Avelino Ricardo Hass é o tipo de profissional cuja trajetória parece se transformar em lenda com o tempo. Aos 84 anos, ele ainda caminha diariamente, participa de atividades sociais e faz questão de se manter ativo no Clube Duque de Caxias, em Curitiba. No entanto, a entrega à Medicina vai muito além da longevidade ou energia.
Para compreender a trajetória acadêmica e profissional, é necessário destacar os diferentes cursos e as experiências que acumulou durante a vida. Natural de Jaraguá do Sul (SC), chegou à capital paranaense após prestar serviço militar. Não tinha completado o segundo grau, com formação técnica em Contabilidade, mas planejava cursar Odontologia. Por fim, decidiu pela História Natural (atual curso de Biologia).
O fascínio pela Biologia, especialmente pela genética, surgiu durante os estudos de História Natural, em que o uso do microscópio para examinar plantas, algas e outros organismos despertou a paixão pelas ciências. Foi durante esse período que ele começou a considerar a Medicina. “Um colega meu, chamado Wanderlei, o qual também fez Medicina depois, dizia: ‘olha, vamos fazer Medicina’. Não foi muito difícil convencer”, revela.
Essa base em Biologia foi essencial para a proximidade com a Patologia e Citopatologia, áreas que também exigem a observação e análise minuciosa de células e tecidos. Essa formação inicial contribuiu para a longa carreira como professor de Ciências e Biologia no Ensino Médio. Ao longo de quase 30 anos, lecionou para estudantes do Colégio Leôncio Correia, enquanto continuava a evoluir a prática médica, consolidando um conhecimento abrangente que transitava entre o ensino e a prática clínica.
“Quando fui aprovado no concurso do Instituto Médico Legal (IML), tive que fazer uma escolha entre dar aula ou iniciar uma nova experiência. E o Instituto foi uma parte marcante da minha trajetória por mais de 20 anos”, evidencia. A função exigia uma combinação de investigação e ciência. Em muitos casos, o diagnóstico final só poderia ser feito com uma análise microscópica detalhada, destacando a importância do trabalho na elucidação da causa das mortes e na busca pela verdade em circunstâncias misteriosas. Além de médico-legista, Avelino foi também vice-presidente do IML, local em que se aposentou.
Parte da família
Em 1975, fundou o Laborcentro, com mais três patologistas de alguns hospitais da região. E neste laboratório curitibano, localizado na Rua XV, foi deixado um dos personagens importantes de sua carreira, o famoso “Seu Jorge”.
O esqueleto pertence a um jovem de aproximadamente 25 anos, preservado em excelente estado pela integridade da arcada dentária. A peça foi preparada na década de 1960 pelo taxidermista Lukachesky, do Instituto Médico Legal do Paraná, e era parte da coleção do professor Dante Romanó, da Universidade Federal do Paraná.
“Após a venda do Laborcentro, em 2018, levei-o para casa. Meus filhos se divertiam e o apresentavam como ‘parte’ da família às visitas. Inclusive, foram eles que deram o nome”, diverte -se. Atualmente, o esqueleto integra o acervo do Museu de História da Medicina do Paraná.
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Desenvolvimento da Medicina paranaense
O médico teve uma atuação significativa na Associação Paranaense de Patologia (APP). Trabalhou ativamente para a organização e controle de qualidade dos exames anatomopatológicos e citopatológicos. “Surgiu a necessidade de uma organização responsável por esses exames. Então, em 1997, a associação passou a garantir o controle de qualidade dos exames preventivos ginecológicos, como o Papanicolau.”
Sob a liderança de Avelino Ricardo Hass e uma equipe de patologistas, a APP organizava e distribuía verbas destinadas aos laboratórios do estado. “Monitorávamos a precisão dos diagnósticos laboratoriais. Mensalmente, 10% dos exames realizados, tanto positivos quanto negativos, foram revisados pela equipe de Curitiba para garantir a qualidade dos resultados”, conta.
A APP tinha ainda uma forte colaboração com a Secretaria de Saúde do Paraná, para avaliar e aprimorar os processos de controle de qualidade. Esse programa, que começou em 1985, ficou ativo por cerca de duas décadas, garantindo a máxima eficácia e contribuindo diretamente para a melhoria da saúde pública no Paraná.
Além de seu envolvimento prático, Avelino também desempenha um papel de liderança na comunidade médica do Paraná. Entre 2018 e 2019, ele presidiu a Academia de Medicina do Paraná, uma posição de destaque que reflete sua confiança e contribuição no decorrer dos anos.
“Na presidência, assumi uma grande responsabilidade, mas também uma oportunidade de promover a educação médica e incentivar os colegas a sempre buscar mais conhecimento”, compartilha.
Ao refletir sobre o que já conquistou com o espírito inquieto e curioso que possui, Avelino Ricardo Hass afirma sem hesitar: “se eu tivesse que fazer tudo de novo, faria com prazer. Ser professor e médico me trouxe muita satisfação.” Deixa ainda um conselho aos novos profissionais para que nunca parem de estudar. “É isso que faz a diferença entre um bom médico e um médico excepcional.”
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