Jeito de cuidar: na pandemia, equipe multidisciplinar de Cuidados Paliativos do HGU mantém ações para distribuir atenção no atendimento geral dos internados
Os contatos familiares ficaram restritos aos pacientes do Hospital Geral Unimed de Ponta Grossa (HGU) por conta da pandemia e o Comitê de Cuidados Paliativos não mede esforços para motivar e manter suas atividades mesmo diante dos desafios. Com base nessa cultura do cuidar, o Serviço de Nutrição e Dietética (SND) do Hospital proporcionou uma ação do Dia da Pizza, realizado no último dia 10 de julho, no qual os pacientes com dieta livre e os colaboradores confinados na UTI Covid foram surpreendidos com um saboroso pedaço de pizza!
Leia também: Um interior para inspirar
A nutricionista do SND, Gabriella D’Aquino Lopes, conta que o momento vai além da alimentação. “Mais do que oferecer uma opção para os lanches diários, esse tipo de atividade transforma o ambiente. A alimentação proporciona aconchego e muda a rotina do hospital, que mesmo com gestos simples, estimula o paciente a melhorar o bem estar, o humor e, consequentemente, a aceitação ao tratamento”, conta.
Como destaca a médica especialista em oncologia clínica e clínica médica, responsável do Comitê, Cynthia Holzmann Koehler, o cuidado paliativo não deve ser esquecido mesmo durante a pandemia, e deverá continuar sendo aplicado em conjunto com qualquer tratamento de doença ameaçadora da vida. “Gostaria de desmistificar que o cuidado paliativo é para o paciente que vai morrer, porque não há limites no cuidar. O foco é o paciente, com cuidados amplo, físico, psicossocial e espiritual. Temos medidas que podem ser empregadas para trazer conforto ao paciente, desde estratégias de comunicação de más notícias, controle de sintomas até como lidar com o luto das famílias”, explica.
A especialista destaca, ainda, que está sendo um momento desafiador para colocar em prática todo cuidado. Ela lembra que, apesar de a telemedicina ser uma ferramenta benéfica, o acolhimento físico que pode ser um abraço acaba fazendo muita falta. “Considerando esse momento atípico, com mudanças de rotina na assistência, continuamos atuando para proporcionar o cuidado que esse paciente precisa durante o internamento, seja ele físico, psicossocial ou espiritual. Nesse momento de pandemia, as visitas hospitalares foram suspensas tanto nas alas de internação como na
UTI”, complementa a outra nutricionista da equipe, Ana Paula da Silva.
Totalmente alinhada à filosofia do ‘Jeito de Cuidar’, as ações como o Dia da Pizza são organizadas para atender os desejos dos pacientes, principalmente porque muitos possuem restrições ou passam por uma internação prolongada. Em muitos casos, há uma adaptação da refeição dentro das possibilidades clínicas da pessoa que passa por uma avaliação do médico e da nutricionista. “Se estiver ao nosso alcance e for seguro, nós procuramos atender ao pedido. Pacientes com jejum prolongado, por exemplo, se for possível clinicamente liberar refeições, proporcionamos uma alimentação não só nutritiva, mas comfort food. Já tivemos casos em que liberamos sanduíches com batata frita e refrigerante, chocolates, entre outros”, explica em detalhes a nutricionista.
Escuta ativa
A filosofia do cuidar se multiplica nas equipes multidisciplinar do Hospital Geral Unimed, que envolve as profissionais enfermeiras, técnicos de enfermagem, psicóloga, assistente social, nutricionista, fisioterapeuta, fonoaudióloga e médicos. Durante a pandemia, o desafio também está sendo estabelecer o elo com as famílias. “A equipe escuta cada paciente e tenta oferecer não só todo o cuidado de que ele precisa, mas também pensa na humanização e no aspecto emocional”, destaca Ana Paula, e isso com maior ênfase, agora que as visitas estão suspensas.
Outro episódio que a nutricionista lembra é o café da manhã organizado para uma das pacientes. “Ela estava em finitude de vida, mas falando e lúcida. No momento da minha visita assistencial de nutrição clínica, perguntei por que estava triste e ela me respondeu ‘porque domingo vai ser Dia das Mães e, devido à restrição de visita, não vou conseguir escolher qual filha/ filhos vai estar comigo’. E conseguimos proporcionar a ela um café da tarde com toda a família, os filhos e o marido, de forma humana, segura e de acordo com critérios clínicos”, conta com satisfação sobre o acolhimento que está sendo viabilizado.
Cuidados externos
A rotina mudou drasticamente também, desde meados de março, para os pacientes em tratamento oncológico. Segundo conta a oncologista e clínica médica, Cynthia, o cuidado está ainda mais intenso com restrição domiciliar. “A orientação é evitar a buscar por atendimento em unidades de saúde e hospitais. O objetivo é proteger e evitar exposição ao vírus. Coletas de exames laboratoriais, assim como medicações, estão sendo realizadas em domicílio”, pontua.
Para realizar o acompanhamento, os profissionais têm priorizado o contato telefônico e por vídeo de maneira regular. Caso seja inadiável, a visita domiciliar é realizada. “Quando a avaliação presencial acontece, os profissionais vão individualmente, seguindo um fluxograma”, explica Cynthia, e complementa que a presença da família segue ativa no cuidado desses pacientes, que também estão sendo monitorados quanto ao bem-estar e demais sintomas.
A fim de assegurar o máximo cuidado, os familiares foram orientados sobre higiene pessoal, medidas básicas para combate de infecções, prevenção e controle de sintomas comuns a cada paciente. “Orientamos também a restrição de visitas e minimizamos os espaços compartilhados. Além de fortalecer o vínculo de telemonitoramento”, conclui a médica.
Princípios fundamentais do atendimento paliativo
Confira quais são os principais tópicos elencados pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos em documento para fortalecer atuação mesmo durante a pandemia
Proteção: tanto no âmbito físico, como também no social e no emocional
Proporcionalidade: manter o atendimento conforme a demanda individual do paciente, evitando perdas
Dever de Cuidar: aliviar o sofrimento
Reciprocidade: concentrar esforços naqueles pacientes críticos não candidatos às terapias de suporte de vida
Equidade: disponibilidade para todos os pacientes
Confiança: transparência e honestidade na comunicação, a fim de manter o cuidado fortalecido