Uma nova era para os hospitais: o futuro da medicina

As tecnologias que transformarão a saúde já estão em desenvolvimento, e o futuro da medicina promete ser mais eficiente, preciso e humano

Equipamentos modernos poderão identificar doenças que podem passar despercebidas, garantindo tratamentos mais eficazes

A tecnologia está transformando a saúde em um ritmo acelerado, e os hospitais do futuro serão irreconhecíveis em comparação com os atuais. A cada dia surgem mais e mais inovações que vão revolucionar a medicina.

Ricardo Vanicelli, CEO da IN2LIFE — joint venture entre a IT Lean e a Alma Sírio-Libanês — e mentor de Inovação em Saúde na Associação Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS), explica que a Inteligência Artificial (IA) já está sendo incorporada em vários aspectos da medicina, desde o diagnóstico até o tratamento, e está melhorando a eficiência, a precisão e a personalização dos cuidados de saúde.

“Ferramentas de IA estão sendo treinadas para analisar grandes quantidades de dados médicos, como exames de imagem, para identificar sinais de doenças que podem passar despercebidos por olhos humanos. Além disso, a IA está sendo usada para prever quais pacientes têm maior risco de desenvolver certas condições, permitindo intervenções precoces”, conta Vanicelli.

Ricardo Vanicelli, CEO da IN2LIFE, joint venture entre a IT Lean e aAlma Sírio-Libanês, e mentor de Inovação em Saúde na Associação Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS)
Ricardo Vanicelli, CEO da IN2LIFE, joint venture entre a IT Lean e a
Alma Sírio-Libanês, e mentor de Inovação em Saúde na Associação
Brasileira de Startups de Saúde e HealthTechs (ABSS)

Ele observa que os avanços em medicina personalizada permitirão que os tratamentos sejam adaptados às necessidades específicas. Com a ajuda de IA e análises de dados genômicos, os médicos serão capazes de oferecer terapias altamente personalizadas que maximizam a eficácia e minimizam os efeitos colaterais.

Já na gestão hospitalar, sistemas de IA otimizam a gestão de recursos, como atendimento, leitos hospitalares e equipamentos. A automação de tarefas administrativas libera tempo dos profissionais de saúde para que se concentrem mais no cuidado direto ao paciente.

A experiência do paciente

Vanicelli ressalta que podemos esperar uma transformação radical impulsionada por inovações tecnológicas contínuas. Daqui a alguns anos, os hospitais serão ambientes altamente inteligentes e conectados. “Desde o momento em que um paciente entrar em um hospital, sistemas automatizados poderão realizar check-ins, verificar identidades e acessar registros médicos eletrônicos sem a necessidade de intervenção manual. Isso não apenas aumentará a eficiência, mas também melhorará a precisão dos dados e reduzirá o tempo de espera”, aponta Vanicelli.

Ele destaca que os dispositivos de monitoramento contínuo (IoT) permitirão ajustes em tempo real nos tratamentos, com base nos dados de saúde do paciente. Robôs poderão realizar tarefas rotineiras, permitindo que os profissionais de saúde se concentrem em cuidados mais complexos.

Hoje, alguns hospitais já trabalham com o sistema robótico Da Vinci, desenvolvido pela Intuitive Surgical, que tem revolucionado a realização de cirurgias complexas, especialmente em áreas como urologia, ginecologia e cirurgia geral. E a presença dos robôs nas salas de cirurgia será algo cada vez mais normal. Procedimentos cirúrgicos assistidos por robôs serão ainda mais precisos e menos invasivos, reduzindo o tempo de recuperação dos pacientes.

Para o CEO da IN2LIFE, a revolução na saúde, impulsionada por avanços tecnológicos e científicos, está realmente apenas começando, e podemos esperar transformações ainda mais profundas nas próximas décadas. “A IA se tornará ainda mais sofisticada, com algoritmos capazes de aprender e adaptar-se continuamente. Isso permitirá diagnósticos mais precisos, predições de saúde melhores e tomadas de decisão clínicas mais informadas”, reforça.

A telemedicina se tornará uma norma, com plataformas mais integradas e acessíveis. Os cuidados remotos serão expandidos para incluir não apenas consultas, mas também tratamentos e monitoramento contínuo.

“Com essas inovações, surgem desafios, incluindo a necessidade de regulamentação adequada, proteção de dados e garantia de que as novas tecnologias sejam acessíveis a todos, independentemente de localização geográfica ou status socioeconômico”, pondera Vanicelli.

Novas ferramentas

Um exemplo de como a tecnologia já é utilizada para melhorar a saúde e facilitar o acesso aos serviços médicos é a Doctoralia, uma empresa do Grupo Docplanner, maior plataforma de saúde do mundo e líder em agendamento online de consultas no Brasil. A empresa utiliza a tecnologia para aprimorar a jornada de pacientes e médicos, e vê a tecnologia como a base da transformação da saúde, principalmente na experiência do paciente e na evolução da medicina.

“O cenário atual é desafiador para os médicos: carga burocrática excessiva, falta de tempo para se aprofundar nos casos clínicos e a pressão por resultados. Nesse contexto, a tecnologia não apenas simplifica processos, mas também devolve aos profissionais de saúde o que há de mais importante: o tempo para escutar e atender o paciente com qualidade”, garante Felipe Locatelli, gerente de Projetos Estratégicos de IA na Doctoralia.

A empresa tem integrado a IA como um pilar estratégico para transformar a experiência de saúde. É o caso da ferramenta Noa Notes, que automatiza as anotações de consultas e reduz em 30% o tempo dedicado a tarefas administrativas, permitindo que o médico foque o raciocínio clínico e a relação com o paciente.

Felipe Locatelli, gerente de Projetos Estratégicos de IAna Doctoralia
Felipe Locatelli, gerente de Projetos Estratégicos de IA na Doctoralia

A expectativa é expandir o uso do Noa para outras etapas dentro do consultório, agilizando o atendimento antes mesmo de o paciente entrar na sala do médico e otimizando toda a jornada de cuidado.

“Também consideramos o impacto da IA na saúde de forma ampla. Estudos apontam o burnout como uma das principais causas de evasão médica. Com o Noa, nosso objetivo é ajudar a mudar essa realidade, oferecendo uma solução que melhora a eficiência operacional e cria um ambiente onde o médico possa se dedicar integralmente ao que realmente importa: o cuidado ao paciente”, reforça Locatelli.

A telemedicina permite consultas virtuais que aumentam o acesso à saúde e proporcionam conforto aos pacientes
A telemedicina permite consultas virtuais que aumentam o acesso à saúde e proporcionam conforto aos pacientes

Futuro promissor

Segundo o gerente de Projetos Estratégicos de IA, a digitalização da saúde ainda está apenas no começo, mas promete transformar a medicina em uma escala sem precedentes. No entanto, ele ressalta que o cenário ainda impõe muitos desafios.
“Dados da pesquisa TIC Saúde 2024 mostram que apenas 4% dos estabelecimentos de saúde no Brasil utilizam Inteligência Artificial de forma estruturada, enquanto a maioria ainda enfrenta barreiras como falta de infraestrutura, capacitação e integração entre sistemas”, aponta Locatelli.

Apesar disso, ele se mantém otimista com o futuro: “Acreditamos que, com investimentos adequados, incentivos à inovação e capacitação dos profissionais, o setor poderá avançar de forma significativa nos próximos anos, tornando a saúde mais eficiente, acessível e centrada no paciente.”

A adesão à IA generativa entre médicos é de apenas 17%. Esses números mostram um campo fértil para inovações tecnológicas”, afirma Locatelli.

Robôs cirurgiões são capazes de realizar procedimentos complexos com precisão milimétrica
Robôs cirurgiões são capazes de realizar procedimentos complexos com precisão milimétrica

Ele enfatiza que o impacto da transformação digital na saúde será profundo, afetando não apenas o setor de saúde, mas toda a sociedade. As tecnologias de saúde têm o potencial de aumentar o acesso aos cuidados médicos, especialmente em áreas remotas ou subdesenvolvidas.

“A digitalização não se trata apenas de tecnologia: trata-se de humanizar o atendimento por meio de processos simplificados. À medida que a IA avança, ela deve ser usada para fortalecer a relação entre médicos e pacientes, criando um cuidado mais personalizado e eficaz”, finaliza Locatelli.