O cuidado com a iluminação no home office deve estar entre as prioridades para a manutenção do bem-estar
A flexibilização da jornada de trabalho já era uma realidade para a designer e estrategista de marca Vitória Kovaliu Stadnik, que desde 2015 adotava o home office. Ainda assim, a pandemia trouxe desafios na reconfiguração do ambiente para abarcar toda a família que ingressava nesse formato. “Desde o ano passado, minha irmã passou a ficar todos os dias em home office, e foi necessário nos distribuirmos pela casa. Comecei a trabalhar mais na sala, pois o meu quarto ficava bagunçado. Assim, pegava menos luz solar e meus hábitos foram mudando lentamente. Ainda decorrência das restrições de isolamento, com medo de sair de casa para correr, por exemplo, comecei a ficar mais tempo no computador e celular, dormir mais tarde e ter uma dificuldade absurda de acordar mais cedo”, compartilha.
Segundo o cronobiólogo e profissional de educação física Flávio Augustino Back, essa mudança comportamental é uma reação biológica do próprio organismo. Diversos estudos evidenciam as diferenças entre populações com ou sem energia elétrica, e quem tem luz disponível acaba dormindo e acordando mais tarde. “Se conseguimos ter um ambiente com mais luz natural, certamente isso vai favorecer a sincronização dos nossos ritmos circadianos com o dia e a noite. Isso, por si só, tende a gerar uma atitude mais matutina, o que vai trazer mais saúde”, comenta o cronobiólogo, complementando que o ser humano, por característica, é diurno e que atrasar os horários de sono está associado com maior chance de ser obeso e de desenvolver diversas doenças crônicas, entre elas diabetes, depressão, insônia.. Portanto, evitar dormir em horários tardios de forma habitual acaba sendo fundamental para a saúde.
Essa percepção na mudança da intensidade da luz de acordo com o período do dia, é uma resposta do nosso sistema nervoso. Ele explica que são grupos de neurônios que permitem reconhecer esses períodos, com o hormônio melatonina informando o tempo externo a todo o organismo pela corrente sanguínea. “A luz é um estímulo que evidencia a passagem do tempo pelo nosso sistema nervoso, sendo recebida de forma diferente no decorrer do dia. Então, se você estiver exposto à luz do dia logo pela manhã, será interpretado pelo sistema nervoso que deverá adiantar o seu ritmo. E em caso da presença de grande luminosidade no período da noite, a mensagem será para atrasar o seu ritmo, como se o dia ainda não estivesse acabando”, explica Back.
Com fotossensibilidade, a designer gráfico Isabela Pedroso sentiu a necessidade de reservar um espaço exclusivo para o trabalho, pensando em maior conforto no dia a dia. “Como sou fotossensível, dependendo da iluminação tenho dor de cabeça, enxaqueca e, quando é muito grave, fico até sem enxergar. Sempre sofri em escritório porque a galera deixava a luz ligada de dia. Hoje, geralmente opto por trabalhar com a janela bem aberta e luz natural, e quando vai escurecendo, eu ligo a luz amarela na minha mesa, que é mais fraquinha e me ajuda a enxergar as coisas”, relata.
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Além da questão da luminosidade, outro fator que agrava o cansaço ocular e mental no trabalho, ainda mais no cenário de home office, é a quantidade de horas passadas na frente do computador. Portanto, ao organizar a rotina, é cada vez mais necessário pensar na ergoftalmologia. De acordo com o relato da médica oftalmologista Heloísa Russ,, cooperada da Unimed Curitiba, atualmente 9 em cada 10 pacientes se queixam de cansaço visual pelo excesso do uso de telas. Há quadros de olho secos que pioraram devido a esse excesso de exposição às telas, diminuição do ritmo de piscar associada à radiação emitida pelos aparelhos. Na Ásia, já há pesquisas que mostram o aumento das taxas de progressão de miopia em crianças e adolescentes que estiveram em isolamento e sem contato com a luz solar.
“Embora seja comum, não é recomendado o uso de mais de uma tela para o trabalho, assim como passar muito tempo em frente a elas. Durante o expediente, o ideal é o computador estar alinhado na altura dos olhos, pois quando fica acima, você aumenta o diâmetro da fenda palpebral, resultando em aumento da exposição ocular e piorando os quadros de cansaço”, comenta a médica. A questão de múltiplas telas ainda está relacionada com casos de labirintite, bem como à piora dos quadros de enxaquecas, em decorrência do aumento do esforço visual.
Ajustando o ambiente
Em sua configuração do home office, a antropológa e fundadora da Bebotê, Mayra Sousa Resende, relata que acaba tendo dificuldades com a iluminação natural, então alterna sempre. “Acabo compensando a luz natural pela elétrica, no teto mesmo. Opções como ring lights e afins incomodam bastante os meus olhos. Quanto menos direta a mim for a luz, mais confortável para trabalhar”, relata.
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A fim de harmonizar e proporcionar um ambiente mais confortável, a arquiteta Letícia Bisol explica que, dependendo das possibilidades do ambiente, a iluminação deve ser adaptada conforme o período do dia. “A luz natural do ambiente sempre vai ser considerada a melhor opção. E quando trabalhamos com tela, é bom cuidar para a luz não refletir no aparelho”, orienta.
Então, com o passar do dia, é hora de acender as luzes. “Se possível, é legal trabalhar com duas luzes no ambiente: uma central e uma de apoio como abajur, arandela ou luminária. Utilizar uma lâmpada entre 3.000k e 4.000k (neutra), e mesclar com uma de 2.700k no abajur, por exemplo, que pode ser ligado quanto mais tarde for ficando, ao mesmo tempo em que vai apagando as neutras”, complementa a arquiteta, destacando que esses são aspectos fundamentais e diretamente relacionados com o bem-estar e a saúde.
Dicas para melhorar seu home office
• Posicionar a mesa lateralmente ou em frente a uma janela que receba iluminação natural
• Alternar o foco de concentração e deixar as telas por alguns minutos- Regra dos 20-20-20: a cada 20 minutos, observe um objeto à distância de 20 pés ou 6 m durante 20 segundos
• Optar por uma iluminação de tonalidade vermelha quando precisar trabalhar até mais tarde. Assim preserva a ativação mental, porém minimizando o prejuízo da produção de melatonina no organismo
• Trocar a iluminação com o passar do dia
• Desligar as telas uma hora antes de dormir e adaptar a iluminação na casa
• Cultivar plantas no ambiente do escritório e imagens de elementos decorativos que gosta, principalmente se não tiver luminosidade natural ou acesso fácil a uma janela
• Realizar pausas é sempre fundamental para aliviar a mente e o corpo
Escolha das luzes
• Cores quentes = luz mais amarelada (ideal para a noite)
• Cores neutras = contribuem para a produtividade do dia
• Cores frias = evitar no home office (e na residência como um todo), sendo indicadas para ambientes corporativos, indústrias e escolas
Orientações para adaptação do ambiente fornecidas pela arquiteta Letícia Bisol. Acompanhe outras dicas pelo Instagram @leticiabisol ou Facebook Letícia Eloisa Bisol – Arquitetura Transformadora