Afetamos e somos afetados, cotidianamente, uns pelos outros, por meio de nossas emoções. A qualidade delas implica também felicidade ou ausência dela, como explica o autor de “O Jeito Harvard de ser Feliz”.
Sabe aquela história de que pensamentos e atitudes positivas atraem situações positivas, da mesma forma que pensamentos e atitudes negativas geram resultados e situações negativas? Pois, a ciência descobriu que é, sim, verdade. O livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz”, publicado no Brasil, em 2012, pela Benvira, traz algumas explicações de como isso acontece, reforçando algumas ideias já desenhadas por algumas religiões e também gurus de positividades e derrubando também alguns outros mitos.
Entre eles a ideia de que é o sucesso que traz a felicidade. Pesquisas e inúmeros experimentos comprovam que é justamente o contrário, é preciso ser feliz para ter sucesso! Isso, entre outras coisas, porque nosso cérebro é configurado para apresentar o melhor desempenho, quando está positivo. E não o contrário.
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Apesar de o lançamento não ser recente, o livro é extremamente atual. Ele traz as últimas descobertas da neurociência, sobre o nosso cérebro, principalmente, no quesito bem-estar e felicidade, que incluem o reconhecimento de que os relacionamentos sociais constituem a garantia de maior bem-estar e menor estresse, atuando tanto como antídoto para a depressão quanto como um impulsionador de alto desempenho. Nas palavras do próprio autor do livro, Shawn Achor, um dos mais populares palestrantes do TED (Technology, Entertainment, Design).
O livro é baseado em um curso superconcorrido ministrado em Harvard, além de várias pesquisas conduzidas sobre a temática, tanto naquela Universidade como em outros centros do mundo. O ponto alto do livro é a definição de 7 princípios ou padrões que o autor busca passar, considerados bastante específicos, funcionais e comprovadamente de sucesso.
Caminho
Os pontos são: o benefício da felicidade, ponto de apoio e alavanca, efeito tetris, oportunidades nas adversidades, o círculo do zorro, a regra dos 20 segundos e o investimento social.
O primeiro princípio, o benefício da felicidade, mostra o quanto é importante treinar o cérebro para capitalizar a atitude positiva, melhorando tudo à nossa volta, inclusive, a nossa produtividade e o desempenho. O segundo princípio mostra como é possível ajustar nossa atitude mental, que é o nosso ponto de apoio, para nos dar o poder, nossa alavanca, de atingir a realização e o sucesso nas coisas que desejamos.
O princípio terceiro, o efeito tetris, mostra o quanto o padrão que foca no estresse e na negatividade leva ao insucesso. E é isso que nos condiciona ao fracasso. Porém, é possível retreinar o cérebro de forma que ele possa perceber as oportunidades que sempre estão pelo caminho.
Isso nos leva ao quarto princípio que é a capacidade de enxergar oportunidades nas adversidades. Parece balela, mas não é. O cérebro tem a capacidade de mapear diferentes caminhos para nos ajudar a sobreviver às adversidades. O caminho mental é uma chave importante, ele redunda ou se oriunda em sentimentos e se materializa em ações. Porém, como realizar algo sem atitude e emoção condizentes com o que se deseja?
O círculo do Zorro é o princípio do passo pequeno, mas firme. Quando estamos em dificuldade e nos sentimentos sobrecarregados, nosso cérebro pode ser dominado pelas emoções. Podemos retomar o controle nos concentrando em pequenas ações, pequenas atitudes. Uma por vez até irmos ampliando nosso círculo, de acordo com o que desejamos e necessitamos.
O sexto princípio mostra o quanto é possível, por meio de pequenos ajustes, redirecionar o padrão que Achor chama de menor resistência e substituir maus hábitos por hábitos bons. Achamos que precisamos investir em força de vontade, mas na verdade a força de vontade (de todos nós) é limitada. A regra dos 20 segundos permite ir recondicionando o nosso cérebro aos poucos. Dificultando situações para evitar hábitos que queremos perder, como deixar o controle remoto da TV distante, para evitar ficar longas horas no sofá; e facilitando outras, como dormir praticamente pronto para a caminhada do dia seguinte, para ajudar hábitos que pretendemos adquirir.
Por último, o investimento social é o princípio considerado um dos preditores de sucesso e excelência. Um dos estudos psicológicos mais longos de todos os tempos, um dos citados neste livro, o estudo dos Homens de Harvard, comprova essa ideia. Iniciado nos anos 1930, o estudo dura até hoje. No começo, foram 268 homens acompanhados desde sua entrada na Universidade. 70 anos de evidências depois permitem afirmar que os relacionamentos entre as pessoas importam muito e importam mais que o resto. Nos recuperamos mais rapidamente dos contratempos, realizamos mais e temos um maior senso de propósito, quando nos relacionamos com um parceiro na vida, parentes, amigos, colegas. E com isso multiplicamos nossos recursos emocionais, intelectuais e físicos.
A tal felicidade do “O Jeito Harvard de Ser Feliz”
O livro “O Jeito Harvard de Ser Feliz” merece ser lido e relido porque aponta um universo de coisas que definitivamente nos mostra o quanto a felicidade é aqui e agora e pode, sim, ser alcançada. Depende em grande parte de nós mesmos. Muitas das coisas ali, talvez, até já saibamos. Outras intuímos, como a convicção do Dalai Lama, já nos anos 1970, de que a força do pensamento poderia levar a mudanças nas nossas estruturas cerebrais. Entretanto, o livro mostra experiências que comprovam essas percepções e apontam caminhos para esse encontro com a tal felicidade.
Você vai se surpreender com cinco pontos cruciais:
- A felicidade leva ao sucesso em praticamente todos os âmbitos, inclusive no trabalho, saúde, amizade, sociabilidade, criatividade e energia. Ser feliz é perceber que podemos mudar em vários aspectos de nossa vida e que, nesse sentido, temos mais controle do que imaginamos ser capazes.
- A crença de que somos apenas nossos genes é um dos mitos mais perniciosos da cultura moderna. É errado pensar que o nosso potencial é apenas biologicamente determinado e que é inútil tentar mudá-lo. A neuroplasticidade é um fato: nosso cérebro é maleável e pode mudar ao longo da vida.
- A felicidade tem um propósito evolucionário e nos proporciona vantagem química concreta. Emoções negativas restringem nossas ações (medo e estresse, por exemplo, nos convidam a lutar ou fugir). As emoções positivas expandem o número de possibilidades que processamos, fazendo sermos mais ponderados, criativos e abertos a novas ideias.
- Propulsores de felicidade podem ajudar você quando está em uma vibe ruim e não consegue enxergar oportunidades. Ouvir uma canção bonita, conversar com um amigo, jogar algo que goste, como basquete, por exemplo, fazer carinho em um animal de estimação, assim como meditar, programar um passeio ou viagem, adotar gestos conscientes de bondade, injetar positividade no ambiente, exercitar-se, gastar dinheiro com experiências (não em coisas) e exercitar um dos nossos pontos fortes nos ajudam na prática da felicidade.
- A felicidade não é uma questão de mentir para nós mesmos ou tentar tampar o sol com a peneira, mas ajustar o nosso cérebro para enxergar maneiras de nos elevar acima de nossas circunstâncias. Não é o peso do mundo que define o que podemos realizar. São o nosso ponto de apoio (atitude mental) e a nossa alavanca (o nosso poder) que nos ajudam a definir o que podemos ou não.
O livro vale, também, para confirmarmos algo que muitos de nós já intuíam: felicidade atrai felicidade. Um lembrete importante, especialmente, para líderes, segundo Achor: pessoas felizes instigam os ambientes a serem felizes também. Pessoas mal-humoradas contaminam o ambiente e espalham o mau humor. O efeito propagador das emoções é explicado pela característica de espelhamento de nossos neurônios. Por isso, um sorriso é tão contagiante.
A amígdala é capaz de perceber e identificar uma emoção no rosto de alguém em 33 milissegundos e rapidamente nos prepara para sentir o mesmo. Além desse processo subconsciente, segundo Achor, também avaliamos conscientemente o estado de espírito das pessoas que nos cercam e agimos de acordo.
Por isso a “emoção coletiva” do ambiente de uma empresa ou de uma casa é tão impactante. O “tom afetivo do grupo” com o tempo cria “normas emocionais” e isso afeta a todos. E se pensarmos que cada pessoa é capaz de impactar direta e indiretamente cerca de mil outras pessoas, imaginem o quanto somos responsáveis pelas emoções que propagamos! O quanto afetamos e somos afetados uns pelos outros nos traz responsabilidades éticas mais do que temos consciência. Portanto, procure ser feliz e … contagie!