Hiperconectados, pacientes trazem nova perspectiva para o atendimento mu00e9dico e novidades exigem jogo de cintura profissional
Pela tecla do computador ou no deslizar do touch do celular, o indivu00edduo tornou-se mais do que nunca, protagonista de sua histu00f3ria. Seja na atualizau00e7u00e3o do status na rede social, na busca ru00e1pida no navegador sobre qualquer motivau00e7u00e3o, ou no aplicativo que lembra qual horu00e1rio e qual remu00e9dio deve tomar. A tecnologia deixou de ser um artefato para se tornar uma extensu00e3o do pru00f3prio corpo. Nu00e3o seria exagero dizer que somos praticamente ciborgues.
Nesse cenu00e1rio, vu00e3o surgindo exemplos de que a u00e1rea da sau00fade estu00e1 mudando simultaneamente. Na Inglaterra, por exemplo, a Inteligu00eancia Artificial (IA) auxiliou na criau00e7u00e3o do Babylon Health. O aplicativo possui um sistema treinado capaz de sugerir possu00edveis diagnu00f3sticos e indicar se u00e9 ou nu00e3o necessu00e1rio buscar uma opiniu00e3o (humana) especializada. Isso u00e9 possu00edvel por meio de uma simples busca do usuu00e1rio utilizando o smartphone.
Embora seja uma realidade, ainda hu00e1 muita controvu00e9rsia entre os especialistas sobre essa autonomia. Nos Estados Unidos, por exemplo, a agu00eancia que regulamenta alimentos e medicamentos no pau00eds (FDA- Food and Drug Administration, agu00eancia federal do Departamento de Sau00fade e Serviu00e7os Humanos dos Estados Unidos), recentemente, liberou o uso do Natural Cycles, aplicativo sueco que diz prevenir a gravidez, ou seja, seria equivalente ao anticoncepcional, poru00e9m, digital. Em 2017, o app sueco ju00e1 havia sido aprovado como u201cdispositivo mu00e9dicou201d pela Uniu00e3o Europeia. Ainda assim, em termos de efetividade, o produto u00e9 questionado.
No Brasil, de acordo com informau00e7u00f5es da Agu00eancia Brasil, o aplicativo desenvolvido pelo Ministu00e9rio da Sau00fade, o DigiSUS, ju00e1 foi baixado por 1,2 milhu00e3o de pessoas e estu00e1 hu00e1 tru00eas anos em funcionamento. Por meio da ferramenta, o usuu00e1rio pode acompanhar suas consultas, visualizar o histu00f3rico de solicitau00e7u00f5es e a posiu00e7u00e3o na fila do Sistema Nacional de Transplantes, entre outras funcionalidades relacionadas u00e0 sau00fade pu00fablica.
O app tambu00e9m permite que os pacientes do SUS atuem como fiscais dos serviu00e7os prestados por meio da avaliau00e7u00e3o do atendimento realizado, assim como denunciar fraudes de qualquer local do pau00eds.
Atendimento alu00e9m da receita
Segundo uma pesquisa encomendada pela seguradora Bupa ao Instituto Ipsos e u00e0 London School of Economics, oito em cada dez brasileiros usam a internet para buscar informau00e7u00f5es sobre sua sau00fade, seja para pesquisar sobre mu00e9dicos, hospitais ou medicamentos. Ou seja, nu00e3o hu00e1 como negar que essa realidade acompanha os profissionais na u00e1rea.
Conforme avalia Donizetti Giamberardino Filho, membro do Conselho Federal de Medicina (CFM) pelo Paranu00e1, o papel dos mu00e9dicos e mu00e9dicas seru00e1 cada vez mais uma busca pelo equilu00edbrio entre as autonomias. u201cFicou no su00e9culo passado o papel do mu00e9dico paternalista. Com aquele discurso de que u2018eu sei o que u00e9 melhor para vocu00ea. Toma esse remu00e9diou2019. O mu00e9dico de hoje precisa respeitar a autonomia do paciente e, nesse sentido, informu00e1-lo, adequadamente, as opu00e7u00f5es disponu00edveis para tratamento, por exemplo, para que ele possa escolheru201d.
Com o pru00e9vio conhecimento que u00e9 apresentado pelo paciente – e este u00e9 um caminho sem volta – o profissional de hoje precisa estar preparado, para fornecer todas as informau00e7u00f5es pertinentes. u201cu00c9 uma questu00e3o social e o mu00e9dico precisa ser tolerante aos questionamentos e estar bem treinado para atender essa demanda. Entre os seus mu00faltiplos deveres, u00e9 fundamental que procure sempre estar bem informado. Seu papel u00e9 deixar claro qual u00e9 a sua percepu00e7u00e3o sobre o problema, de modo a levar informau00e7u00e3o ao pacienteu201d, observa Giamberardino Filho.
Na contramu00e3o do ciborgue informado e independente, hu00e1 tambu00e9m o anseio do diu00e1logo, ou seja, de uma avaliau00e7u00e3o conjunta a partir do que se sabe preliminarmente junto ao diagnu00f3stico realizado pelo mu00e9dico. u201cO profissional nu00e3o pode perder o valor da relau00e7u00e3o com o paciente e tem que saber usar as ferramentas tecnolu00f3gicas tambu00e9m. O mu00e9dico atual precisa ouvir com empatia e estabelecer uma situau00e7u00e3o de confianu00e7a ao lado da tecnologiau201d, destaca.
O ponto de alerta u00e9 somente para nu00e3o transformar esse relacionamento em uma zona mercantil, na qual, impulsionado por uma sociedade de consumo, o paciente conduza qual seru00e1 o tratamento.
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