Crescimento dos números de TEA preocupa especialistas e demanda capacitação de mais profissionais da saúde
Inicialmente classificado como uma doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda em 1993, o autismo é, na realidade, um distúrbio do neurodesenvolvimento, chamado atualmente de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Infelizmente, no Brasil, não há dados consolidados sobre a prevalência do TEA, mas estima-se que mais de 2 milhões de brasileiros convivem com o transtorno em diferentes graus.
O aumento expressivo na prevalência do TEA, contudo, tem chamado a atenção de médicos e autoridades. Dados do órgão americano CDC (Center of Diseases Control and Prevention) mostram que os números no mundo saltaram de 1 caso entre 125 crianças, em 2008, para 1 em 44, no final de 2021. Hoje, especula-se que a relação seja de 1 para 30. O professor universitário Renato Coelho, pediatra especialista em desenvolvimento e comportamento, comentou o assunto em uma das reuniões do Conselho Federativo da Unimed Paraná de 2022, e pontuou que pode haver um “exagero de diagnóstico”. Ou seja, nem toda criança que tem atraso no desenvolvimento é autista. Por outro lado, existem mecanismos que ajudaram a diagnosticar melhor essas pessoas, além de, infelizmente, a nossa vida contemporânea, com excessos de telas e deficiência nas interações sociais, propiciar alguns gatilhos.
O diagnóstico do TEA é clínico, feito com base na observação do comportamento do paciente e de acordo com uma série de critérios. Os sintomas, muitas vezes semelhantes aos de outros transtornos, devem ser avaliados em conjunto e com cautela, de forma a garantir que o cérebro do paciente realmente funciona dentro do espectro autista, trazendo prejuízos para a sua vida. “Nem tudo é TEA. E ele facilmente pode ser confundido com outros transtornos, como o de linguagem (TEL), doenças pervasivas do desenvolvimento (DPD) e transtorno global do desenvolvimento (TGD)”, ressaltou Coelho.
No entanto, vale destacar que, quanto mais cedo o diagnóstico, melhor é o prognóstico. Atualmente, já é possível perceber os sinais nos primeiros meses de vida e fechar o diagnóstico por volta dos dois ou três anos de idade. Isso possibilita também intervenções precoces, o que pode trazer melhores resultados, ajudando o indivíduo a ter uma vida adulta bastante funcional.
Terapias Especiais
O tratamento do TEA é baseado nos sintomas e comportamento, e inclui terapias e apoio farmacológico. A alta intensidade das terapias significam cerca de 10 horas semanais. Mais que isso, a não ser os 15% dos casos extremamente graves, corre o risco de ser mais improdutivo que produtivo. De acordo com Coelho, o tratamento precisa ser individualizado, ter participação da família e causar impacto na dinâmica familiar, além de tratar comorbidades. Por isso, inclui uma equipe multidisciplinar: um médico, um fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional.
Há, também, muitas ferramentas e metodologias que ajudam na triagem e no cuidado, como a ADOS- teste de avaliação – padrão ouro (Autistic Diagnostic Observation Schedule), M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers), ABA (Applied Behavior Analysis – terapia baseada na ciência do aprendizado e comportamento, e TEACCH (Structure Teaching) – baseado na necessidade básica do aprendizado de pessoas com TEA.
No entanto, conforme citado anteriormente, o grande aumento no número de casos de autismo acende um alerta também para a disponibilidade de tratamento. Isso, pois, o número de profissionais habilitados para a realização das Terapias Especiais é limitado, e não supre integralmente a necessidade dos pacientes. Dessa maneira, a preocupação com a oferta de tratamento adequado também tem crescido, e envolve amplas discussões tanto no setor privado, como no público.
Para mitigar esses e outros problemas, a Unimed Paraná está conduzindo um projeto de apoio às Singulares do estado para criar um serviço e estruturar uma rede de atendimento, além de promover a formação de novos profissionais para atender a alta demanda de casos. “O projeto foi organizado pois, assim como toda a rede de Saúde Suplementar, o Sistema Unimed também enfrenta diversos desafios advindos de novas legislações sobre o tema e do aumento de diagnósticos com necessidade de terapias especiais pediátricas, além das necessidades em sintonizar a prestação do serviço e ampliar o apoio às Singulares, nesse sentido”, explica Marcelo Amaro, coordenador da área de Programas de Gestão em Saúde.
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Entre outras ações, o projeto visa padronizar o processo operacional e atender a demanda e capacitação profissional para análise técnica e atendimento. “Também haverá instrução de pais e familiares sobre as condições de saúde com necessidades de terapias especiais. de forma que eles tenham conhecimento e possam participar ativamente do tratamento.
SÃO SINAIS DE ALERTA PRECOCES
- Não olha para a mãe durante a amamentação
- Irritabilidade frequente Aversão por barulhos
- Prefere ficar sozinho no berço
- Não “responde” ao próprio nome aos 12 meses
- Não olha para o que os pais apontam aos 12 meses
- Não aponta objetos aos 14 meses
- Interessa-se por partes específicas de um brinquedo (as rodinhas, por exemplo)
- Gosta de enfileirar
- Evita contato ocular
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