Cenário futuro da saúde suplementar

saúde suplementar
(Foto: Divulgação/Unimed Paraná)

O debate entre Omar Abujamra Junior, presidente da Unimed do Brasil, José Cechin, superintendente Executivo do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar), e Vera Valente, diretora-executiva da Fenasaúde, mediado por Paulo Roberto Fernandes Faria, presidente da Unimed Paraná, encerrou a programação técnica do Suespar, na palestra magna Saúde Suplementar: cenário futuro.

Cechin iniciou o debate com um apanhado da história recente da saúde suplementar. Ele lembrou que a área passou por grandes transformações, incluindo a redução do número de operadoras em atuação, com fusões e aquisições, e a formação de grandes redes de medicina diagnóstica e hospitais se destacando nos últimos anos. Para além disso, a verticalização de operadoras e o surgimento de healthtechs marcaram o cenário, seguindo um ritmo acelerado de inovações.

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Vera Valente também apresentou a grandiosidade do setor, destacando que os planos de saúde são responsáveis pelo atendimento de 50,6 milhões de brasileiros, o equivalente à população de um país como a Espanha. “Um em cada quatro brasileiros é coberto pela saúde suplementar. O setor responde pela geração de 4,7 milhões de empregos. Existem atualmente 679 operadoras médicas no país. Mais da metade são empresas de pequeno porte. Em 2022, os planos de saúde proporcionaram a realização de 1,8 bilhão de procedimentos de saúde, entre consultas, exames, internações, terapias e cirurgias, para seus beneficiários.”

Entretanto, apesar de todos esses números e das inovações pelas quais o setor tem passado, sua sustentabilidade se vê em risco. Isso porque o alto faturamento, decorrente desses números, não é sinônimo de lucratividade. Fatores como o aumento de usuários com ticket mais baixo preocupam especialistas, evidenciando o risco de inviabilização à assistência proporcionada pelas operadoras de saúde. Desafios diversos se somam em uma grande lista, que inclui custos crescentes, fraudes, insegurança no marco regulatório, aumento da judicialização, rol dinâmico e prejuízo operacional, além da mudança no perfil etário da população, resultando em obstáculos ao pacto intergeracional e ao próprio modelo assistencial.

Agravando ainda mais esse cenário, Cechin chamou atenção às contas do governo, mal equacionadas, e à inflação mundial renitente. Em quadros como esse, Vera citou a importância da união do setor, com a missão de conscientizar o Legislativo e o Judiciário acerca do impacto de leis e decisões que podem comprometer a assistência proporcionada pela saúde privada, com consequências também ao serviço público.

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Quanto a sociedade consegue pagar para financiar a saúde?

Nesse sentido, surgem questionamentos relativos ao quanto a sociedade consegue pagar para financiar a saúde, com custos em forma de impostos ou mensalidades recaindo sobre o cidadão. Com esse cenário em vista, Vera aponta caminhos que têm sido cogitados pela Fenasaúde como tentativa de suavizar os diversos obstáculos ao setor, como a possibilidade de novos planos com coberturas assistenciais mais flexíveis, ou seja, diferenciadas e com distintas abrangências; ampliação da oferta de planos com coparticipação e franquia, permitindo a livre negociação na coparticipação; novas regras para planos individuais, como a adoção, por exemplo, de regras de reajuste baseadas na variação dos custos assistenciais da própria operadora, mediante auditoria independente e com total transparência; novo marco legal de incorporação de novas tecnologias, com reforço da competência da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) no processo de atualização do rol de procedimentos e eventos em saúde; ampla liberdade de contratação, substituição, redimensionamento e precificação nas relações entre operadoras de saúde suplementar e prestadores de serviços.

Vera também realçou a importância de se discutir o desperdício, citando a campanha da Fenasaúde sobre fraudes no setor, que aborda reembolsos indevidos, falsidade ideológica, empréstimos de carteirinha do plano a terceiros, declarações falsas, entre outros. “O Brasil é um país pobre, não podemos nos dar ao luxo de ter custos relacionados a fraudes, e nós estamos falando em valor em saúde, é o paciente no centro do cuidado. O que inclui tornar os resultados transparentes dos desfechos desses tratamentos, métodos diferentes de pagamentos, modelos de remuneração valorizando esse resultado do desfecho. Temos muito o que fazer, mas eu sou otimista. A gente está em um momento crítico e temos de discutir verdadeiramente com a sociedade essa coexistência no Brasil dos sistemas público e privado. E é preciso que o Executivo e o Judiciário compreendam esses contextos”, salientou.

Assim como Cechin e Vera, Abujamra também fez uma breve contextualização do setor. Em seguida, ele falou da relevância do Sistema Unimed como produtor de saúde no Brasil e como os recursos assistenciais se distribuem no decorrer da cadeia de serviços, das principais iniciativas de relacionamento institucional e governamental da Unimed do Brasil na defesa do segmento de saúde e do cooperativismo médico brasileiro, e dos avanços no Plano Diretor de Tecnologia da Informação (PDTI).

A solidez do modelo cooperativista também foi tópico abordado por Abujamra incluindo o bônus da capilaridade versus necessidade de escala e eficiência operacional; o modelo próprio de consolidação e reorganização sistêmica; a governança sistêmica efetiva por área de atualização, formas de comercialização e monitoramento econômico; a participação e o engajamento do cooperado; e a atratividade e percepção de valor na cooperação.

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