Confira a entrevista com o presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, sobre o aniversário de 50 anos da instituição
Anos 70, uma década que representa um marco para o sistema cooperativista paranaense e brasileiro. Assim como o Sistema Unimed Paraná, foi nessa época que foi fundada a Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), por decisão de 34 cooperativas do estado, que buscavam representação política cooperativista. Chegar à marca dos 50 anos em 2021 significa, acima de tudo, que a entidade manteve-se sempre em busca de inovação para promover os desenvolvimentos econômico e social, transformando a realidade e a vida da sociedade. Como forma de reconhecer esse momento significativo, convidamos o presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, para um bate-papo e uma reflexão sobre esse momento.
Revista Ampla – Como o senhor avalia o crescimento do cooperativismo no Paraná, nesses 50 anos?
José Roberto Ricken – É uma construção coletiva que prosperou com muito trabalho e dedicação. O altruísmo dos pioneiros e a condução norteada em princípios e valores de cooperação estabeleceram o lastro de solidez ao setor. O modelo cooperativo respondeu às demandas dos paranaenses de organização, proporcionando oportunidades de negócios e renda às pessoas e desenvolvimento às comunidades. Desde o início da Ocepar, o foco sempre esteve voltado a três fundamentos: planejamento, investimento e profissionalização. Esses são os elementos vitais que explicam o avanço das cooperativas nos diversos ramos econômicos no Paraná. O movimento ganhou força na agropecuária, na saúde, no crédito e vem se expandindo no transporte, na infraestrutura e no trabalho especializado.
O planejamento estratégico do cooperativismo paranaense sempre esteve presente, desde a década de 70 com o PIC (Projeto integrado de Cooperativismo), até os dias atuais, com o PRC (Plano Paraná Cooperativo). O PRC 100, concebido em 2015 e concluído em 2020, foi a versão mais atual dessa estratégia. Iniciada há 6 anos, o setor evoluiu nesse período de R$ 50 bilhões para R$ 115,5 bilhões em 2020. Na Assembleia Geral Ordinária dos 50 anos, em abril, foi aprovado o PRC 200, novamente com o objetivo de dobrar o faturamento atual. A diferença do cooperativismo do Paraná em relação a outros estados é o fato de que aqui sempre houve planejamento. Se não houvesse planejamento, não seríamos o que somos hoje.
Revista Ampla – Chegar ao Jubileu de Ouro é resultado de um esforço conjunto que oportunizou muitas conquistas no decorrer dessa história. Quais são os pontos a serem destacados nessa trajetória até aqui?
José Roberto Ricken – A Ocepar tem duas grandes missões. A primeira é a função de organizar. O que significa organizar? Somar forças, articular, criar condições de atuação das cooperativas no mercado e planejar. O nome da Ocepar é Organização das Cooperativas do Paraná por esse motivo, portanto organizar é o trabalho mais importante. Na sequência vem a defesa dos interesses das cooperativas, que também é fundamental, a articulação com os poderes Legislativo e Executivo, o trabalho sindical e a ação conjunta com outras entidades representativas.
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Sempre atuamos em todos os temas de importância e impacto no setor nesses 50 anos de atividades. Destacaria os projetos de integração que organizaram o Sistema no início da década de 1970, quando foi constituído, e o programa de autogestão em 1990 e as negociações que deram origem ao Recoop – Programa de Revitalização de Cooperativas de Produção Agropecuária em 1998, um momento de grande dificuldade da economia brasileira, quando houve um descompasso entre a correção das dívidas e geração de receitas. Junto ao Recoop, o cooperativismo conseguiu aprovar o Sescoop (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), que é responsável pelo monitoramento, a capacitação e a promoção social das cooperativas. Isso possibilitou o investimento em infraestrutura de produção e serviços, hoje sendo mais de 116 mil empregos gerados nas cooperativas, que necessitam de um sistema poderoso de capacitação realizado pelo Sescoop/PR. E hoje, a Ocepar, o Sescoop/ PR, juntamente à nossa Federação, a Fecoopar, integram o Sistema Ocepar.
Revista Ampla – Na liderança da organização, o que o senhor identifica como desafio e perspectiva futura para o cooperativismo paranaense?
José Roberto Ricken – Não há espaço para soluções imediatistas. Temos que seguir na nossa linha, que é organizar economicamente as pessoas para que elas tenham mais renda e conquistem uma condição social melhor e não precisem depender de ninguém. E isso se faz com o cooperativismo. As pessoas estão em busca de novas oportunidades que gerem renda e melhores condições de vida, com sustentabilidades ambiental, social e econômica. É isso que o cooperativismo propõe, pois o foco está nas pessoas. Desde o século 19, os princípios que norteiam o cooperativismo estão voltados para a sustentabilidade, a transparência, a equidade, a autogestão democrática, muito tempo antes dos atuais conceitos de responsabilidade social. Esse modelo de negócios será cada vez mais adequado às demandas do futuro. As cooperativas têm um compromisso inerente e permanente com as comunidades onde atuam e se fortalecem por meio da cooperação. É um diferencial que vai ao encontro dos anseios das novas gerações.
Revista Ampla – Estamos enfrentando uma pandemia e, provavelmente, não será a última crise econômica e social. Embora esse momento seja emblemático, como a Ocepar tem enfrentado o cenário e o que busca para dar sustentabilidade aos negócios?
José Roberto Ricken – Penso que a pandemia evidenciou a importância das cooperativas nesse momento de dificuldade. As atividades que realizamos são essenciais, a exemplo da assistência à saúde, da produção de alimentos, do crédito e do transporte. Muito importante destacar a ação das cooperativas de saúde. Um terço da população do Paraná tem na Unimed seu plano de saúde, e esse ramo e essas pessoas estão atuando de forma heroica. Fora a estrutura do governo, o SUS, o segundo grande movimento de amparo está sendo feito pelas cooperativas de saúde. Para mim ficou clara uma mensagem: a sociedade passou a ver a importância do sistema cooperativo organizado do Paraná. Também não faltou alimento, porque o setor produtivo permaneceu trabalhando. As agroindústrias e cooperativas não pararam, apenas ajustaram sua forma de atuar em função dos riscos da pandemia.
Revista Ampla – Em um mundo cada vez mais informatizado, como a Ocepar tem se preparado para essa transição e incluído os cooperados nesse meio?
José Roberto Ricken – A pandemia acelerou o processo on-line de tomar decisões. Poderia dizer que há pouco mais de um ano, se propuséssemos fazer uma reunião virtual, acho que não conseguiríamos executar. Quando tudo passar, acho que vai ser difícil que tenhamos uma agenda grande de reuniões presenciais. Tivemos avanços na forma de trabalhar que serão permanentes. Com tanta tristeza que essa pandemia trouxe ao mundo, ao menos teremos transformações, apesar desse momento de sofrimento e angústia que estamos passando. Diante das inovações, é preciso oferecer o treinamento e as condições adequadas de trabalho on-line aos profissionais do cooperativismo. Essa é uma ação que já vem sendo executada pelo Sistema Ocepar, com a adaptação e flexibilização dos programas e cursos realizados. Da mesma forma, o programa de inovação e a intensificação das ações de intercooperação contribuem para a rápida adaptação do setor ao novo normal, com a prestação de serviços ainda mais eficazes aos cooperados.
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