A campanha de prevenção à gravidez precoce, “Tudo tem seu tempo: adolescência primeiro, gravidez depois”, lançada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) em parceria com o Ministério da Saúde, gerou polêmica por colocar o adiamento do início da vida sexual de adolescentes como a principal forma de se evitar a gravidez na adolescência. Em nota científica, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) questionou o foco da campanha.
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Confira a entrevista realizada com o presidente do departamento científico de adolescência da Sociedade Paranaense de Pediatria, Darci Bonetto:
A Sociedade Brasileira de Pediatria publicou uma nota científica apontando preocupação com a campanha do governo que defende o adiamento do início da vida sexual como medida de combate à gravidez precoce. Por quê?
Postergar relações sexuais pode ser uma escolha saudável, desde que seja uma decisão pessoal e não imposição. Para que os jovens possam tomar esta decisão de forma racional, é importante o empenho de uma educação integral em sexualidade, que vai munir crianças e jovens de conhecimentos e atitudes, capacitando-os a avaliar suas escolhas. Adolescente bem informado e orientado tem conhecimento de que a gravidez precoce interferirá nos seus sonhos e projetos de vida.
A SBP pautada em princípios éticos e embasada em orientações cientificas tem conhecimento da seriedade que é a gravidez na adolescência e seus riscos físicos, psíquicos e sociais. Portanto, apoia e orienta profissionais que dedicam a atenção a saúde na adolescência. Faz parte do atendimento desses profissionais orientar; educar; informar, esclarecer.
Quais as medidas mais eficazes de combater a gravidez precoce?
Medidas que combinem ações para manutenção das adolescentes na escola, a educação integral em saúde reprodutiva e sexual de boa qualidade com linguagem adequada para as diferentes faixas etárias da adolescência que aborde: conhecimento e desenvolvimento do corpo, autocuidado, riscos de uma gestação não planejada na adolescência, a prevenção das infecções sexualmente transmissíveis, acesso aos serviços de saúde e o fornecimento de contraceptivos eficazes para as adolescentes como os contraceptivos de longa duração (DIU e Implantes). A educação e informação adequada são as melhores estratégias para prevenção.
Além da questão da gravidez, que outros riscos estão expostos as adolescentes que têm um início precoce da vida sexual?
Conflitos emocionais dependendo da formação moral e religiosa, exposição à maior número de parceiros aumentando o risco de contrair infecções de transmissão sexual. Devido a imaturidade, o início precoce da atividade sexual pode resultar em gravidez ou doença. Quanto menor a idade, maior a vulnerabilidade. Paternidade e maternidade implicam em restrições, condições emocionais para lidar com o filho.
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E o que seria um início precoce?
Iniciar vida sexual sem ter conhecimento da fisiologia corporal e amadurecimento emocional para avaliar as consequências das suas atitudes. Ser induzida pela curiosidade, pela pressão social, pressão da mídia. Não ter amadurecimento físico e psíquico, viver no mundo da fantasia, não se proteger de infecções de transmissão sexual e nem usar métodos contraceptivos, pensar “isto não acontece comigo”. Além disso, baixa autoestima, falta de afeto familiar, falta de diálogo.
Quando o corpo da menina está pronto para a primeira relação sexual? E a cabeça?
Difícil responder. Acho que nem tem a ver com a menarca, quando vemos meninas tendo relações sexuais antes da menarca em algumas situações. Acho que aqui teria que falar do ponto de vista de imaturidade psicossocial, incapacidade de permitir uma relação. Do ponto de vista biológico, a antecipação da menarca, ocorre quando ainda existe uma imaturidade psicossocial, tornando a jovem mais suscetível ao início da atividade sexual. A sociedade atual é muito permissiva, portanto, contribui para estimular ou pressionar as praticas sexuais sem vincular a responsabilidade.
E para os meninos, muitas vezes pressionados pela sociedade a ter logo sua primeira transa, quais os riscos?
A sociedade machista induz o menino à atividade sexual muito cedo, quando os interesses desse adolescente ainda não estão focados no sexo. Os riscos são aqueles referentes às doenças sexualmente transmissíveis, por não usar camisinha. Não usa por despreparo, no desempenho, estresse e frustração por não saber como se conduzir, preocupação com ejaculação precoce que é normal no jovem imaturo, mas ele nem sempre tem informação.