A prevenção da gestação na adolescência foi alvo recente de polêmica, após uma campanha lançada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) em parceria com o Ministério da Saúde, que colocou o adiamento do início da vida sexual de adolescentes como a principal forma de evitar a gravidez. O tema, porém, é delicado e requer atenção: a gestação nessa fase da vida pode oferecer diversos riscos à mulher e ao recém-nascido.
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Membro do departamento científico da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), Beatriz Bermudez explica que grande parte das adolescentes que engravidam não realizam acompanhamento pré-natal, o que inviabiliza o tratamento de agravos como hipertensão arterial, que põe em risco a vida da adolescente. “Há risco maior de traumatismos na criança e da mãe adolescente no momento do trabalho de parto e nascimento, sequela neurológica no recém-nascido, às vezes baixo peso”.
Gravidez precoce: SBP fala sobre medidas de prevenção
Ela também enumera riscos psicológicos com a falta de rede de apoio para todos: adolescentes e recém-nascido. “Muitos adolescentes evadem a escola com prejuízo enorme para eles, família e para o país. Perdem oportunidade de se preparar para um trabalho mais rentável. Sem chance de retornar, com pouca formação, é maior a chance de manter o ciclo da gestação na adolescência nas próximas gerações”.
Confira os fatores que aumentam os riscos da gestação na adolescência, de acordo com o SBP:
1. Idade menor que 16 anos ou ocorrência da primeira menstruação há menos de 2 anos (fenômeno do duplo anabolismo: competição biológica entre mãe e feto pelos mesmos nutrientes, estando a adolescente ainda em fase de crescimento e maturação puberal final)
2. Altura da adolescente é inferior a 150 cm ou peso menor que 45kg
3. Adolescente é usuária de álcool ou outras drogas lícitas ou ilícitas/cocaína/crack/medicamentos sem prescrição médica
4. A gestação é decorrente de abuso/estupro ou outro ato violento/ameaça de violência sexual
5. Existência de atitudes negativas quanto à gestação ou rejeição ao feto
6. Tentativa de interromper a gestação por quaisquer meios ou medicamentos
7. Existência de dificuldades de acesso e acompanhamento aos serviços de pré-natal
8. Não realização do pré-natal ou menos do que seis visitas de rotina
9. Presença de doenças crônicas: diabetes, doenças cardíacas ou renais; IST: Sífilis, HIV, hepatite B ou hepatite C; hipertensão arterial
10. Presença de doenças agudas e emergentes: dengue, zika, toxoplasmose, outras doenças virais
11. Ocorrência de pré-eclâmpsia ou desproporção pélvica-fetal, gravidez gemelar, complicações obstétricas durante o parto, inclusive cirurgia cesariana de urgência
12. Falta de conexão ou apoio familiar à adolescente, principalmente de sua própria mãe ou do parceiro
Fatores que aumentam os riscos do recém-nato ou do lactente até o primeiro ano de vida, quando nascido de mãe adolescentes
1. Nasce prematuro, pequenos para idade gestacional (PIG) ou com baixo peso (retardo intrauterino)
2. Mede menos do que 48 cm ou pesa menos do que 2.500g
3. Obtém nota inferior a 5 na Classificação do Apgar, na sala de parto ou se o parto ocorreu em situações desfavoráveis
4. Apresenta anomalias, dismorfias ou síndromes congênitas (Síndrome de Down, defeitos do tubo neural ou outras)
5. Se há circunferências craniana, torácica ou abdominal incompatíveis
6. Tem infecções de transmissão vertical ou placentária: sífilis, herpes, toxoplasmose, hepatites B ou C, zika, HIV/AIDS e outras
7. Necessita de cuidados intensivos nas unidades neonatais
8. Apresenta dificuldades na sucção e amamentação
9. Há problemas de higiene e cuidados no domicílio ou contexto familiar como negligência ou abandono, presença de animais ao redor
10. Falta de acompanhamento médico pediátrico em visitas regulares e falhas no esquema de vacinação
Aumento dos riscos para o binômio mãe adolescente – filho recém-nascido (RN)
1. RN apresenta anomalias graves, problemas congênitos ou traumatismos durante o parto (asfixia, paralisia cerebral, outros)
2. Se o RN é abandonado em instituições ou abrigos
3. Quando não acontece a amamentação por quaisquer motivos
4. Se a mãe adolescente sofre de transtornos mentais ou psiquiátricos antes, durante ou após a gestação e parto
5. O pai biológico ou parceiro abandona, se omite ou recusa a responsabilidade da paternidade
6. Quando o RN é resultado de abuso sexual incestuoso ou por desconhecido; ou relacionamento extraconjugal
7. Se a família da adolescente rejeita ou expulsa a adolescente e o RN do convívio familiar
8. Quando a família apresenta doenças psiquiátricas, uso de drogas, álcool ou existem episódios de violência intrafamiliar
9. Falta de suporte familiar, pobreza ou situações contextuais de risco (migração, situação de rua, refugiados)
10. Quando a mãe adolescente abandonou ou foi excluída da escola, interrompendo a sua educação e a não inserção no mercado de trabalho