Crise financeira faz com que brasileiros busquem planos de saúde mais acessíveis e operadoras se reinventem
A crise econômica que atinge o Brasil nos últimos anos vem transformando a realidade de milhares de empresas. Com as operadoras de saúde, isso não é diferente. Desde 2015, o setor perdeu mais de 3 milhões de clientes que, afetados por questões financeiras, tiveram que renunciar à saúde suplementar para reduzir custos. Para evitar mais perdas ou mesmo a falência, muitas operadoras de saúde foram obrigadas a se reinventar oferecendo produtos diferenciados.
Planos de saúde mais acessíveis, customizados ou segmentados vêm sendo ofertados aos brasileiros com frequência cada vez maior. Neles, o cliente pode escolher atendimentos mais flexíveis, podendo optar por planos que abrangem somente consultas, exames, terapias e/ou atendimento hospitalar.
“Como em todo setor em que há concorrência de mercado e públicos distintos, as empresas naturalmente se organizam para atender diferentes segmentos com diferentes produtos e serviços. Isso acontece na Saúde Suplementar também, mas com uma diferença importante que é a regulamentação da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). Isso significa dizer que uma certa cobertura mínima é exigida de todas as operadoras”, explica Marcos Faccioli, executivo do Santander, especialista na área de Investimentos.
O executivo argumenta que, para ofertar produtos a preços mais acessíveis, as operadoras precisam trabalhar na estrutura de custos, diminuindo as despesas em saúde por meio de uma operação integrada dos serviços prestados. Segundo ele, ao controlar toda a jornada do paciente, da atenção primária ao atendimento de alta complexidade, passando por diagnósticos, terapias e outros serviços de suporte, as operadoras controlam os custos de forma mais eficiente.
Diferencial dos planos de saúde
Atualmente, pouco mais de 47 milhões de pessoas possuem convênios médicos no Brasil, ou seja, apenas 21% da população têm acesso à Saúde Suplementar. Faccioli analisa que, ao adquirir um plano de saúde privado, o cliente compra um privilégio que pode vir na forma de eficiência, rapidez, tecnologia, e na forma de amenidades, como conforto das instalações utilizadas.
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Para ele, os serviços com custos mais baixos têm dois papéis importantes no cenário da Saúde Suplementar. O primeiro é oferecer acesso a quem está fora do sistema suplementar, ou estaria fora se esses modelos não existissem. O segundo é incentivar, por meio da concorrência, que todos os participantes também busquem formas mais eficientes de atenção à saúde.
“O número tem caído desde 2015, voltando ao número de usuários que tínhamos em 2010. Tenho dúvidas se o número de usuários do sistema suplementar seria o mesmo se não houvesse as operadoras de baixo custo”, avalia o executivo.
Os novos produtos da Saúde Suplementar apresentam a possibilidade de o cliente, sem acesso ao plano completo, optar por um produto que atenda suas necessidades, dentro de um determinado orçamento. Já para as operadoras, eles representam uma alternativa para frear a perda de clientes.
“Tipicamente, os produtos dos planos de saúde verticalizados oferecem restrições de escolha. Ao mudar para um desses produtos, o usuário poderá ter que se adaptar a novos profissionais e novas instalações que estejam dentro da cobertura do produto contratado. Mas ‘valer a pena’ é uma pergunta que se faz a quem toma decisão de troca”, ressalta.
Em muitos casos, essa escolha cabe aos empresários que oferecem o benefício aos seus colaboradores. Faccioli pondera que os preços por usuário aumentaram de forma considerável e que o custo com planos de saúde ganhou importância entre as principais linhas de despesas das organizações.
“Nessa hora, as empresas precisam considerar muitas variáveis na decisão e temos observado que o custo tem sido um componente importante”, garante.
Contexto
O executivo frisa que, mesmo nos anos de queda no número de usuários, o total arrecadado pelas operadoras aumentou acima da inflação, porém não significa aumento de margens das empresas, já que as despesas médicas também aumentaram.
Segundo ele, não se pode afirmar que houve um grande aumento dos preços dos procedimentos, mas sim que houve um aumento do volume de consultas, exames, cirurgias executadas. “Isso é um reflexo das características demográficas e epidemiológicas da população e que não devem mudar nos próximos anos”, acrescenta.
Experiência
Para Faccioli, o relacionamento entre operadoras de saúde e usuários está passando por uma grande transformação, e as empresas não podem interagir com seus clientes somente quando eles adoecem, é preciso participar da vida e da saúde das pessoas.
Quando se trata de redução de custos, ele aponta que programas de promoção da saúde e prevenção das doenças também têm se mostrado eficientes nesse sentido, e cita o SUS como modelo.
“Não podemos nos esquecer de que o Brasil tem um Sistema Único de Saúde que é universal e gratuito. Eu menciono o SUS porque seu modelo pode ensinar muito ao sistema suplementar. Obrigado a se manter com orçamento reduzido, o SUS tem como um dos objetivos cuidar da saúde da população e prevenir as doenças. Ao evitar que as pessoas adoeçam, o volume de exames e procedimentos diminui e essa é uma forma muito eficiente de reduzir custos como um todo”, conclui.
Ele avalia que, aos poucos, as operadoras de saúde estão aprendendo que o cuidado preventivo é também um componente de vínculo com a pessoa que diminui a propensão à mudança de plano.
Outro ponto ressaltado pelo executivo é a integração em suas diferentes formas para atendimento e cuidado eficientes. Faccioli pondera que as redes de atenção à saúde implementadas pelo SUS sempre deram grande importância à Atenção Primária. E é a partir desse ponto que um sistema de regulação busca usar os recursos da forma mais eficiente possível.
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No caso da Saúde Suplementar, as operadoras que são integradas podem oferecer pronto-atendimento; atendimento ambulatorial; diagnósticos; terapias e atendimentos hospitalares dentro de uma mesma empresa, o que torna a integração muito mais fácil de ser implementada.
“Quando a operadora não é verticalizada, a integração só vem por meio de muito alinhamento com os prestadores e, para isso, é preciso tecnologia, parceria e objetivos comum. Não sei dizer qual modelo prevalecerá. Algumas seguirão seu caminho de crescimento, outras serão consolidadas e novas surgirão. Mas sou otimista em dizer que estamos avançando na direção de um sistema suplementar que cuide melhor da saúde da população e atenda suas necessidades de forma mais eficiente”, finaliza.