As cooperativas do estado do Paraná passam por aperfeiçoamento em seus modelos de intercooperação. Veja mais!
Muito se fala da nova economia que inclui meritocracia de ideias, diversidade, inclusão, sustentabilidade e transparência, entre outros ingredientes. Segundo Diego Barreto, VP de Finanças e Estratégia do IFood e autor do livro Nova Economia, o termo refere-se a um novo modelo de negócio das empresas, com base no investimento em tecnologia e inovação, apoiado em uma gestão ágil, com hierarquias mais flexíveis, diversidade de pessoas e foco em ESG (a sigla vem do inglês Environmental, social, and corporate governance que reúne as governanças ambiental, social e corporativa).
Observa-se que apesar do termo “nova” e do impacto que vem promovendo, a nova economia não surgiu de uma hora para outra. Faz parte de uma maturação de ideias e ideais da sociedade no meio empresarial. Alguns empreendedores veem no cooperativismo um bom exemplo disso. Desde o seu nascimento, em 1844, na cidade de Rochdale-Manchester, no interior da Inglaterra, o cooperativismo possui elementos que poderiam ser facilmente comparáveis à nova economia. Um dos seus princípios, a intercooperação, é um deles.
Esse princípio, segundo Alexandre Bley, diretor Administrativo e Financeiro da Unimed Paraná, traduz a parceria, a conjugação de esforços para uma proposta comum, seja entre cooperados, entre cooperativas de mesmo ramo de atuação, seja entre cooperativas de ramos distintos.
“Essa relação permite a otimização de recursos”, destaca Faustino Garcia Alferez, diretor de Saúde. Para ele, se antes a intercooperação era importante, agora, tornou-se essencial. Omar Genha Taha, diretor de Inovação e Desenvolvimento, destaca o quanto o amadurecimento e o entendimento da importância da intercooperação vêm trazendo ganhos para as cooperativas, cooperados e sociedade.
Durval Francisco dos Santos Filho, diretor de Mercado e Intercâmbio, acredita que o desafio da intercooperação passa pelo entendimento do ganha a ganha que ela promove. “O compartilhamento de recursos, a troca de conhecimento e de serviços entre cooperativas ajudam no fortalecimento delas de forma geométrica, porque reforça propósitos pelos quais elas se ergueram”, avalia.
Intercooperação
No que diz respeito ao Sistema Unimed Paranaense, destaca ele, vive-se hoje um momento muito peculiar de intercooperação, de mais integração entre si e também com outros setores do cooperativismo. Entre eles, o agro e o crédito.
Leia também: Colaboração: os desafios e as oportunidades da intercooperação nos sistemas de saúde
Taha descreve a intercooperação da Unimed no estado em quatro grandes momentos. O primeiro, buscou-se trabalhar como sistema, mas ainda de forma incipiente. Houve todo um esforço para a integração de serviços e fortalecimento da marca, entre as mais de 20 cooperativas Unimeds no Paraná.
Em um segundo momento, buscou-se com afinco a interconexão, com desenvolvimento de ferramentas de TI e de comunicação, de modo a permitir o trabalho em rede, fortalecendo as ações no estado, a partir também de diretrizes e conexão com o Sistema Nacional.
O terceiro momento é marcado por uma intercooperação de forma mais madura, significativa e produtiva, que inclui transformações no trato com custos e contas, de modo a criar sinergia entre áreas e entre as cooperativas do Sistema.
Nesse quarto momento, segundo Taha, percebe-se o crescimento do diálogo entre os diversos modelos de negócios e ramos de cooperativismo, inclusive, com intercâmbio de inovação, o que proporciona maior compartilhamento de serviços.
Os exemplos no Sistema Unimed do Paraná são muitos. Alguns nasceram quase concomitantemente com a própria Unimed. Segundo Alferez, o intercâmbio, que proporciona a unidade entre as cooperativas do Sistema, como o fato de um cliente de Londrina poder ser atendido em qualquer parte do país, é apenas um deles. Os programas Segurança em Alta, que busca a qualificação dos hospitais, o DRG – Diagnosis Related Groups, metodologia adotada em conjunto com vários parceiros, o hospital de alta complexidade que está sendo construído no Biopark, parceria entre as Unimeds Paraná e Costa Oeste, que vai beneficiar toda a região, são alguns modelos de intercooperação. O ambulatório construído no norte pioneiro, parceria entre a Unimed local e a Unimed Paraná, é outro exemplo. Sem contar os projetos Valor em Saúde (modelo de remuneração) e Integra (coleta de dados para desfecho clínico) e a Compar – Sociedade de Compartilhamento e Participações S.A., uma holding do Sistema Unimed Paranaense que reúne as 23 cooperativas do estado, e o Paraná Cooperativo, plano de saúde elaborado especialmente para atender as cooperativas agro.
Todos os diretores são unânimes em lembrar que não existe cooperativa isolada, por sua natureza, ela está imbricada na sociedade, unindo pessoas com propósitos comuns. E, em um mundo, destaca Paulo Faria, presidente da Unimed Paraná, em que estamos buscando cada vez mais sentido naquilo que fazemos, compartilhar soluções intra e extramuros parece ser o caminho natural. “As cooperativas sempre buscaram isso. E este momento da sociedade parece ser de entendimento dessa visão ou ao menos entendimento de que é preciso buscar essa interação”, avalia.
Bley complementa, ressaltando que, se nos primeiros 50 anos de história do Sistema Unimed, a característica de singularidade que lhe é inerente (agir localmente e pensar globalmente, algo inclusive pregado pela sustentabilidade) e a força de sua capilaridade (atua em mais de 80% do território nacional) foram grandes artífices de seu sucesso, a intercooperação, cada vez mais efetiva, será a grande responsável pela sua sobrevivência nos próximos 50 anos.
Movimento ascendente
O termo princípio tem por significado, começo, início, causa primeira, entre outros. Os sete princípios do cooperativismo (Adesão livre e voluntária, Gestão democrática, Participação econômica, Autonomia e independência, Educação, formação e informação, Intercooperação e Interesse pela comunidade) são os norteadores daquilo que significa o movimento.
Quando se fala da intercooperação, o objetivo é possibilitar que as cooperativas prestem melhores serviços aos seus cooperados e ao seu público de modo geral, intercambiando entre si, se necessário, até estruturas. Sejam elas locais, regionais, nacionais ou mesmo internacionais. Tecnicamente, cooperação é a organização da categoria na forma de cooperativa. A intercooperação se faz com a soma dos interesses individuais de categorias.
José Roberto Ricken, presidente do Sistema Ocepar, reforça que a intercooperação é um princípio fundamental do cooperativismo. Não basta só se organizar localmente. A força do cooperativismo está na união entre os vários modelos, ramos, do cooperativismo. Ramos como Saúde, Crédito, Agro, Transportes podem unir propósitos para encontrarem soluções comuns, um oferecendo ao outro os seus serviços e produtos.
O plano de saúde Paraná Cooperativo pode ser um exemplo. A intenção é buscar a união do ramo saúde com o ramo agro, com o objetivo de atender às necessidades de saúde dessa população do campo, uma vez que, em muitas regiões, o produtor rural carece de opções de saúde. Uma parceria como essa, ao mesmo tempo que pode proporcionar a eles uma assistência adequada, revela-se uma oportunidade para as Unimeds locais.
“Quando falamos do ramo agropecuário, no Paraná, estamos falando de cerca de 200 mil cooperados e 140 mil colaboradores, sem contar os seus familiares. Isso pode ser um fator de retenção de cooperados e colaboradores para as cooperativas agro e fatia de mercado importante para as de saúde”, avalia Ricken.
Existem vários modelos de intercooperação no cooperativismo paranaense. Anteriormente, existia apenas o via central, hoje as opções se ampliaram, uma delas é o modelo horizontal. Ou seja, em vez de você criar uma nova estrutura, uma central, as cooperativas se filiam entre elas e aproveitam os investimentos já estabelecidos ou fazem novos investimentos com a participação de novas cooperativas.
“Um exemplo é o projeto malte, que está acontecendo nos Campos Gerais. A cooperativa Agrária tem um mercado na área de malte que é importante. Para atender a demanda crescente, ela teria que dobrar a oferta. Sozinha, dificilmente, ela conseguiria. Porque precisaria de mais de 100 mil hectares para plantar mais cevada. Na região onde ela está estabelecida, não há essa disponibilidade.
Então, cinco cooperativas se juntaram a esse projeto e vão produzir cevada nas suas unidades, no centro-sul”, conta.
Ricken explica que essa força permitiu fazer um novo grande investimento de maltaria que vai atender ao mercado. Essa filiação, essa parceria, faz com que se perca a razão de concorrência entre elas. Isso sem que estejam unidas por uma central. Ou seja, não são cooperativas de primeiro grau que criaram uma de segundo grau, com o objetivo de organizar, em maior escala, os serviços de suas filiadas. Não. São cooperativas independentes (até com centrais próprias, se for o caso), que se unem a outras com propósitos comuns.
O presidente da Ocepar destaca a necessidade de se investir na intercooperação. “Isso dificilmente aconteceria de forma espontânea, pela complexidade que implica. No entanto, resulta em crescimento econômico, redução de custos e fortalecimento do próprio cooperativismo. O que está acontecendo hoje é um passo além do que já foi feito ao longo desses anos. Não só a cooperação local, mas também novas formas de intercooperar”, explica.
Esse movimento vai levar a uma organização ainda maior do setor. Para Ricken, a base está bem sedimentada. No entanto, para se evoluir e verticalizar, é necessária uma sintonia ainda maior. “E, para isso, precisamos investir em novos modelos de intercooperação”, conclui.