6 fatores associados à obesidade infantil e dicas para a família

A obesidade infantil é uma questão multifatorial; entenda mais sobre seis dos fatores envolvidos e veja o papel da família neste processo

Uma em cada três crianças brasileiras, com idade entre cinco e nove anos, está com sobrepeso ou obesidade. São dados do IBGE, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que preocupam especialistas.

É o caso de Flávia Grando, educadora perinatal e nutricionista com especialização em Nutrição Materno Infantil, que ministrou um webinar para colaboradores e contratantes da Unimed Paraná, em 27 de maio. O evento foi organizado pela área de Soluções em Saúde da Federação. “É uma tendência nacional preocupante, com necessidade urgente de intervenção”, disse a especialista.

A profissional fez um alerta: as consequências do sobrepeso infantil se estendem para toda a vida, contribuindo para o desenvolvimento de hipertensão e doenças cardíacas precoces, de resistência insulínica em idade jovem e para o risco aumentado de câncer na vida adulta.

Flávia também aponta para o impacto psicossocial da questão: “Crianças obesas frequentemente desenvolvem baixa autoestima, com um impacto direto na confiança pessoal.” Além disso, a qualidade de vida é comprometida desde cedo, com limitações nas atividades cotidianas, e há maior risco de desenvolver depressão e ansiedade.

O que causa obesidade em crianças? 6 fatores associados

O professor Ennio Winther, graduado em Educação Física e com especialização em Nutrição Esportiva, também esteve presente no webinar. Ele ressaltou o caráter multifatorial da obesidade, e ressaltou seis aspectos destacados pela Organização Mundial da Saúde (OMS):

1. Alimentação inadequada

“Hoje há uma alta oferta de alimentos ricos em calorias e pobres em nutrientes”, diz Winther. Ainda, produtos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sódio e com diversos aditivos, contribuem para o problema, com um aumento drástico de seu consumo entre crianças na América Latina.

“Há uma correlação direta entre o consumo de ultraprocessados e o aumento significativo da obesidade infantil. O Brasil segue essa tendência alarmante, o que mostra uma necessidade urgente de políticas públicas”, relata Flávia.

Ela destaca como pontos de atenção refrigerantes e sucos industrializados; salgadinhos e snacks; e alimentos embutidos, como salsicha, presunto, patê, mortadela e salame.

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“A primeira infância é um período crítico para a formação de hábitos alimentares saudáveis, com a responsabilidade primária da família na educação nutricional das crianças”, diz a nutricionista. Ainda, o ambiente escolar partilha a grande responsabilidade de reforçar os bons hábitos alimentares aprendidos em casa.

2. Uso excessivo de telas

O brasileiro passa mais tempo nas telas do que dormindo, com mais de 9 horas diárias. Winther destaca que este tempo prolongado está associado à inatividade e ao aumento do consumo de lanches não saudáveis, contribuindo para o desenvolvimento da obesidade.

A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda, no máximo, duas horas de uso diário para crianças e adolescentes — um número que está bem distante da realidade.

3. Fatores genéticos e metabólicos

Fatores genéticos influenciam a composição corporal, com predisposições genéticas e biológicas. Hormônios associados à regulação do apetite também podem contribuir para a obesidade, como a leptina e a grelina, e há conexões com o estresse — visto que ele eleva o cortisol, que atua sobre a regulação do apetite.

4. Sedentarismo

Winther aponta para a menor prática de atividades físicas regulares por crianças, deixadas de lado também nas brincadeiras. O exemplo familiar também tem impacto: “As crianças imitam os pais, e se eles não praticam atividade física, é menos provável que seus filhos pratiquem.”

A Organização Mundial da Saúde recomenda que crianças de 5 a 17 anos pratiquem ao menos 60 minutos de atividade física moderada a vigorosa por dia, aquela que faz a criança respirar mais forte e suar. Isso envolve:

  • exercícios aeróbicos, como corrida, ciclismo, dança e pular corda
  • atividades que fortalecem músculos e ossos: subir escadas, saltar, brincar de pega-pega
  • exercícios que melhoram a flexibilidade e a coordenação, tais como ginástica e yoga para crianças

O professor, ainda, dá sugestões:

  • brincadeiras ao ar livre — pega-pega, esconde-esconde, pular corda, amarelinha e corrida de saco ou corrida do ovo na colher estimulam a agilidade, velocidade, coordenação motora e gasto calórico
  • brincadeiras com música e ritmo — dança das cadeiras, estátua/dança congelada e brincadeiras com cantigas de roda trabalham o equilíbrio, ritmo, expressão corporal e a motivação contínua
  • brincadeiras com objetos — boliche com garrafas recicladas, arremesso de bola em cestas ou baldes e circuito com obstáculos, envolvendo cones, cordas e bambolês, estimulam a força, coordenação e resolução de desafios motores
  • brincadeiras em grupo — caça ao tesouro com movimento, passar o bambolê sem soltar as mãos e jogo da velha gigante, no chão, incentivam a cooperação, o movimento e o engajamento social

5. Fatores familiares e comportamentais

Conforme destaca Winther, o exemplo dos adultos importa — especialmente o dos pais e cuidadores primários. Hábitos familiares, como falta de rotina saudável e refeições em frente à televisão, tendem a ser reproduzidos pelos pequenos, moldando sua percepção acerca dos hábitos cotidianos.

Além disso, tais lares disponibilizam menos oportunidades de lazer associado ao movimento físico para as crianças. Como o Jornal da USP destacou em reportagem sobre o tema, “Faça o que eu digo, não faça o que eu faço” seria uma expressão adequada para descrever a situação.

6. Aspectos psicológicos

“Ansiedade, estresse e baixa autoestima podem contribuir para a alimentação compulsiva”, destacou Winther em sua apresentação. Ainda, a própria obesidade infantil podem impactar a saúde mental do indivíduo, com preconceitos interferindo na socialização.

E isso pode iniciar um grande ciclo em que, para se proteger dos comentários negativos, a criança se mantém em lugares seguros, como a própria casa, se tornando ainda mais sedentária. Para saber mais sobre o tema, recomendamos a matéria do site de Drauzio Varella, Obesidade infantil: os efeitos na saúde mental das crianças.

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