O equilíbrio necessário entre receitas e custos

(Foto: Freepik)

Artigo do presidente da Unimed Paraná, Paulo Roberto Fernandes Faria, explicando a necessidade de equilibrar receitas e custos

A elevação dos custos assistenciais tem preocupado sobremaneira a cadeia da saúde, a suplementar, em especial. Os últimos eventos na área da saúde, sejam dentro ou fora do Sistema Unimed, têm aprofundado a questão para tentar entender um pouco mais o motivo desses aumentos tão expressivos. A sinistralidade (relação entre despesas e receitas) dos planos de saúde vem batendo recordes de 90%, chegando, em alguns casos, a 100%, colocando em risco o futuro de muitas operadoras e, consequentemente, do acesso à saúde de seus beneficiários.

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Um dos principais índices que mede a chamada inflação médica é o VCMH – Variação de Custos Médicos Hospitalares. É o mais importante indicador utilizado pelo mercado como referência sobre o comportamento de custos no Sistema de Saúde Suplementar. Esse índice é descolado da inflação comum no Brasil e também em outros países, pois, além dos custos dos serviços de saúde (consultas, exames, procedimentos, terapias, etc.), o cálculo leva em conta incorporações de novas tecnologias, internações de alta complexidade, envelhecimento da população, desperdícios, entre outros.

Em 2021 e 2022, os números chegaram a patamares alarmantes, mais elevados até que os anos de 2015 e 2016, quando os percentuais ultrapassaram 20%. O trabalho “Tendências da variação de custos médico- hospitalares: comparativo internacional”, redigido pelo IESS – Instituto de Estudos de Saúde Suplementar, mostra que “a VCMH do Brasil tem seguido um padrão global de comportamento, similar ao encontrado inclusive nas economias mais desenvolvidas e estáveis.

Paulo Roberto Fernandes Faria
Diretor-Presidente da Unimed Paraná

Por exemplo, a VCMH do Reino Unido é 4,2 vezes superior à inflação geral da economia local, segundo um dos critérios aplicados, enquanto a proporção brasileira, pelo mesmo parâmetro, é de 2,8 vezes”. Número que parece ter aumentado em 2021 e 2022, por vários fatores, dos quais destaco:

• a pandemia – intensificou o número de internações em 2021, principalmente, as de alta complexidade, obrigando todos os serviços a aumentarem sua capacidade de leitos de UTI para atender à demanda.

• procedimentos eletivos represados em 2020 – estudos recentes redigidos pelo IESS apontam aumento significativo dos serviços nos grandes grupos de assistência: consultas médicas (12,82%), outros atendimentos ambulatoriais (30,85%), exames complementares (27,1%), terapias (26,9%) e internações (4,8%). Por consequência, também aumentaram as despesas dos serviços assistenciais (21,2%). Em relação ao período de 2016 a 2021, o número de procedimentos de assistência médico-hospitalar passou de 1,28 bilhão para 1,47 bilhão, aumento de 14,8%. No mesmo período, as despesas com assistência à saúde passaram de R$ 131,1 bilhões a R$ 199,9 bilhões, crescimento de 51,4%.

• a tecnologia e a nanotecnologia – representadas, principalmente, pelo avanço da indústria farmacêutica, por meio de novas medicações com custos elevadíssimos. Para se ter ideia, na carteira da Unimed Paraná, entre os anos 2017 a 2021, tivemos um aumento de 282% nos custos com oncológicos e 360% nos imunobiológicos.

• as mudanças estruturais do setor de saúde suplementar – conduzidas, principalmente, por projetos de lei, no congresso.

Estamos presenciando neste ano de 2022 um fato inédito. Pela primeira vez, o setor da Saúde Suplementar, de forma consolidada, apresentou no fim do primeiro semestre resultados negativos. De forma semelhante, o seguimento cooperativo apresentou, no mesmo período, resultado líquido negativo de R$ 0,8 bilhão.

Não cansamos de nos debruçar para otimizar recursos de modo a garantir um cuidado adequado e acessível. Sabemos que a tecnologia em saúde, em
especial a inteligência artificial, tem permitido avanços no cuidado do paciente, transformando a medicina atual. Entretanto, para que seja efetiva e não, simplesmente, provoque ainda mais desperdício, exige interoperabilidade e deve apoiar-se em cinco Ps: preventiva, preditiva, personalizada, participativa e pertinente. Isso equivale a dizer que o futuro da saúde implica ações concretas e envolve cultura e aprimoramento de processos.

Exige, ainda, desenvolvermos e praticarmos estratégias para o controle de custos e despesas que envolvam: ganhos de escala, gestão de dados, acompanhamento e gerenciamento constante dos resultados, remuneração médica baseada em valor, entre outros. O desafio é alinhar todas as estratégias, estruturas e práticas, com valor para o paciente.

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