A busca por um sistema mais sustentável passa por mudanças de modelo de pagamento e, mais do que isso, pela aplicação das teorias
Nos últimos anos, tem se falado muito sobre as oportunidades e os desafios do setor da saúde suplementar. Seja pela chegada de novas tecnologias, pelo crescimento exponencial na concorrência ou pela forma como atuamos na área, um ponto é inegável: o modelo que conhecemos já não é o mais viável. Dentro dessa discussão, um tópico que se faz mais presente é a necessidade de buscar outras saídas para o modelo de pagamento utilizado atualmente, o fee for service baseado no serviço realizado – que reforça o desperdício dentro do setor da saúde.
O Brasil é um dos países que mais tem faculdades de medicina e forma novos profissionais todos os anos. Contudo, a remuneração médica nos padrões atuais não possibilita, em todos os casos, o retorno de investimento em formações e especializações. “E ainda vale a pena ser médico dentro desse cenário?”, questionou Ricardo Gomes Valente da Silva, gestor de saúde especialista em VBHC (Value-based Health Care), responsável por abrir a plenária PBV: modelos de Pagamento Baseados em Valor. “No meu ponto de vista, sim. Mas, para isso, é necessário haver uma forte união de classe, com métricas para maior valorização dos profissionais e mudança no modelo de pagamento”.
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Para tanto, é necessário entender que o valor em saúde – modelo de pagamento amplamente discutido atualmente – baseia-se em um crescimento positivo dos desfechos clínicos, dividido pelos custos, que precisam ser mais baixos para que a conta feche. Valente destacou a importância de tornar os resultados transparentes para a sociedade, priorizando a centralidade do paciente. “Esse cuidado em saúde deve ser baseado em resultados e centrado nas condições de saúde durante todo o ciclo de atendimento. Além disso, o valor tem que ser gerado pela experiência, escala e pelo aprendizado do prestador na condição médica em questão, com competições regional e nacional”, elencou.
Como fazer essa transformação?
Mudar, porém, não é fácil. Ainda mais quando falamos sobre modelos já enraizados. Contudo, para gerar valor aos beneficiários e transformar tal modelo, é importante estar atento a cinco pilares: foco em Valor, pagamento baseado em Valor, métodos de avaliação de Valor, ajustes de risco com foco na complexidade clínica, e a parte variável da remuneração por Valor. “Ele deve ser inserido em uma estratégia mais abrangente, em que toda a rede seja empoderada com os conceitos de VBHC”, introduziu César Luiz Lacerda Abicalaffe, do Instituto Brasileiro de Valor em Saúde (IBRAVS).
Segundo Abicalaffe, o modelo deve ser híbrido, com parte do pagamento relacionado ao Valor gerado ao paciente, melhorando também a remuneração dos prestadores com os recursos provenientes da redução do desperdício e da melhoria operacional. “Além disso, deve ser transferida ao prestador parte do risco financeiro e da responsabilização pelo cuidado”, complementou.
Vale salientar que o PBV não é uma tentativa de fazer os prestadores realizarem mais por menos, nem um simples gerador de receitas. O foco é reduzir os desperdícios e reinvestir a economia na remuneração variável e em outras ações no sistema de saúde. “E, claro, as perspectivas devem ser consideradas, pois ele não serve para tudo”, reforçou o profissional.
E, como em toda implementação, é necessário ajustar os riscos hospitalares, ambulatoriais e nas linhas de cuidado, considerando questões, como complexidade clínica e perfil de cada paciente. “Como desafios dentro desse modelo, temos a definição de dados e indicadores, a transparência, o alinhamento dos incentivos e, claro, a centralização do paciente e sua aderência”, finalizou.
A experiência Unimed
Com base no Valor em Saúde, o objetivo é claro: alcançar desfechos clínicos de alta qualidade e custo adequado na jornada assistencial, com foco na sustentabilidade do Sistema Unimed. “Temos, à disposição, recursos com o DRG, o Programa Segurança em Alta e o ATS que, na parceria entre prestador, operadora e cooperado, geram o valor necessário ao beneficiário”, detalhou o médico Luiz Henrique Picolo Furlan, da Unimed Paraná.
Os processos e projetos integrados utilizados na Federação objetivam a melhoria do nível de segurança dos processos de atendimento aos pacientes, com base em ferramentas que coletam os indicadores e identificam os desperdícios que podem ser evitados. Além disso, por meio de projetos como o Integra, há a integração dos dados em saúde, que provêm informações assistenciais em um único ambiente de dados, possibilitando o acompanhamento integral da jornada. “É importante começarmos com esses indicadores citados já coletados, e lembrar que esse não é um projeto para longo prazo, mas, sim, para agora. Afinal, a gestão da informação é fundamental para a escalabilidade, que é essencial para a redução de custos”, complementou.
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