Pensamento de sócio
Transformações no mercado de saúde suplementar e o posicionamento do cooperado
Qual o futuro do mercado de saúde suplementar, e qual o papel do médico cooperado dentro dessa transformação no Sistema? Essas perguntas foram os temas centrais de dois webinars ministrados pelo diretor de Mercado e Comunicação da Unimed Paraná, Alexandre Gustavo Bley, às Unimeds Paranaguá e Cianorte. Por meio dos encontros, cooperados e dirigentes foram instigados a assumir papéis de protagonismo dentro de suas cooperativas para, dessa maneira, construir um cenário positivo em meio às mudanças de cenário que a saúde suplementar tem passado.
Além da própria criação do Sistema Unimed, a partir de 1967, outros três eixos foram abordados. A presença da regulação da ANS e o custo saúde, a presença do capital estrangeiro fomentando aquisições de hospitais e operadoras, e a pandemia que estamos vivenciando, e tem, acelerado mudanças.
Custos da saúde e desperdícios
Durante a apresentação, o diretor detalhou a presença da marca Unimed no país e a relação da população brasileira com os planos de saúde. Em 2019, somente 22% da população brasileira tinha um plano de saúde e a estimativa era de que apenas 44% da população economicamente ativa era beneficiária de alguma das 727 operadoras existentes.
A explicação para a adesão aos planos de saúde não ser mais alta, porém, é simples: o preço da mensalidade. Quando se analisa atuarialmente o preço a ser cobrado por um plano, o principal componente a ser avaliado é o custo assistencial. Todos têm acompanhado a escalada nos custos da saúde, sendo que vários fatores interferem, desde as transições demográfica e epidemiológica até a frequência de uso dos serviços. “É o esgotamento do modelo dominante, chamado fee for service, ou seja, pagamento por procedimento. Inúmeros estudos demonstram que ele acarreta um desperdício de 25% a 30%”, o que pesa no bolso do consumidor e também nos honorários médicos, explica Bley.
Entre os itens que provocam o desperdício, de acordo com o diretor, está, por exemplo, a burocracia administrativa, o excesso de utilização em métodos diagnósticos e tratamentos, a falta de coordenação no cuidado à saúde e falhas nos atendimentos. Tal desperdício implica no aumento do custo que, por sua vez, deixa os planos mais caros – e menos acessíveis.
Essência cooperativista x necessidades
mercadológicas
Gerar renda e trabalho ao cooperado são as missões do cooperativismo médico e, por sua vez, da Unimed – a maior cooperativa do segmento no mundo. Porém, desde o surgimento da Agência Nacional de Saúde (ANS), que atua como reguladora, o cenário sofreu modificações. “A ANS colocou todas [as operadoras de saúde] no mesmo cesto, e passou a tratar todas da mesma forma. Continuamos com a essência cooperativa, que tem no médico a sua razão, mas nos transformamos em operadora de saúde, que está sob regulação da ANS e precisa avaliar as necessidades do mercado. Isso tem gerado alguns dilemas”, detalha Bley.
A recente presença do capital estrangeiro fomentando o setor de saúde, com aquisições e fusões, tem gerado quebra de paradigmas no trabalho médico e nas relações de mercado, algo que faz lembrar o clima da década de 60, quando o Sistema Unimed começou a ser formado para dar uma resposta da classe médica à mercantilização da saúde.
Com essas transformações, surgiu, de forma ainda mais significativa, a importância de ter outro olhar para o mercado. “Nada mais justo e importante que os cooperados entendam o que está acontecendo no mercado para, assim, preservar sua cooperativa e torná-la mais forte”, diz.
Transformação pelo inimigo invisível – a pandemia de Covid-19
Se antes a adaptação do Sistema já era necessária, o surgimento da pandemia de Covid-19 e, como consequência, o colapso na saúde, forçam uma transformação ainda maior. “Estudos do mundo pós-Covid-19 mostram o disparo no interesse por planos de saúde e seguros de vida, que devem permanecer em alta em longo prazo. Isso se dá principalmente pelo medo e preocupação da população em relação à dificuldade no acesso à saúde, que já existia antes da pandemia e, agora, aumentou ainda mais”, diz.
De acordo com o diretor, tais sentimentos têm moldado as pessoas, fazendo com que a relação com o consumo também mude. “Existe a busca pelo consumo mais consciente, ou mais minimalista, voltado para o que é realmente o essencial”, pontua Bley. “Assim, o momento de insegurança faz com que as pessoas que, claro, têm possibilidade, busquem pela segurança de ter um plano de saúde”.
Ser cooperado é pensar como sócio
Os diversos temas convergiram para aquilo que se mostra inevitável: a transformação que tem ocorrido e as mudanças necessárias que o Sistema Unimed terá pela frente. “Se você quer ver uma mudança, seja o agente da mudança. Temos que inovar, analisar o cenário e ver quais são as necessidades, transformações, o que precisamos fazer para realmente sair daquele estado que a gente já não mais gostaria de estar”.
Bley lembra, por fim, que ser cooperado vai muito além da prestação de serviços aos clientes. “São dois papeis, ambos importantes, que dão sustentação ao Sistema: o de médico e o papel de sócio, que é ser responsável pela sua Unimed, sua Singular”, pontua. “É fundamental ter visão de sócio, não de dono, que pensa que vai fazer o que quer dentro da cooperativa. Ser sócio é, dentro da coletividade, trabalhar para atingir as metas necessárias para que a sustentabilidade da Unimed ocorra e o trabalho médico possa ser exercido da melhor forma”.