Qual o maior desafio da área da
Saúde para os próximos anos?
Talvez, o maior deles, seja o entendimento de que embora saúde não tenha preço, tem custo e é preciso saber encará-lo
QUANDO FALAMOS DO CENÁRIO PÚBLICO, a cirurgiã plástica Neylane Cristina Soares Dutra, da Unimed Foz do Iguaçu, lembra que o SUS, idealizado na década de 1980, tem por objetivo oferecer aos seus usuários atendimento completo e sem desigualdades. Porém, na prática, não é bem assim. Cidades do interior, principalmente, sofrem com falta de profissionais, hospitais, postos de saúde e equipamentos básicos para oferecer à sua população atendimento adequado. “Há uma necessidade de se criar políticas de interiorização da medicina, carreira de médico estatal e melhoria da formação dos profissionais. Sendo assim, os grandes centros tornaram-se sobrecarregados. Isso porque eles deveriam ser apenas referenciados, para aqueles que precisassem de atendimento ultra especializado. Pequena e média complexidades deveriam ter atendimentos, exclusivamente, nas cidades de origem”, defende a médica. No que diz respeito ao cenário privado, Neylane avalia que os planos de saúde perdem a cada dia mais e mais usuários. Muitos não conseguem pagar suas mensalidades e outros deixam os planos por insatisfação da cobertura que possuem. O problema é que “os custos dos planos de saúde aumentam numa proporção não equivalente ao rea-juste, ao mesmo tempo em que não equivalente às coberturas que se tornam obrigatórias ano a ano”. O que faz com que a conta não feche. “Além disso, muitos médicos, insatisfeitos com os honorários que recebem deixam de atender os planos, gerando mais insatisfação aos usuários”, explica. Para ela, há a necessidade de se olhar e se readequar todo o sistema: usuário, plano de saúde, agências reguladoras. Tarefa muito difícil, pois maior cobertura envolve mais gastos, que envolveria maiores reajustes, que não é aceito por quem contrata. Não é segredo para ninguém que o maior desafio da área da saúde nos próximos anos é se sustentar. Neylane avalia que inúmeros fatores contribuem para a falência do sistema público e privado de saúde. “Redução dos investimentos públicos e privados, falta de estrutura mínima, falta de mecanismos de fiscalização, abertura desenfreada de escolas médicas, quantidade absurda de pessoas buscando formação médica em outros países, equívocos na formação profissional, má-remuneração dos profissionais, entre outros”.
Para a cirurgiã, seu papel, nesse cenário todo, é fazer aquilo que julgar adequado para o atendimento pleno de seus pacientes, seja no sistema público ou privado. Minha formação pessoal, familiar e profissional teve uma base que me mantém. “Meu atendimento aos usuários do SUS, planos de saúde ou particulares segue a mesma linha. As diferenças estão na disponibilidade da execução dos serviços, que seguem a orientação de cada segmento”, avalia.
“EU PODERIA DIZER QUE O MAIOR DESAFIO está na prevenção das doenças infecciosas e neoplásicas, por meio de vacinas, exames rotineiros e estudos de mapeamentos genéticos, que nos permitirão evitar tratamentos dispendiosos, sequelas e mortes. Ou poderia sugerir que está em ter unidades de atenção primária bem estruturadas e atuantes, com pleno domínio da população de sua respectiva área, diminuindo os internamentos por complicações cardiovasculares e a mortalidade infantil. Mas não consigo pensar num futuro mais promissor, sem levar em consideração características fortes da nossa atualidade que norteiam o comportamento da população. São raras as pessoas que não usam smartphones, do bebê ao mais idoso. O acesso ao virtual digital não permite dúvidas, basta fazer uma pergunta que alguma explicação surgirá. Não existe tempo ocioso. Não há mais dificuldades, elas foram simplificadas em algoritmos nos diferentes aplicativos. Cito isso porque creio que o grande desafio da saúde para os próximos anos, tendo em vista este cenário, está em definir a melhor informação, em processá-la com tempo, segurança e consciência para poder transmiti-la de tal forma a se obter a melhor compreensão. E assim, o desafio se encontra em alcançar a melhor comunicação interpessoal”.
“UM DOS MAIORES DESAFIOS para a área da saúde é a progressão dos custos das tecnologias ofertadas nessa fase de revolução tecnológica. Percebe-se falta do tempo do profissional devido à necessidade de volume de atendimento maior, por queda das remunerações em geral na área da saúde. Junto a isso, a questão das mídias sociais, encaminha o médico ao excesso de cautela, aumentando solicitação de exames complementares, muitas vezes, desnecessários, fazendo com que o profissional médico deixe cada vez mais de lado a propedêutica, a paciência e o humanismo. Meu papel é o de uma profissional que tem que buscar renovações constantes, e isso inclui estar mais perto das inovações e ajudar a cooperativa a encontrar meios de sobreviver no mercado de forma sadia”.
“O MAIOR DESAFIO PARA A SAÚDE É A CONTENÇÃO DE CUSTOS, uma vez que o honorário médico está defasado e, ainda assim, continua pagando-se valores cada vez mais altos para OPME (Órteses, Próteses e Materiais Especiais) e medicamentos. Isso acarreta um desequilíbrio no sistema de saúde, no qual o honorário médico está muito díspar do que é pago para a indústria farmacêutica. Outros fatores poderão agravar ainda mais o quadro. Um deles é o surgimento, nos últimos anos, do excesso de escolas de medicina, e escolas ruins. O que vai acarretar profissionais menos qualificados, com atendimentos menos resolutivos, ao mesmo tempo em que a tecnologia surge como solução cada vez mais cara. Talvez uma das respostas seja conciliar a medicina superespecialista, que sempre existirá, com a medicina generalista. Pois o futuro da medicina é atender o paciente de forma integral e com uma visão mais dinâmica. Além disso, é fundamental uma medicina mais voltada à prevenção e à promoção da saúde. Por isso, a importância de investimento em especializações mais generalistas. Precisamos ainda estimular políticas apropriadas de saúde, como plano de cargos e salários para médicos do interior, de forma que os profissionais possam ser estimulados a se manterem nesses locais”.
“ACREDITO QUE O MAIOR DESAFIO será manter a qualidade de atendimento médico, aliado à custo acessível. O compromisso com o diagnóstico clínico pode ficar aquém do esperado, resultando em solicitação exagerada de exames para auxiliar no diagnóstico. Nesse cenário, poderá haver aumento de custos dos exames somado à evolução tecnológica, onerando o sistema público e convênios. O custo pode se tornar inviável na saúde pública, assim como para a manutenção de um convênio com baixo valor de mensalidade. Meu papel é manter o melhor diagnóstico clínico possível e humanizado, solicitando apenas os exames necessários, prezando pela saúde do paciente”.
“O SISTEMA HOJE É MUITO VOLTADO A NOVAS TECNOLOGIAS, o que acaba por provocar baixa remuneração dos profissionais de saúde, ao mesmo tempo em que encarece o atendimento. O maior desafio que enfrentaremos na área da saúde, nos próximos anos, será a mudança do modelo assistencial hospitalocêntrico para a atenção primária à saúde. E acredito que esteja no papel de cada um, especialmente, dos que estão em setores decisórios estimular essa mudança”.