A segunda plenária da edição Suespar, neste ano, debateu os principais desafios econômicos e sociais e como isso afeta a saúde e a sociedade, com dois palestrantes especialistas do ramo: Eduardo Giannetti, economista, e Fernando Schuler, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). Com mediação de Omar Genha Taha, diretor de Inovação e Desenvolvimento da Unimed Paraná, os cenários econômicos brasileiro e mundial foram trazidos à luz da discussão para entender em quais situações a economia pode ser afetada e como o setor de saúde pode ser impactado, além de falar sobre o poder da liberdade de expressão.
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Impactos econômicos
Apresentando dados sobre os cenários econômicos brasileiro e mundial, Giannetti falou como a economia é formada por expectativas e possibilidades, e como eventos improváveis podem ou não nos aguardar no futuro. No entanto, de acordo com a visão do economista, há grandes tendências que rodeiam as previsões para o futuro. Uma delas é o fim da hiperglobalização – oriunda da globalização que buscava um aprofundamento internacional por meio de integrações social, cultural, política e econômica. A pandemia e os eventos catastróficos impulsionaram o seu fim, “já que os países perceberam suas vulnerabilidades ao depender de apenas poucos países para a produção de itens necessários”, esclareceu.
Outro tema embasado pelo palestrante foi o Brasil estar no terceiro ano de crescimento e recebendo, finalmente, uma sequência de investimentos. Por outro lado, Giannetti também demonstrou preocupação ao falar da redução da taxa Selic – o que pode aumentar o custo da dívida pública e comprometer o equilíbrio fiscal do país.
Com uma abordagem equilibrada entre preocupação e otimismo, Giannetti apresentou um contexto de crescimento econômico nos últimos anos, com a criação de empregos formais e o número baixo de desemprego nos últimos 12 meses. Apesar disso, ele deu destaque para a informalidade que ainda domina grande parte do mercado de trabalho – que também afeta o setor de saúde suplementar. Ou seja, representa o número elevado de pessoas que não têm acesso à saúde complementar ou outros direitos trabalhistas. “Sendo um dos grandes desafios estratégicos: a diminuição de brasileiros que atuam na informalidade no mercado de trabalho”, destaca o economista.
Impactos culturais em uma nova era
Logo de início, o professor Fernando Schuler trouxe uma introdução à palestra sobre os Marubos, que é um grupo indígena no Brasil, e que tem apresentado uma ruptura geracional e cultural, com a chegada da internet, especialmente os mais jovens que estão perdendo o interesse em práticas tradicionais do grupo. “Não querem mais fazer artesanato ou caçar, acham a cultura de outros povos mais interessantes”, afirma.
A fala do palestrante serviu como introdução para um debate sobre a revolução tecnológica que tem o poder de afetar a sociedade. Ele cita O fim do poder, livro de autoria do venezuelano Moises Naim, que reflete como as mudanças que o mundo passa explicam a transitoriedade e a fragilidade do poder – o que não significa o fim do Estado, mas o ganho de poder dos indivíduos e a curadoria perdida das instituições tradicionais.
Outro autor citado pelo palestrante foi Daniel Kahneman em seu estudo de modelos de pensamento: o Sistema 1 e o Sistema 2. O primeiro seria sobre respostas imediatas, enquanto o segundo fala sobre um modo de pensar mais reflexivo. Com a nova era tecnológica, o Sistema 1 tem sido cada vez mais utilizado, em uma cultura imediatista.
Nesse mesmo tópico, Schuler ainda destaca o conto argentino “Funes, el memorioso”, ao falar sobre a máquina de não esquecimento, em que a memória ocupa todo o cérebro em todo o tempo, sendo um ingrediente letal para a criação de um ecossistema de não esquecimento. Do autor Jorge Luis Borges, o conto retrata a história de Ireneo Funes, que sofre um acidente e desenvolve uma memória infinita. Apesar de receber muita informação ao lembrar de tudo, ao fim do conto, o leitor percebe que, na verdade, aquilo era uma maldição, já que os pensamentos se tornam um fardo levado de maneira desconexa.
Ao fim de sua palestra, ele ainda discorreu sobre as possíveis soluções para a criação de um espaço digital saudável. Entre elas, estão separar fatos de opiniões e valorizar a liberdade de expressão. Além disso, é importante se manter flexível aos mais diversos debates, buscando entender a relevância do dissidente, que tem o papel fundamental para a reflexão crítica em contextos culturais, sociais e políticos.
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