Estimular um propósito de vida e deixar o paternalismo de lado são algumas dicas para promover o bem-estar dos idosos
Nascer, crescer, envelhecer e morrer. Esse é ciclo natural da vida. A sociedade, no entanto, ainda vê a velhice como sinônimo de incapacidade. Mas não precisa ser assim. Para pensar e discutir a maturidade ativa, com qualidade de vida, a Gestão Corporativa e Soluções em Saúde da Unimed Paraná promoveu um webinar com o médico Rubens de Fraga Junior, especialista em geriatria e gerontologia e professor da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná. Durante o bate-papo, ele falou sobre autonomia, inclusão digital, luto e outros temas que influenciam diretamente na promoção da longevidade saudável. Confira!
Medo da velhice
Segundo o médico, vivemos em uma sociedade que idolatra os ideais de juventude e tem medo de envelhecer. Um dos reflexos disso é a baixa quantidade de médicos especializados em cuidar dos idosos.
“São 2.200 geriatras no Brasil porque ninguém quer envelhecer”, afirmou Fraga. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um geriatra para cada mil idosos. No Brasil, considerando que são 32,9 milhões de pessoas acima de 60 anos, o déficit de profissionais ultrapassa os 30 mil.
Mudança CID
Um novo desdobramento na compreensão do envelhecimento que culminou em intenso debate é a inclusão do termo “velhice” como uma enfermidade na nova versão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID), que entra em vigor a partir de 2022.
“É um absurdo. Velhice é uma fase da vida, e não uma doença”, defendeu o professor, que enxerga a novidade como prejudicial. “Com o CID da velhice, os gestores de saúde não vão ter dados fidedignos para criar políticas públicas realmente efetivas”.
Envelhecimento saudável
Para envelhecer com saúde e qualidade de vida, o médico orientou que é preciso se perguntar “Qual é o seu ikigai?”. O termo em japonês diz respeito ao propósito de vida, aos motivos que te fazem sair da cama todos os dias. “Muitas vezes a gente precisa descobrir isso”, afirmou ele.
Além disso, para a saúde e o bem-estar, é preciso manter uma alimentação saudável, não fumar, não beber e praticar atividade física regularmente. “50 minutos de caminhada, cinco vezes por semana, com orientação médica, está ótimo”, recomendou.
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Para quem lida com idosos no dia a dia, a orientação é tratá-los como seres que têm direitos e autonomia. Uma boa alternativa é também motivá-los para planejar o futuro.
“A lição é: não sermos paternalistas e estimularmos o propósito de vida, que vai mudando ao longo da vida”, orientou o médico.
Inclusão Digital
A pandemia mudou a relação dos idosos com a tecnologia. Os encontros com amigos, familiares e até as consultas médicas passaram a ser feitas, em grande parte, por videochamadas.
“O idoso está aberto às novas tecnologias. Às vezes, eles têm dificuldade de aprender coisas intuitivas, mas aprendem. É preciso ter paciência”, falou o professor, defendendo a troca de conhecimentos e experiências com os jovens.
Depressão e luto
Bastante frequente em idosos, a depressão nessa faixa etária costuma resultar em abuso de álcool e no uso de remédios para dormir. Algumas medicações, no entanto, são bastante prejudiciais e devem ser evitadas.
Sobre o suicídio, o médico lembrou que é preciso questionar as pessoas sobre o assunto. Ao contrário do que se pensava há alguns anos, perguntar não é uma forma de incentivar o ato, mas sim de preveni-lo.
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Quanto ao luto, o médico explicou que ele é uma experiência única e individual que merece ser respeitada. No entanto, é preciso ficar atento para não confundir luto com depressão. A recomendação é buscar ajuda médica se as atividades diárias estiverem comprometidas após três ou seis meses.
A prática da geriatria
Como explicou Fraga, o geriatra é o profissional da medicina especializado em cuidar de pacientes idosos. Seu foco de atuação pode ser explicado com base no conceito dos “5 Ms” da médica americana Mary Tinetti.
O primeiro “m” é o “matter most” – o que mais importa. Ou seja, o que mais incomoda o paciente, seus principais desejos e objetivos relacionados à saúde. O segundo “m” é a mobilidade. Afinal, nessa fase da vida, é comum a ocorrência de quedas, a dificuldade de locomoção e equilíbrio. O próximo “m” vem de multicomplexidade, pois os idosos costumam enfrentar muitas doenças ao mesmo tempo. O quarto “m” é a mente, com atenção especial para questões de humor, cognição e depressão. Por fim, o quinto “m” se refere à medicação. “Medicação tem que ter hora para entrar e para sair. E se for de uso contínuo, precisa de monitoramento”, afirmou Fraga.