A pandemia evidenciou a importância das tecnologias digitais e da inteligência artificial na saúde, com soluções mais eficientes para o setor
A ciência mundial tem se mobilizado desde o ano passado na busca por possíveis tratamentos e contenção do cenário pandêmico. Com isso, o volume de pesquisas produzidas se intensificou e, embora isso signifique maiores chances de encontrar as respostas para sanar o problema, surge a necessidade de garimpar informações para que o processo seja efetivo. Nesse ponto, o uso da Inteligência Artificial (IA) na saúde se tonou um aliado fundamental para o setor.
Conforme explica o vice-presidente de Estratégia e Inovação da Cia Técnica Consulting e autor do e-book ‘O futuro já chegou à medicina’, Cezar Taurion, a IA entra em ação para analisar e cruzar informações, ajudando a identificar o tratamento, além de entender melhor a dinâmica de comportamento de disseminação do vírus. “Encontrar a cura não é uma tarefa fácil, pois a pesquisa por novas drogas tem uma taxa de insucesso de 90%, demora anos e custa entre US$ 2 a 3 bilhões. IA já tem sido aplicada nesse cenário e algumas experiências bem-sucedidas têm mostrado que algoritmos de Deep Learning contribuem muito para acelerar o processo. Um exemplo é a Moderna, que levou uma média de 42 dias entre a liberação do sequenciamento genômico do vírus até que colocasse na fase 1 de testes a sua vacina mRNA”, explica Taurion.
Diante das previsões, essa inclusive parece que será uma estratégia cada vez mais comum no gerenciamento de pandemias. Segundo o especialista, entre as razões que levam a essa conclusão está o uso crescente de dispositivos vestíveis. “São potenciais por apontarem dados como temperaturas, assim, caso em determinado local haja um padrão de reações como ‘febre, por exemplo, acende-se um sinal de alerta”, observa. Isso torna-se possível por conta dos dados gerados tanto pelo conhecimento científico quanto por aqueles fornecidos pelas pessoas que podem ser cruzados e analisados.
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Outra aplicação de IA na saúde observada nesse momento é a aplicação de Mineração de Processos (Process Mining) que é aplicada a fluxos de trabalho e tem colaborado fortemente no controle adequado da jornada do paciente. “A pandemia sobrecarregou o sistema de saúde. E foi necessário buscar por eficiência operacional e redução de custos, o que trouxe uma maior relevância em especial à tecnologia de process mining. Ela permite a entrega de conhecimento sobre os processos, simplificando aos gestores e auditores a realização de planos de melhoria contínua. Além disso, permite a tomada de decisão ágil, uma vez que os usuários sempre são alertados quando ocorrem não conformidades, como desvios da linha de cuidado, tempos excedidos e eventos adversos”, relata o cofundador da UpFlux, Cleiton dos Santos Garcia.
Usufruindo desse recurso para otimizar suas rotinas, a Unimed Federação Paraná já registrou resultados práticos com cases de ganho de 200% de produtividade em seus processos de regulação por meio do uso de process mining.
Próximos movimentos
Com essas tendências emergindo na saúde, os profissionais precisaram atuar de forma transversal com outras áreas. O fator humano continua a ser preponderante nos quesitos de investigação aproximada com os pacientes. Assim, é necessário que as universidades e o próprio médico ou médica reinventem-se. “A prática médica está em transformação e os processos, métodos e modelos deverão incorporar o digital de forma natural. As especialidades da medicina são tão diversas quanto a composição metabólica do corpo humano, e as mudanças tecnológicas vão afetar todas elas, embora de maneira diferente”, reflete Taurion.
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O vice-presidente destaca que assim como em outras profissões, a tendência é impactar mais as áreas que utilizam tarefas facilmente reproduzíveis e informatizáveis, como especialidades que trabalham com análise de imagens, por exemplo. “Os recursos tecnológicos farão diferença se conseguirmos melhorar a prática médica na sua totalidade e isso implica a melhoria da relação paciente-médico. A tecnologia digital e a IA poderão eliminar as tarefas robotizadas, ou seja, ‘tirar o robô’ de dentro do médico e fazer com que ele tenha mais tempo para ouvir e conhecer o paciente, tenha empatia e consiga realizar os exames físicos necessários de forma mais adequada. Não apenas com estetoscópios, mas também com smartphones e sensores portáteis”, avalia Taurion. Ele considera que as habilidades eminentemente humanas continuarão sendo o diferencial profissional. ‘No caso do médico, isso significa sua capacidade de conhecer e saber lidar com essa pessoa que, também, é o paciente”.