qualidade do ensino para que o país não sofra com uma queda na qualidade do atendimento médico nos próximos anos.
Disparidade entre regiões
Outro dado importante do relatório tem a ver com a distribuição de médicos pelo Brasil. O levantamento do CFM indica que, embora haja um aumento no número desses profissionais, esse não se traduziu em uma distribuição homogênea pelo país. A região Sudeste, por exemplo, não só ultrapassa a média nacional de 2,81 médicos por mil habitantes, com uma proporção de 3,76, mas também concentra 51% do total de médicos do país, servindo a 41% da população brasileira. Em contraste, a região Norte apresenta proporção bem abaixo da média, evidenciando a desigualdade na distribuição dos profissionais de saúde.
O Nordeste, com 19,3% dos médicos e 26,8% da população, tem uma proporção de 2,22 médicos por mil habitantes, também inferior à média nacional. O Sul e o Centro-Oeste, com proporções de 3,27 e 3,39 médicos por mil habitantes, respectivamente, estão acima da média nacional, refletindo uma melhor distribuição em comparação com outras regiões. Nas capitais, a densidade médica é significativamente mais alta, com uma média de 7,03 médicos por mil habitantes, contrastando com a média de 1,89 no interior. A cidade de Vitória, no Espírito Santo, destaca-se com a maior densidade de médicos, 18,68 por mil habitantes, enquanto algumas áreas do interior do Amazonas enfrentam uma escassez extrema, com uma densidade de apenas 0,20 médicos por mil habitantes, ressaltando os desafios críticos no acesso a serviços médicos em regiões remotas.
A distribuição desigual, conforme destacado pela Demografia Médica do Conselho Federal de Medicina (CFM), para o ano de 2024, intensifica as desigualdades existentes no acesso e na disponibilidade de serviços médicos, apesar do número de médicos ser considerado suficiente pelo CFM para atender às necessidades da população brasileira.
Nas capitais, a densidade médica
é significativamente mais alta,
com uma média de 7,03 médicos
por mil habitantes, contrastando
com a média de 1,89 no interior
O CFM alerta para a necessidade de políticas públicas eficazes que incentivem a migração de médicos para regiões mais carentes e menos desenvolvidas, bem como para o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sexo e idade
A Demografia Médica do CFM para 2024 ainda destaca importantes aspectos sobre os médicos no Brasil. A idade média dos médicos é de 44,6 anos, sendo 47,4 anos para homens e 42 anos para mulheres. Existe uma diferença na experiência profissional, com médicos tendo em média 21 anos de carreira e médicas, cerca de 16 anos. O estudo também aponta para uma crescente feminização da medicina, com mulheres representando 58% dos médicos com até 39 anos, uma tendência que começou a se inverter em 2009. Em 1990, as mulheres eram 44% dos novos médicos, mas no início de 2024, elas já representavam 60%, indicando uma mudança significativa na composição de gênero na profissão médica no Brasil.