Dietas e efeito rebote: como regular um organismo desregulado?

efeito rebote
(Foto: Freepik)

A busca por um “corpo perfeito” não é recente. Antes, as capas das revistas eram estampadas com promessas milagrosas relacionadas à perda de peso, geralmente sob a ilusão de uma solução fácil e rápida. Hoje, somos bombardeados a cada segundo com propagandas on-line de remédios, shakes de influenciadores e dietas variadas que, ao invés de contribuírem para uma vida mais saudável, geram o resultado contrário: compulsões alimentares, frustração, efeito rebote e um organismo ainda mais desregulado.

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Você já notou que, após realizar uma dieta restritiva e perder bastante peso em pouco tempo, pareceu muito mais fácil recuperar os quilos extras – e até mais? E, depois, a cada dieta feita, essa perda pareceu ser mais lenta, enquanto o efeito rebote foi mais implacável? Pois é. O nosso organismo, ao ser submetido à privação de nutrientes derivada das dietas restritivas, pode ter suas funções desequilibradas. “A restrição causa uma perda rápida de peso, o que é interpretado pelo cérebro como uma ameaça. Com isso, o metabolismo entra no modo “poupador de energia” e leva à redução da saciedade. Assim, o indivíduo passa a ter uma fixação por alimentos densamente calóricos e passa comer compulsivamente, na maioria dos casos”, explica a nutricionista e colaboradora da Gestão da Atenção à Saúde da Unimed Paraná Simara Pereira.

Esse excesso de dietas inadequadas, por sua vez, produz alterações nas vias intermediárias de disposição de nutrientes, conforme Simara, incluindo a redução de glicose sanguínea e variações nos níveis de insulina e leptina. Por isso, o corpo passa a poupar energia, você para de emagrecer tão rápido e, ainda, enfrenta o efeito rebote. Outro risco de submeter o organismo a tal estresse é abrir as portas para algumas doenças. “Existe um grande risco do acometimento de doenças em virtude da redução e até mesmo de ausência de vários nutrientes, como por exemplo a anemia. Outro fator muito comum é a baixa imunidade, em que os indivíduos ficam suscetíveis a doenças. Também podem ocorrer os transtornos alimentares, como a anorexia e a bulimia nervosa”.

Tudo bem, você já deve ter cansado de ouvir que, para emagrecer ou ter um corpo mais saudável, é necessário praticar atividade física e priorizar alimentos mais naturais. Apesar de ser um discurso comum e, por vezes, até cansativo, não há atalho: apenas reorganizando a sua vida e mudando hábitos inadequados é possível chegar à uma rotina mais saudável. Contudo, como isso pode ser feito na prática? Para Simara, antes de tudo, é necessário analisar como está a sua relação com a comida e, aos poucos, evitar o ato de comer para se acalmar. “Deve ser o contrário: se acalmar para, então, comer. Uma estratégia é praticar o Mindful Eating, que envolve se alimentar com atenção e consciência plena. Assim, os julgamentos são deixados de lado, e você passa a saborear mais cada alimento”, diz.

Na prática, o Mindful Eating sugere que você elimine as distrações nos momentos das refeições, como a televisão e o celular. A hora de comer deve ser realizada com calma, prestando atenção à cada garfada, mastigando de forma correta todos os alimentos ingeridos. Outro detalhe é parar de nomear comidas como “ruins” ou como “lixo”, ou acreditar que uma refeição mais calórica, por exemplo, colocará fim à toda rotina saudável. Aqui, vale a regra: tudo bem abrir exceções, como um almoço em família, aquela macarronada da sua avó ou, até mesmo, as ceias de Natal. Contudo, a exceção, como o próprio nome diz, não deve ser a sua rotina, e nem feita de maneira excessiva.

Por fim, Simara lembra que não existe uma regra única ou uma receita pronta a ser seguida por todas as pessoas, já que cada indivíduo tem gostos, costumes e rotinas únicas. Porém, o Ministério da Saúde disponibiliza um guia prático chamado “10 passos para alimentação adequada e saudável”, que pode ser um bom ponto de partida para quem quer começar a mudar os hábitos:

  1. Fazer alimentos in natura ou minimamente processados a base da alimentação;
  2. Usar óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e cozinhar alimentos, e criar preparações culinárias;
  3. Limitar o consumo de alimentos processados;
  4. Evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos e refrigerantes;
  5. Comer com regularidade e atenção, em ambientes apropriados e, sempre que possível, acompanhado;
  6. Fazer compras que ofertem variedades de alimentos in natura ou minimamente processados;
  7. Desenvolver, exercitar e partilhar as habilidades culinárias;
  8. Planejar o uso do tempo para dar à alimentação o espaço que ela merece;
  9. Dar preferência, quando fora de casa, a locais que servem refeições feitas na hora;
  10. Ser crítico quanto às informações, orientações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais

 

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