Se você já se frustrou tentando emagrecer, seja bem-vindo ao clube. Consultar uma nutricionista, se matricular na academia ou adotar as famosas dietas milagrosas que permeiam as redes sociais são caminhos adotados por muitos — mas que ajudam poucos a atingir os resultados esperados.
Para falar sobre caminhos mais sustentáveis para a perda de peso, a Revista Ampla convidou a psicóloga especialista em Comportamento e Transtornos Alimentares Priscilla Leitner para um bate-papo. Ela é fundadora do Instituto de Pesquisa do Comportamento Alimentar de Curitiba (IPCAC), e se há algo que os anos de estudos e de prática clínica a ensinaram é que o jeito tradicional de emagrecer, apostando em dieta e atividade física, geralmente, não funciona — e outra abordagem é necessária.
Sono, estresse, abusos, dificuldade em reconhecer fome e saciedade, questões metabólicas — há uma série de fatores que influenciam o peso, e é necessário um olhar atento a eles. Quando o paciente só se mantém focado na alimentação e exercícios físicos, é muito comum que se sinta culpado, o que, em vez de ajudar no processo de emagrecimento, dificulta seu processo de autoconhecimento.
“Existe um desejo real das pessoas de fazer mudanças e estarem mais saudáveis, perderem peso, mas não é por falta de força de vontade.”
Confira a entrevista completa no YouTube ou no Spotify.
Não é falta de motivação!
Segundo Priscilla, o tipo de tratamento tradicional para perda de peso, que envolve dieta e atividade física, é um método ultrapassado e que aumenta as chances de um efeito sanfona — uma alternância entre perdas e ganhos de peso que, para algumas pessoas, pode ser uma variação pequena, e para outras, grande, de 25 kg a 30 kg. “Isso traz uma sobrecarga ao nosso sistema cardiovascular e uma série de complicações”, alerta.
Um olhar mais amplo é necessário: fatores como o sono, escolhas do dia a dia, relacionamentos, estresse, abusos, questões sensoriais e metabólicas influenciam o peso. Mas o foco restrito em alimentação e exercício sem resultados pode gerar culpa, com o paciente não olhando para o lugar certo. “Ele acha que ele que tem que se esforçar mais na próxima vez, mas a verdade é que existe um sofrimento grande nas pessoas porque elas querem perder peso e tem dificuldade em fazer esses movimentos.”
O grande problema das restrições
A restrição imposta por dietas pode funcionar por um tempo, mas frequentemente, resulta em exageros mais para a frente. “A própria tentativa de controle, às vezes quando a pessoa faz uma dieta uma ou duas vezes, funciona. Depois de um tempo, não vai mais funcionar, e isso é natural. Na primeira vez que uma pessoa perde peso, ela emagrece mais rápido do que na décima, porque o corpo também vai ficando resistente a esses movimentos malucos”, explica.
Esse cenário pode também contribuir para um comer emocional, quando a comida é usada para regular as emoções. Esse é o chamado comer emocional primário. Também existe o secundário, quando a falta de nutrição adequada ao longo do dia é somada ao estresse e cansaço, e o corpo pede por alimentos que são fontes de energia rápida: e é aí que entra o fast food, o doce e outros alimentos.
No trabalho clínico, métodos diversos são aplicados junto do paciente para ajudar o paciente a construir um estilo de vida mais equilibrado e saudável, e que contribua para que emagreça – se é o que deseja – ou mantenha seu peso.
Dicas de Priscilla Leitner para emagrecer de forma saudável
- Se conecte com o seu corpo e com o momento presente. Práticas de mindfulness podem ajudar nisso!
- Se distrair com séries, filmes e redes sociais pode ser ótimo, mas é diferente de descansar. Busque o descanso, estando se conectando com o seu corpo e com o mundo ao redor
- Busque ajuda profissional! Um psicólogo especialista em Comportamento Alimentar pode te dar maior clareza sobre os caminhos que funcionarão para a sua perda de peso, além de te acompanhar nessa jornada
Para ampliar a conversa
Um dos materiais indicados por Priscilla é o livro O peso das dietas, de Sophie Deram, que, a partir de estudos científicos, fala sobre o emagrecimento sustentável sem dietas restritivas.
Para além dele, há poucos materiais que olham para o comportamento alimentar considerando um contexto mais amplo do que dietas e exercícios físicos. Em busca de reverter esse quadro, ela lançará em breve o livro Método para a vida toda, que foca essa metodologia.