O melhor tratamento é a prevenção
Modelo de assistência à saúde vem mudando ao longo dos anos e mostra forte tendência de foco na prevenção
O que você faz quando fica doente? A maioria dos brasileiros corre para o hospital para garantir o alívio da dor, que é tratada com remédios e até com internação. Esse modelo praticado no país, chamado hospitalocên-trico, foi adotado há décadas.
“O modelo assistencial predominante no nosso meio ainda é o curativo. Muitos pacientes ou seus res-ponsáveis acreditam que só a atuação médica ou só o uso de um medicamento pode resolver desequilíbrios da saúde”, explica Marlus Volney de Morais, cirurgião-geral e gerente de Estratégias e Regulação de Saúde da Unimed do Estado do Paraná.
O médico defende que o processo de atenção à saúde tem um desenho focado no profissional e que a formação médica, até recentemente, baseou-se no de-nominado modelo flexneriano, que propõe assistência centrada na doença.
Apesar de estar fortemente presente na rotina da população, esse modelo tem gerado muitos debates e críticas pela ênfase nas ações curativas, medicalização e na atenção hospitalar com uso intensivo de tecnolo-gias. Mas o principal apontamento é que o modelo não individualiza o paciente.
MUDANÇAS
Há abordagens muito diferentes, mas todas con-vergem para o mesmo problema: a assistência à saúde para grandes massas. O assunto vem sendo ampla-mente discutido por profissionais da saúde, governos, indústrias farmacêuticas e organizações prestadoras de serviços no mundo todo, tanto na rede pública quanto na rede privada.
As grandes transformações no perfil da população com O significante aumento dos casos de doenças crônicas, crescimento da população idosa, obesidade, sedentarismo, vem exigindo uma medicina mais integrativa e eficiente. Segundo Morais, a ciência foi demonstrando a necessidade de se repensar várias ações reativas e hoje há uma forte tendência (até exigência de parte da população) para que a atuação dos serviços de saúde seja mais preventiva.
“O financiamento vem sendo muito oneroso para todos e está obrigando a se repensar e enxergar que a falta de cuidado (autocuidado) é catastrófica para as condições de saúde a curto, médio ou longo prazos”, afirma.
O médico acredita que o cenário brasileiro, com a maior conscientização de profissionais e da comunidade sobre a necessidade de proteção e promoção da saúde, já está melhorando.
“Creio que a redução do tabagismo e o aumento da atividade física sejam conquistas desses estímulos à qualidade de vida; mas, ainda temos 50% de sobrepeso e 20% de obesos por alimentação inadequada”, ressalta.
APOIO
Diante desse cenário, a Atenção Primária à Saúde e seu fortalecimento nos planos de saúde foi um dos principais temas de discussão no 4º Fórum da Saúde Suplementar, organizado pela Federação Nacional da Saúde Suplementar (FenaSaúde), realizado no final do ano passado.
Quem também está de olho nos dados é a Agência Na-cional de Saúde Suplementar (ANS), que lançou o chamado Programa de Certificação de Boas Práticas em Atenção à Saúde, por meio da Resolução 440, para incentivar as operadoras de saúde a adotarem ou fortalecerem a atenção bá-sica aos seus beneficiários, por meio de linhas de cuidado em atenção primária e prevenção de riscos.
SUPLEMENTAR
Para Morais, a saúde suplementar tem um grande papel nessa mudança de paradigma por dispor de ações mais rápi-das, mais eficazes e menos politizadas. Segundo ele, o setor percebeu que muitas políticas públicas poderiam ser adap-tadas ao seu modelo de gestão e, com isso, de acordo com experiências em países mais adiantados, sob o ponto de vista da assistência, a área da saúde suplementar pode organizar melhor as redes e os modelos coordenados de assistência.
Faustino Garcia Alferez, diretor de Saúde e Intercâmio da Unimed PR, lembra que só o Sistema Unimed está pre-sente em 84% do território nacional e tem mais de 100 mil médicos cooperados, uma rede com mais de 120 hospitais próprios e sua capilaridade e integração garantem assistên-cia a um “país” com cerca de 18 milhões de habitantes.
“Daí a enorme responsabilidade da Unimed e sua consci-ência de que, sendo constituída por médicos, tem o dever de promover e proteger a saúde da população que atende”, reforça.
No Paraná, o médico acredita que o pioneirismo e a dedi-cação das diretorias da Unimed Federação trouxeram ao es-tado todo o embasamento necessário a transição de modelo que virá, conforme a necessidade premente de racionar cus-tos e aumentar a efetividade de todas as ações empregadas.
Ele ainda destaca a sensibilidade dos dirigentes das Singulares paranaenses em compreender a necessidade da mudança, em buscar aplicar projetos e desenvolvê-los, que está sendo fundamental para que a Federação possa cumprir seu papel indutor e integrador.
REALIDADE
Apesar das inciativas, Morais acredita que a criação de um modelo eficiente ainda pode demorar. Para ele, a questão cultural talvez seja a principal barreira a ser vencida para se adotar um modelo mais racional de assistência. Segundo ele, essa questão envolve toda a cadeia de cuidados que hoje é incentivada predominantemente por volume e não por qualidade ou efetividade nas ações de atenção à saúde.
“Sob o ponto de vista assistencial, a população como um todo esquece que o autocuidado permanente e a adoção de ações preventivas trazem mais benefícios que os métodos de recuperação de saúde. Quando uma lei como a do cinto de segurança, das cadeiras infantis nos automóveis, ou a proibição de venda de bebidas alcóolicas a menores é promulgada, ainda há os que resistam por não entenderem o alcance preventivo real dessas medidas”, acrescenta.
De acordo com Morais, para os prestadores de serviços de saúde em geral, a questão da sustentabilidade está for-temente relacionada ao emprego adequado de uma relação mais humanizada, associada às novas tecnologias disponíveis, porém com avaliação permanente da relação custo–efetividade e ainda com processos gerenciais que se traduzam em resultados alcançáveis, ou seja, que entreguem qualidade assistencial sem desperdícios humanos ou financeiros.