O Brasil atingiu o segundo maior número de cirurgias bariátricas no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, posição que ocupa até hoje, conforme a Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO). O país tem hoje mais de 51% de sua população com sobrepeso e obesidade, e estima-se que quatro milhões e meio de brasileiros têm indicação formal para cirurgia bariátrica. Ao todo, são realizadas entre 90 e 95 mil cirurgias por ano.
Leia também: Dietas milagrosas: é seguro emagrecer sem acompanhamento profissional?
Entre os tipos de cirurgias, as duas mais utilizadas são o Bypass Gástrico, que envolve uma redução do estômago de cerca de 85% associada com derivação intestinal, de modo a deixar o intestino de um a dois metros mais curto, e a Gastrectomia Vertical, que resulta em um estômago com um terço de seu tamanho original, sem nenhum procedimento intestinal. Cada uma delas apresenta um padrão de indicação específica, sendo a escolha final dependente da opinião de cirurgião, equipe multidisciplinar e paciente.
Indicação para cirurgia e adaptação
A endocrinologista Ana Carolina Ossowsky Rebolho explica que, para decidir sobre a realização do procedimento, é levado em conta o Índice de Massa Corpórea (IMC). São enquadrados como indicação formal os resultados acima de 40, ou acima de 35 com comorbidades com pelo menos duas doenças associadas à obesidade, como por exemplo diabete, pressão alta, colesterol alto ou problemas nas articulações. Além dessa indicação clínica feita pelo cálculo, é realizada uma avaliação pré-operatória. Também são exigidas uma série de exames, além de avaliações com nutricionista, psicólogo, endocrinologista e cardiologista, que compõem uma equipe multidisciplinar.
O primeiro ano após a cirurgia é essencial na adaptação e reeducação alimentar. Nessa fase, também é importante a reposição e suplementação vitamínica para diminuir a queda de cabelo, diarreia e vômito, entre outros. Isso para evitar a desnutrição e ajudar nos cuidados com a pele, no auxílio contra o ressecamento e a flacidez. É fundamental, ainda, dar início a atividades físicas. “Caso não aconteçam essa motivação e mudança já no primeiro ano, dificilmente o paciente obterá os resultados esperados”, pontua Ana Carolina.
Desafios que surgem durante o pré-operatório
Os maiores desafios para quem realiza a cirurgia bariátrica começam já na mudança exigida no pré-operatório. De acordo com a nutricionista especializada em cirurgia bariátrica, Magda Rosa Ramos da Cruz, muitos pacientes relutam em seguir as orientações indicadas pelos profissionais envolvidos no processo. “É importante que o paciente entenda que não é a cirurgia que irá fazer emagrecer, e sim, o novo estilo de vida e reeducação alimentar”, conta.
A nutricionista explica que na primeira etapa do pré-operatório, em que são realizadas consultas para a avaliação do paciente, é possível detectar alterações que podem comprometer a cirurgia. Nesta fase, o psicólogo pode perceber a necessidade de medicação e encaminhar para o psiquiatra; ou o cardiologista pode detectar alterações no exame e encaminhar para um pneumologista, por exemplo. “Também é possível antever se no pós-operatório o paciente terá condições psicológicas de seguir a dieta da forma correta, para evitar ganho de peso novamente”.
Mudança de comportamento em relação à comida é essencial
De acordo com Magda, alguns pacientes não organizam o dia a dia para uma vida mais saudável por falta de conhecimentos técnicos, assim como grande parcela desconta problemas psicológicos na alimentação. “Por isso, é muito importante o papel da psicologia em detectar gatilhos que fazem o paciente compensar na comida”, diz. Isso poderá ajudar a administrar as orientações da nutricionista e ele irá aprender a mudar o comportamento.
Outro desafio que quem opta pela cirurgia bariátrica deve lidar é em relação à dieta líquida e pastosa. A operação diminui a fome, pois reduz a produção de grelina no organismo, mas não diminui a vontade de comer, pois não é apenas fisiológico, é também psicológico. A tendência de pacientes não preparados é de logo após o período de cicatrização, que leva em torno de três meses, começar a comer errado e em longo prazo perder todo o processo.
Benefícios promovidos pela cirurgia bariátrica
Para a nutricionista, não é necessário que uma pessoa esteja em seu IMC ideal, mas sim, ter disposição. Não precisar usar medicamento, ter facilidade na mobilidade, conseguir descansar já são vantagens que a cirurgia pode beneficiar. Estudos mostram que o salto na qualidade de vida após a cirurgia na vida do obeso grave, entre eles a maior mobilidade para andar e fazer exercícios físicos, diminuição ou anulação do ronco, mais qualidade no sono, melhor aproveitamento do dia e redução de doenças.
É o exemplo da pedagoga Sandra Mara Lucas, que fez a cirurgia bariátrica há oito anos e hoje tem mais saúde e bem-estar. “Hoje consigo pedalar num grupo de ciclistas, tenho hábitos alimentares saudáveis, qualidade no sono e 50 quilos a menos na balança. É outra realidade, sem sedentarismo, sem medicamentos controlados, sem comorbidades, apenas vitaminas complementares”, diz.