Momento de reflexão
Convivemos com uma crise na saúde e, por vezes, acostumamos-nos com ela, como se estivéssemos testando a resiliência de toda a sociedade. A nós médicos cabe uma definição: que saúde queremos oferecer à população? Vamos assumir um protagonismo ou vamos manter uma postura passiva esperando que definam? De forma cristalina, a saúde deste país precisa ser passada a limpo. E nós cooperativistas podemos dar uma lição.
O Sistema Único de Saúde está para completar 30 anos e ainda não conseguiu atender de forma satisfatória a demanda originária da doutrina constitucional que é garantir acesso universal e igualitário às ações de prevenção, promoção e assistência à saúde. Com contornos continentais, uma população acima da casa dos 200 milhões e grande diversidade social, nosso país sofre para oferecer esse direito.
Embora, não seja exclusivo, o profissional médico é peça-chave, para garantir acesso qualificado. De forma contraditória, o poder público faz vistas grossas e abandonou a discussão de restabelecer um plano de carreira para os médicos e outros profissionais da saúde. Há muito não verificamos editais que garantam dignidade a quem está na linha de frente.
Assim como o sistema público, o privado também sofre e a presença de novos modelos tentando ofertar acesso, como aplicativos de saúde, clínicas populares e voucher saúde, só demonstra que o problema é real.
O capital estrangeiro entrou, trouxe investimentos, mas também sua sede por maior lucratividade, muitas vezes, tornando precário o trabalho médico. Muitas Operadoras de Saúde assumiram o modelo verticalizado como forma de regulação assistencial e oferta de preços mais convidativos à população, diminuindo a demanda por credenciamento de médicos. A tendência é que tenham cada vez mais um corpo clínico enxuto e que seja baseado em seu resultado operacional.
Por outro lado, as escolas de Medicina se propagaram, sem que a qualidade do profissional formado seja motivo de preocupação. Muito em breve, teremos 50% a mais de médicos saindo das escolas anualmente, sem que exista política que oriente a distribuição desses profissionais. Do mesmo modo, outras profissões em saúde se aventuram na prática médica, sem que o benefício do paciente esteja à frente.
E o que isso tem a ver com o Sistema Unimed? Há 50 anos nos posicionamos mercadologicamente como uma alternativa ao sistema público, mantendo o mesmo propósito de garantir o acesso à prevenção, promoção e assistência à saúde das pessoas. Além disso, temos um grande desafio: manter vivo o objetivo maior das cooperativas que é gerar trabalho e renda para seus médicos-cooperados.
Até então conseguimos cumprir nosso objetivo com engajamento coletivo e muito trabalho de todos os cooperados. Porém, atualmente, corremos sérios riscos em um mercado regulado e predador. Sem contar o fato de que, a cada momento, somos surpreendidos por novos entrantes.
Precisamos ter consciência de que o panorama mudou e todo esse cenário precisa ser internalizado e discutido no corpo de cooperados. Afinal, somos sócios de uma empresa que, apesar de ter em sua essência os princípios cooperativistas, está inserida nesse mercado e tem que se adaptar para sobreviver.
Se até agora nossa fórmula funcionou, precisamos revisitá-la e entender o que mudou para que possamos fazer os ajustes necessários e garantir segurança às gerações de médicos dentro da cooperativa.
Temos que inovar, mas tendo em mente que o bom cuidado ao nosso paciente é o principal meio para que possamos atingir nosso objetivo, pois dessa forma nos diferenciamos no mercado e entregamos valor e boas experiências aos que nos procuram.
O desenvolvimento de uma prática cada vez mais consciente, o combate ao desperdício e a participação nas decisões, são alguns dos ingredientes necessários para que nossas cooperativas possam ser competitivas e possam dar resposta a uma sociedade que tem clamado por mudanças e vê na assistência qualificada e acessível à saúde, não só um desejo, mas uma necessidade de vida.