Pense na inflamação como um alarme de incêndio em um edifício. Quando tudo funciona como deveria, o alarme dispara apenas quando detecta fumaça ou fogo, alertando os bombeiros para apagarem as chamas e protegerem a estrutura. Agora, imagine se esse alarme começasse a tocar constantemente, mesmo sem perigo real, ou se os bombeiros ficassem no local lançando água e destruindo tudo ao redor. Isso é o que acontece no corpo com a inflamação crônica.
O sistema imunológico, o nosso “corpo de bombeiros”, é acionado para combater infecções, reparar danos e manter a saúde. Mas, quando esse sistema permanece em estado de alerta por tempo demais, pode começar a causar estragos onde não há necessidade, danificando tecidos saudáveis e desencadeando uma série de problemas de saúde.
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“A inflamação é um processo biológico essencial para a defesa do organismo contra infecções, lesões e toxinas. No entanto, quando se torna crônica ou desregulada, pode levar a uma série de problemas de saúde, como diabetes, doenças cardíacas e até transtornos neurológicos”, revela a endocrinologista e cofundadora do Instituto Lipelife, de Vitória (ES), Lusanere Cruz.
O que é inflamação?
A inflamação é a resposta do sistema imunológico a agressões externas, como patógenos, toxinas ou lesões. “Os sinais semiológicos de inflamação incluem calor, rubor, dor e inchaço. Embora esses sinais sejam evidentes em muitos casos, nem todas as inflamações apresentam todos esses sintomas, especialmente em órgãos internos cuja dor pode ser menos perceptível”, explica.
de voltar a uma dieta baseada em alimentos naturais
e reduzir o consumo de ultraprocessados para a saúde
intestinal e para a redução da inflamação
A médica esclarece que a dor associada à inflamação pode variar significativamente de acordo com o órgão afetado. Por exemplo, inflamações no rim podem ser extremamente dolorosas ou menos notáveis, dependendo da situação. Em contraste, o intestino é um órgão conhecido por seu baixo limiar de dor e, portanto, as inflamações intestinais frequentemente causam desconforto significativo.
Novo protagonista: o intestino
O intestino desempenha um papel crucial na saúde geral do corpo. Não apenas é responsável pela digestão e absorção de nutrientes, mas também está intimamente ligado ao sistema imunológico e à produção de uma variedade de substâncias, incluindo neurotransmissores e hormônios.
O órgão, que antes era pouco falado, ganhou espaço nas redes sociais, sites de pesquisa e meios clínicos. Frequentemente é referido como o “segundo cérebro” devido à sua complexa rede de neurônios e sua influência na saúde mental e física.
A inflamação intestinal pode ocorrer por diversas razões, incluindo infecções, doenças autoimunes, dietas inadequadas e estresse. As condições inflamatórias mais comuns do intestino incluem a Doença de Crohn e a colite ulcerativa, que são formas de Doença Inflamatória Intestinal (DII). Essas condições podem causar sintomas como dor abdominal, diarreia e, em casos graves, podem levar à desnutrição e outras complicações.
A endocrinologista relata que a inflamação intestinal tem implicações significativas para a saúde geral. “O intestino produz substâncias que afetam diretamente os neurônios e são fundamentais para a regulação de hormônios associados ao peso e ao metabolismo”, informa. Lusanere destaca que a inflamação pode alterar a microbiota intestinal, um fator crítico na digestão e na absorção de nutrientes. A microbiota saudável contribui para a absorção eficiente de vitaminas e minerais, enquanto uma microbiota desequilibrada pode levar a problemas como a má absorção e a inflamação crônica.
A inflamação do intestino pode comprometer a capacidade do organismo de digerir e absorver nutrientes de maneira adequada, possibilitando deficiências nutricionais e afetando a saúde geral. Além disso, a inflamação pode promover a permeabilidade intestinal aumentada, também conhecida como “intestino permeável”, quando toxinas e patógenos podem entrar na corrente sanguínea, aumentando a inflamação sistêmica e contribuindo para doenças autoimunes e metabólicas.
Dieta e inflamação intestinal
A dieta desempenha um papel crucial na gestão da inflamação intestinal. Alimentos ultraprocessados, ricos em gorduras saturadas, açúcares e aditivos podem promover inflamação. Por outro lado, uma dieta rica em fibras, frutas, vegetais e alimentos naturais pode ajudar a reduzir a inflamação e melhorar a saúde intestinal. É positivo investir em alimentos ricos em vitaminas, ômega 3, polifenóis, carotenoides e flavonoides.
Fala-se muito sobre “shots anti-inflamatórios”, entretanto, Lusanere alerta para a generalização de tratamentos e suplementação. “A cúrcuma tem um papel importante nas lesões articulares, porém, também pode causar irritação intestinal. Então, é essencial observar o que cada paciente pode usar.”
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A endocrinologista enfatiza a importância de uma alimentação equilibrada e natural. “Voltar a uma dieta baseada em alimentos naturais e reduzir o consumo de alimentos processados e ultraprocessados são fundamentais para a saúde intestinal e para a redução da inflamação”, afirma.
Como em um edifício com o alarme de incêndio tocando sem parar, é essencial encontrar e desligar a fonte do problema antes que o sistema se desgaste, causando danos irreparáveis. Adotar uma abordagem preventiva e personalizada pode ser a chave para restaurar o equilíbrio e garantir a integridade do corpo como um todo.