E-saúde: Networking e reflexões
Telessaúde, experiência do consumidor, evolução biológica e habilidades para novas tecnologias, entre outros assuntos movimentaram a edição de 2018
“A saúde no mundo vem passando por mudanças radicais e precisamos assumir o papel de protagonistas nesse processo. O assunto requer compartilhamento e debate amplo envolvendo todos os interessados na cadeia de valor da saúde. O nosso encontro E-saúde assume um papel de agregador nesse ecossistema, multiplicando o networking e o conhecimento e construindo uma matriz sustentável nos pilares fundamentais da gestão: pessoas, processos e tecnologia”, assim define William Procópio dos Santos, diretor de Inovação e Desenvolvimento da Unimed Paraná.
A quarta edição do Encontro de Tecnologia Aplicada à Saúde (E-saúde), que aconteceu, neste último trimestre de 2018, em Curitiba, reuniu cerca de 300 pessoas. Realizado pela Unimed Paraná, o evento tem parceria da PUCPR, Sebrae e Femipa. E, neste ano, contou também com o apoio da Academia Médica. Na pauta, discussão sobre inovação na saúde, mudança de cultura para o processo de inovação e os vários aplicativos e soluções, no mercado e em desenvolvimento, voltados à gestão da saúde.
Michael Kapps, da TNH Health, e Rodrigo Bornhausen Demarch, diretor de Saúde e Inovação da Mantris SP, falaram, respectivamente, de apps de saúde e utilização da tecnologia no apoio ao controle das doenças crônicas não transmissíveis. Fernando Carbonieri, fundador da Academia Médica, coordenou um debate com os dois, no qual foram realçadas as diferenças do Vale do Silício e da cultura brasileira. “Precisamos nos preparar para um ecossistema voltado para inovação no Brasil!”, foi uma das mensagens principais dos participantes do primeiro painel.
No painel seguinte, Daniel Greca, da KPMG Consultoria, falou do modelo baseado em valor, Andressa Gulin, professora de Medicina da Universidade Positivo, sobre a revolução digital e o impacto na gestão da saúde, e Marcelo Dallagassa, da Unimed Paraná, demonstrou as soluções de análise de informações aplicadas à saúde e a descoberta da jornada do paciente dentro dos princípios do modelo baseado em valor.
“A gente nunca deu tanto poder para o indivíduo ser, de fato, humano. Precisamos desenvolver novas habilidades para lidar com as novas tecnologias, mas de um jeito que melhore nossas relações”. A fala da médica chamou a atenção para a importância de debater a psicologia humana quando falamos de tecnologia.
Resistência
Para Andressa, as revoluções e as novas tecnologias mudam a forma de pensar das pessoas e sobrevive quem se adapta à mudança. Assim como Andressa, Daniel Greca, da KPMG, destacou que a tecnologia não é fim, mas um meio, uma ferramenta. Segundo eles, os próximos três anos serão mais turbulentos que os últimos 50.
Para Greca, o grande problema é usarmos a tecnologia apenas como ferramenta e não como estratégia. Esse entendimento acaba por criar barreiras para a transformação em saúde, incluindo falta de visão e de uma cultura organizacional que estimule a inovação. “O setor está atrasado porque é o mais resistente às mudanças”, enfatiza.
Os três palestrantes evidenciaram a importância da transparência, engajamento e foco no paciente. A coordenadora do painel, a professora e pesquisadora Déborah Ribeiro Carvalho, do Programa de Pós-graduação em Tecnologia em Saúde Stricto Sensu da PUCPR, provocou o público sobre o objetivo do painel que tratou a jornada da transformação, deixando uma reflexão de quais seriam os pilares dessa transformação. E, por fim, reforçou a importância da transparência, perguntando a cada um dos palestrantes como ser transparente nos processos de gestão de saúde.
No painel Hospital Digital, coordenado por Flaviano Feu Ventorim, presidente da Femipa, os participantes Cláudio Giulliano Alves da Costa, diretor da Folks, Paulo Paim, coordenador Nacional da Choosing Wisely, Luiz Francisco Cardoso, superintendente de Práticas Assistenciais e Pacientes Internados do Hospital Sírio Libanês, e Jacson Fressato, fundador e CEO da Startup Laura, falaram sobre a importância das certificações e dos hospitais “paperless” (sem papel).
Paulo Paim evidenciou a boa utilização de recursos, a importância da saúde baseada em evidências e as recomendações das sociedades médicas, destacando o quanto o excesso de serviços de saúde pode implicar riscos. Luiz Francisco comentou sobre a aplicação da utilização e implementação dos conjuntos padronizados ICHOM (Consórcio Internacional para Medida de Desfechos em Saúde). O evento foi finalizado com o palestrante Jacson Fressato, que abordou a aplicação na utilização do aprendizado de máquinas baseadas em algoritmos reais para identificação de sepse no ambiente hospitalar.
Mudanças
Na mesa de abertura do evento, estiveram presentes o presidente da Unimed Paraná, Paulo Faria, o presidente da Unimed Curitiba, Rached Hajar Traya, o coordenador do Programa de Pós-graduação em Tecnologia em Saúde Stricto Sensu da PUCPR, professor Percy Nohama, o representante do CRM-PR, Gerson Zafalon Martins, a chefe do departamento de Promoção à Saúde da SESA, Raquel Bampi, e o consultor Paulo Becker, representante da Femipa.
A abertura contou com uma mensagem especial da PUC, na qual o professor Nohama saudou a todos com o poema Deus Humano, de Pe. Irineu Kowalski: “Deus é o indizível/Sombra quando o sol queima/E sol no meio da noite do imenso mistério humano/É sem dimensões quando o procuro dentro/e o sinto do meu tamanho se contemplo o infinito/ Na imensidão dos mundos é o indescritível/ numa criança é a eternidade…”
Paulo Becker saudou a todos e falou da importância da parceria entre a Unimed Paraná e
a Femipa, em eventos como o E-saúde, além de outras ações e atividades que as entidades vêm mantendo em parceria. O médico Gerson Martins, representante do CRM-PR, fez um alerta em meio a todo entusiasmo que o ser humano tem por novas tecnologias. Ele destacou que os conhecimentos atuais e as novas tecnologias disponíveis na prática médica são grandes avanços. No entanto, a oferta de procedimentos em excesso pode causar sofrimento aos doentes, induzindo à distanásia, o prolongamento da vida a qualquer custo.
Transhumanismo
Citando Sandro Spinsanti, professor de Bioética, de Florença, Martins lembrou: “O médico, dominado pela obstinação terapêutica, considera seu dever exclusivo prolongar o mais possível o funcionamento do organismo do paciente, em quaisquer condições em que isso ocorrer, ignorando toda a dimensão da vida humana que não seja a biológica e, sobretudo, negligenciando a qualidade de vida e a vontade explícita ou presumida do paciente”.
Em um tom parecido, o presidente da Unimed Curitiba, Rached Traya, lembrou de uma frase que encontrou em uma Santa Casa, na capital: “Não prometemos impedir a morte, mas juramos promover a vida”. Diante desse mundo em constante transformação, Traya destacou o espírito de humildade de quem lida com a saúde, de quem serve à vida.
Paulo Faria reforçou o coro, destacando que vivemos um momento ímpar da história da humanidade. “De um lado temos o transhumanismo, movimento intelectual que deseja transformar a condição humana, por meio da disponibilização de tecnologias capazes de aumentar as qualidades intelectuais, físicas e psicológicas. De outro, temos ainda realidades avassaladoras, frutos de questões sociais, comportamentais e ambientais, como o descaso com a vacinação, a falta de saneamento básico, de atenção primária, entre outros”.
Faria frisou que discutir tecnologia em saúde significa discutir os rumos que pretendemos dar ao nosso futuro. “Não apenas no ganho de conhecimento e acesso a pesquisas de ponta, mas também no que nos falta de básico. Como a tecnologia pode nos ajudar, de modo a não distanciar ainda mais essas diferentes realidades, mas aproximá-las, permitindo mais acesso e mais qualidade de saúde e de vida à nossa sociedade?”
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