Os desafios da nova economia

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Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, ministrou a plenária “Nova Economia”, durante o 28º Suespar

O microprocessamento e as telecomunicações mudaram a realidade e têm nos forçados a revolucionar à nossa maneira de viver, isso também está chegando à área da saúde.

Há uma revolução acontecendo no mercado nacional nos últimos 15 anos. Isso tem acelerado um processo que não tem volta, apesar da nossa dificuldade em inovar. Para entendermos isso, é necessário pensarmos em como é possível abrir espaço para a inovação em ambientes mais conservadores? Como fazer isso, especialmente, em um país que, historicamente, segue um processo muito linear e hierárquico?

Para Diego Barreto, vice-presidente de Finanças e Estratégia do iFood, que ministrou a plenária “Nova Economia”, durante o 28º Suespar (Simpósio das Unimeds do Estado do Paraná), não é possível entender nossa forma de nos relacionarmos com a inovação, sem olhar para a maneira como o país foi construído. “Somos um país criado a partir de uma lógica pautada na submissão. Não fomos preparados para empreender, questionar e enfrentar os riscos do novo”, disse, provocando uma reflexão sobre a concentração de poder – político e econômico – no Brasil.

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Historicamente, as mesmas famílias que detinham o poder no início dos anos 2000, eram as mesmas de 20 ou 40 anos antes. “Nosso DNA como empresário ou trabalhador é linear e elitista. As grandes referências empresariais são as mesmas há anos, o que faz com que a mudança de poder econômico, responsável por fomentar concorrência e uma série de transformações, simplesmente não aconteça. Nós, historicamente, não gostamos de sair do ambiente que já conhecemos”, destacou.

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No entanto, o que essa resistência à mudança tem a ver com a nova economia? Conforme Barreto, tudo, já que essa maneira de nos organizamos como povo na história reflete nos negócios. “Não gostamos de mudar a estrutura, então não aprendemos a agir diferente, não somos incentivados a inventar e a sonhar grande. Pelo contrário: desde muito novos somos levados a caminhos tradicionalmente mais seguros e estáveis”. Um exemplo é a burocracia quase que inata ao Brasil, presente em diferentes setores e processos. Até pouco tempo, por exemplo, só resolvíamos situações bancárias se fôssemos, presencialmente, a uma agência que só funcionava durante a semana e em horários em que a maioria da população trabalha.

Somente por meio da chegada da tecnologia digital vimos uma abertura no setor, com a criação de bancos e soluções digitais, muito mais acessíveis. “Duas coisas, porém, modificaram radicalmente a realidade: o microprocessamento e as telecomunicações. Antes, a tecnologia digital era associada aos hardwares, que só quem tivesse muito dinheiro acessava. Hoje, não. Se você quiser mandar um conteúdo para outro lugar do mundo, não custa nada. Se criar um software e quiser prestar serviço na Europa, não custa nada. A lógica da criação da tecnologia digital constrói um efeito mundial da escalabilidade acessível. Ou seja, você consegue fazer algo chegar a outros lugares de maneira barata, disponível a todos”, detalhou.

E foi a chegada dessa tecnologia que mudou o mundo que conhecemos e, consequentemente, a economia. Pois, essas soluções oportunizam o acesso democrático a todo tipo de informação que a pessoa desejar, sem barreiras físicas, sociais ou financeiras. “Uma criança, hoje, pode ler sobre o que quiser, entender sobre mercado financeiro, aprender a investir… basta querer e entrar na internet”. E é essa transformação que, há aproximadamente 15 anos, começou uma revolução no mercado brasileiro: novas empresas surgiram e mudaram completamente o segmento em que estão inseridas, aumentando exponencialmente a concorrência e obrigando toda a cadeia a se reinventar.

Isso acontece, pois, segundo Barreto, a tecnologia se torna digital, escalável e acessível, exigindo apenas uma característica para que as coisas comecem a mudar: o protagonismo. “A oportunidade já existe, não é mais algo inalcançável como antigamente, quando você precisava de 20, 30 anos para conseguir colocar uma ideia em prática e alcançar um lugar de relevância. Não, startups e influenciadores são somente alguns exemplos de que, com conteúdo e vontade, é possível testar e se arriscar, mesmo sem ter dinheiro”, completou. “É possível testar com simplicidade, sem tanto medo”.

Dessa maneira, Barreto destacou que as empresas tradicionais, que já têm experiência e passaram por vários ciclos, têm a capacidade de entender essa convergência e aplicá-la em seus negócios. “A tecnologia digital permite que você rearranje a forma de atender o cliente que está na ponta. Ela possibilita a criação e a definição de ferramentas novas, bem como o acesso à informação para que seja possível tomar uma decisão melhor”, destacou, ao reforçar que a nova economia não é sobre startup ou indivíduo, e sim sobre realidade.

Para compreender o novo, porém, é preciso ter disciplina e deixar de lado a nostalgia do que já passou. “Na saúde, urge a necessidade de organização de dados sob a ótica do paciente, dando uma nova dinâmica para a forma como você dá eficiência para a saúde, a exemplo do que tem acontecido com o sistema financeiro e o open banking”. E, engana-se quem acha que essa revolução na saúde está longe. “Tudo é questão de tempo. O ser humano é movido a eficiência, e sempre busca fazer mais com o orçamento igual ou menor. A forma de precificação, inclusive, vai mudar radicalmente e não adianta lutar contra”, afirmou.

Por fim, Barreto destacou que o Sistema Unimed tem todas as oportunidades na mão: presença nacional, organização, marca e reputação. “Não achem que os concorrentes vão esperar o dia que vocês vão decidir agir. Não esperem o mercado mudar para somente correr atrás do prejuízo. A maior oportunidade é do Sistema, mas, enquanto vocês não se movimentarem, a concorrência vai se aproximando e ganhando mercado. E, uma hora, ela chega”.

Intercooperação: hora de deixar o egoísmo para trás

Cooperar vai além de conhecimento, e requer também competência, agilidade e interação

O cooperativismo triunfa em meio às crises. No entanto, para que isso ocorra, é preciso haver vontade de realizar as mudanças necessárias e, mais do que isso, agilidade nessas atuações. Dentro desse cenário de grandes dicotomias políticas, econômicas e sociais que vivemos, ser e pensar de forma individual já não é mais a fórmula do sucesso: o ser humano vive em comunidade e, inevitavelmente, busca mecanismos de interação e integração satisfatórios para todos.

Com essa reflexão, a intercooperação ganha cada vez mais escala dentro das discussões dentro e fora do sistema cooperativo. “Cooperar, afinal, faz parte dessa busca humana”, ressaltou Roberto Rodrigues, ex-ministro e embaixador especial da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) para as cooperativas, na última plenária do Suespar. “O que vemos, hoje, são propostas sem consistência dentro de um cenário nacional muito complexo. Porém, com chances enormes para o cooperativismo ganhar posição, desde que haja competência”.

Com as redes sociais e a globalização, nada mais escapa aos olhos da população, que faz questão de comentar sobre todos os assuntos a que têm acesso. “Com isso, todos sentem-se parte de tudo, parte do processo”, disse Rodrigues, ao lembrar que as cooperativas, mesmo que baseadas em valores e princípios, são empresas. “Portanto, está inserida no mercado, competindo diariamente. E, para encontrar espaço, requer gestão eficiente, profissional e focada”.

E, quando falamos em integração, é necessário frisar que o novo cenário exige não só conhecimento, mas também mudança de comportamento. Afinal, como pontua Rodrigues, cooperar requer também a fidelidade de todos os envolvidos à causa, fortalecendo e transformando o modelo em algo ainda mais necessário. “Precisa haver liderança que, nesse novo cenário, não se faz mais de forma individualizada, mas sim pautada na intercooperação e no fortalecimento da democracia”, finalizou.

Glossário

Cooperação: colaborar, atuar, juntamente com outros, para um mesmo fim; contribuir com trabalho, esforços, auxílio.

Intercooperação: é o sexto, dos sete princípios do cooperativismo (1. Adesão voluntária e livre, 2. Gestão democrática, 3. Participação econômica dos membros, 4. Autonomia e independência, 5. Educação, formação e informação, 6. Intercooperação, 7. Interesse pela comunidade). Diz-se da parceria, da ação conjunta, do relacionamento institucional, político e comercial entre as cooperativas, com o objetivo do fortalecimento mútuo.

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