Mais de 20% dos médicos entrevistados relataram também que o principal impacto da pandemia foi o aumento do nível de estresse, o que influencia diretamente na saúde mental
Independentemente da sua idade, de onde você mora e do seu nível de escolaridade, é pouco provável que a sua rotina não tenha mudado pelo menos um pouco desde o início da pandemia. Já para os profissionais de saúde, esse processo foi ainda mais intenso. Atuando na linha frente do combate ao coronavírus, e também fora dela, mas dentro de hospitais, clínicas, pronto atendimentos, ambulatórios e quaisquer ambientes de saúde, eles sentiram o impacto do coronavírus na vida pessoal e profissional.
Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que 80% dos profissionais da saúde sentiram que a saúde mental foi afetada negativamente na pandemia. Em contrapartida, apenas 19% receberam algum tipo de apoio nesse sentido.
Para a psicóloga Tuani Savaris, da Unimed Pato Branco, diversos fatores podem influenciar na dificuldade de buscar ajuda psicológica. Porém, é possível afirmar que “muitas pessoas têm dificuldade de reconhecer e validar seus sentimentos, e, em decorrência disso, acabam nem percebendo o adoecimento emocional. Já outras, cientes desse adoecimento, não sabem ao certo como o acompanhamento psicológico poderia ajudar ou acreditam que podem dar conta sozinhas”, afirma.
Além disso, ainda existe na sociedade o tabu de que ir ao psicólogo é sinônimo de ser fraco ou ter alguma doença mental. Muitas pessoas, ainda, têm receio de entrar em contato com os próprios sentimentos e com situações traumáticas ou dolorosas.
“Frequentemente somos impelidos a buscar uma “zona de conforto”, que geralmente não é nada confortável, pois nos mantém em adoecimento”, complementa Tuani.
Outro levantamento, feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), aponta que quase 23% dos médicos entrevistados relataram que o principal impacto da pandemia foi o aumento do nível de estresse. Cerca de 15% dos profissionais também sofreram com medo ou pânico.
“Diante de toda situação nova que foge do nosso controle, temos a tendência de apresentar comportamentos como ansiedade, fobia, pânico, entre outros”, afirma Tuani.
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Além do medo de se contaminar, morrer e perder amigos e familiares – sentimentos comuns à maioria das pessoas durante a pandemia -, os profissionais da saúde tiveram que lidar com a imprevisibilidade da doença, aumento da carga de trabalho, aumento da complexidade dos casos e com o risco de colapso do sistema. Muitos médicos pediram afastamento ou mesmo mudaram de setor.
Em uma entrevista à Agência Brasil, o vice-presidente do CFM, Donizetti Giamberardino, disse que “em todo o mundo, há um relato de perda de força de trabalho, seja por óbito, doença ou estresse. Os indicadores falam de 30 a 40% no mundo e isso aconteceu com o Brasil também”.
Para evitar o adoecimento, segundo Tuani, é preciso investir em inteligência emocional e autoconhecimento, bem como estabelecer limites de trabalho, dividir as tarefas para não se sobrecarregar e buscar a psicoterapia se perceber a necessidade. Ela também alerta que “a Síndrome de Burnout é muito frequente em profissionais da saúde. Então, os cuidados com a saúde mental são muito importantes”.
No Sistema Unimed Paranaense, a psicoterapia está entre os 100 procedimentos mais frequentes que geram coparticipação no PAC – Plano de Assistência ao Cooperado.
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“Estar em psicoterapia é lançar-se para algo desconhecido, para uma necessidade de mudança e para olhar nos olhos de nossas partes mais obscuras. É preciso implicar-se no processo, colocar-se em posição ativa frente à angústia”, orientaTuani.
Dados mais recentes (mês de agosto) mostram também que as condições de saúde psiquiátricas lideram o ranking de utilizações do PAC relacionadas ao CID, com 1.491 beneficiários. Na sequência, vem as neoplasias (1.192) e a hipertensão (1.051).