Um Nobel na mesa do bar

Um Nobel na mesa do bar

Em obra de ficção, autor londrinense transforma vencedor do Prêmio Nobel de Literatura e garçom de hota hotel brasileiro em bons companheiros

 

VISITA DO GRANDE ROMANCISTA AMERICANO WILLIAM FAULKNER, ganhador do Prêmio Nobel de Lite-ratura, ao Brasil na década de 1950, e muita criatividade fo-ram os ingredientes perfeitos para o cardiologista e escritor Marco Fabiani desenvolver seu último projeto, a obra “Um Bourbon para Faulkner”.
O livro, que mescla fatos históricos com personagens e situações fictícias, conta sobre a vinda do famoso autor a um Congresso Internacional de Escritores, realizado em agosto de 1954, em São Paulo. Fabiani explica que o romance des-creve os dias em que Faulkner passa no país e uma amizade improvável com João Clark, garçom do Hotel Esplanada, no qual ele está hospedado.
Faulkner, dono de uma personalidade forte e áspera, não comparece ao evento no qual era convidado especial e passa uma semana no hotel Bourbon, bebendo e conversando com o  garçom, neto de americanos nascido em Americana, cidade brasileira fundada por confederados. Ele e seu novo amigo trocam impressões sobre a vida, a guerra e a paz, a luta pela sobrevivência lá e cá. “Sou um leitor e profundo admirador dos escritos de Faulkner. Fiquei sabendo, por acaso, que ele tinha vindo ao Brasil (fato pouco conhecido). Achei que isso poderia render uma boa história. Comecei uma pesquisa sobre a vida dele. Como ele era fisicamente, sua vida privada, quando e em que circunstâncias escreveu suas obras. Não foi difícil. Existem excelentes biografias dele. E daí foi só transformar o escritor em personagem e contrapor outros personagens ficcionais”, comenta o médico.
A obra, lançada em setembro de 2018, foi ainda trans-portada para os palcos, e foi encenada pela primeira vez em novembro do ano passado no Teatro Mãe de Deus, em Lon-drina. “Um amigo ator tinha falado sobre eu escrever uma peça, há algum tempo. Surgiu assim a ideia de transformar o romance em peça”, revela Fabiani.
O Projeto Faulkner, como foi chamado o conjunto do romance e da peça, foi financiado por meio da Lei Rouanet, principal mecanismo de fomento à cultura no Brasil, e do Programa Nacional de Incentivo à Cultura (Pronac). O médico explica que, seguindo uma das delimitações da Lei, o livro tem uma porcentagem da distribuição gratuita e o espetáculo contará com uma apresentação livre também. 

PEÇA

No teatro, William Faulkner é interpretado pelo ator Apolo Theodoro, um dos fundadores do Festival Internacio-nal de Londrina (Filo). O personagem João Clark é interpre-tado por Donizetti Buganza e o ator Bruno Bazé interpreta vários personagens. “Todos os atores são veteranos dos palcos londrinenses. O Bruno, além de ator é ótimo cantor”, ressalta Fabiani. A produção do espetáculo ficou por con-ta de Christine Vianna, enquanto Caco Piacenti assinou a cenografia. A peça ainda marca a estreia de Igor de Castro Santos como codiretor. A montagem ainda será encenada no Memorial de Curitiba nos dias 24 e 25 de outubro deste ano, com direito a lançamento do livro.

OBRAS

Com 37 anos de profissão, o médico começou a se aven-turar no universo literário em 2004. “A medicina e a litera-tura se entendem bem. Aliás, um clínico que toma o cuidado de ouvir seus pacientes, vai ouvir muitos contos no consul-tório. Vida e literatura se misturam desde sempre. Como não tenho prazo para término de um livro, posso escrevê-lo no meu ritmo”, conta. Apesar da rotina corrida, o médico e é es-critor de três coletâneas de contos: Trilhas do Fogo (2004); Contos de Pau e Pedra (2005); Histórias de um Norte Tão Velho (2019), e dois romances, A Memória é um Pássaro sem Luz (2013) e Um Bourbon para Faulkner (2018). Fabiani ainda participou, como coordenador editorial, do livro “Caça-dores de Relâmpago – Memórias Médicas”, que foi editado em 2009 pela Unimed Londrina e traz relatos de médicos veteranos. “Não sei dizer de onde vem o gosto pela literatura. Sempre gostei muito de ler e sou um grande leitor. Eu me oriento pelo prazer da leitura, não sigo nenhum método. Começar a escrever foi acontecendo aos poucos. Mas, penso que sempre escrevi, de alguma maneira”, confessa.

 

A medicina e a literatura se entendem bem. Aliás, um clínico que toma o cuidado de ouvir seus pacientes vai ouvir muitos contos no consultório

Marco Fabiani

 

SHARE